Grupo de pesquisas liderado pelo professor Leonardo Pinto apresenta dados de internações por pneumonia, bronquiolite e influenza
Em resposta à pandemia de Covid-19 foram adotadas medidas como o confinamento, distanciamento social, o uso de máscaras pela população e a higienização constante das mãos, incluindo o uso de álcool em gel. Essas intervenções tiveram impacto não só na transmissão do novo coronavírus (SARS-CoV-2), mas também em outras doenças de transmissão respiratória, como pneumonia, bronquiolite aguda, influenza e vírus sincicial respiratório (VSR).
Essa conclusão foi destacada em pesquisas realizadas pelo grupo liderado pelo decano da Escola de Medicina, Leonardo Araújo Pinto, durante a pandemia. O docente atua no Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da PUCRS e possui uma jornada reconhecida por diversas contribuições científicas nas especialidades ligadas a doenças respiratórias.
A pneumonia é uma forma de infecção respiratória aguda que é mais comumente causada por vírus ou bactérias, sendo responsável por 15% de todas as mortes de crianças menores de cinco anos em todo o mundo. Araújo Pinto explica que o momento em que as estratégias de contenção da pandemia de Covid-19 foram implementadas no Brasil coincide com o aumento já documentado de internações por pneumonia no mesmo período de anos anteriores.
O pesquisador desenvolveu o estudo Impacto das intervenções não farmacológicas de COVID-19 nas internações por pneumonia infantil no Brasil, para avaliar o impacto das medidas de contenção da pandemia nas internações por pneumonia em crianças de 0 a 14 anos no Brasil. Foram utilizados dados de internações por pneumonia do banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde no período de 2015 a 2020 e analisados por macrorregiões e faixas etária. Com isso, foram comparados os números de 2015 a 2019 com os números de 2020.
Os resultados apresentaram uma redução de 82% na incidência média de internações de crianças menores de quatro anos; 83% em crianças entre cinco e nove anos; 77% entre os 10 e 14 anos; e 82% para todas as crianças menores ou com 14 anos. Com isso, a pesquisa realizada pelo pesquisador Araújo Pinto, concluiu que as medidas aplicadas para o controle de Covid-19 resultaram na diminuição significativa dos casos de pneumonia de todas as causas em menores de 14 anos.
“Nossos resultados podem fornecer insights sobre maneiras pelas quais as medidas restritivas adotadas também podem ser aplicadas a outras doenças respiratórias”, concluiu o pesquisador.
A bronquiolite aguda está entre as principais doenças transmissíveis da infância e é a causa mais frequente de hospitalização em lactentes em todo o mundo. No Brasil, a doença representou aproximadamente 6% do total de internações em crianças com menos de um ano de idade durante o período de 2008 a 2015. O vírus sincicial respiratório (VSR) é o principal agente etiológico da bronquiolite aguda e apresenta alta transmissibilidade, principalmente nas estações de outono e inverno.
A pesquisa intitulada Impacto precoce do distanciamento social em resposta à doença do coronavírus nas internações por bronquiolite aguda em bebês no Brasil, também realizada pelo professor Araújo Pinto, utilizou dados das internações pela doença do Departamento de Informática da Base de Dados de Saúde Pública no Brasil para o período de 2016 a 2020.
Com a comparação ano a ano com os números de internação de 2020, foram obtidos os resultados de uma redução de 70% na hospitalização por bronquiolite aguda em crianças menores de um ano de idade no Brasil. De acordo com o decano, os dados sugerem um importante impacto do distanciamento social na redução da transmissão de vírus relacionados à bronquiolite aguda e que este conhecimento pode orientar estratégias de prevenção da disseminação viral. Os estudos tiveram importante colaboração do aluno de doutorado do PPG em Pediatria da PUCRS Frederico Friedrich e de estudantes de iniciação científica vinculados ao grupo.
Outro estudo com a colaboração dos professores Leonardo Pinto, Marcelo Scotta e Renato Stein buscou relatar a detecção de vírus sincicial respiratório (VSR) e influenza durante o período de distanciamento social devido à pandemia de Covid-19 durante o outono e inverno de 2020 em dois hospitais do Sul do Brasil. Foi realizada uma prospecção com adultos e crianças que buscaram atendimento nos hospitais por sintomas de Covid-19.
Foram realizados testes de RT-PCR para SARS-CoV-2, influenza A, influenza B e vírus sincicial respiratório (VSR) em mais de 1.400 participantes suspeitos de Covid-19 entre maio e agosto. Destes testes, 469 apresentaram resultados positivos para o SARS-CoV-2, enquanto influenza e VSR não foram detectados.
Com isso, Araújo Pinto explica que medidas para reduzir a transmissão do SARS-CoV-2 provavelmente exerceram um enorme impacto na redução da disseminação de patógenos respiratórios alternativos.
“Essa pesquisa contribui para o conhecimento sobre a dinâmica de propagação dos vírus. Além disso, pode ser considerada para orientar as escolhas preventivas e terapêuticas para redução do impacto dos vírus respiratórios”, completa.
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