Acadêmico da Escola de Medicina recebe menção honrosa do Prêmio Ivo Pitanguy

Alvaro Righi de Leonço foi premiado no concurso de Crônicas da Academia Nacional de Medicina - “A melhor história médica”

17/11/2021 - 15h10

O acadêmico da Escola de Medicina, Alvaro Righi de Leonço, recebeu a terceira menção honrosa do Prêmio Ivo Pitanguy no concurso de Crônicas da Academia Nacional de Medicina – “A melhor história médica”. Ele concorreu pela categoria de estudantes de medicina com a crônica chamada “A despedida do Cusco “. De acordo com o aluno, essa premiação representa uma validação pessoal. “É a validação da minha capacidade artística de expressar aquilo que consigo captar e compreender do mundo e, coletivamente, uma esperança de que alunos, inclusive do início do curso, também têm a possibilidade de participar e contribuir no meio médico. Tive a felicidade de ler a minha crônica diante da Academia e recebi um tocante comentário por parte de uma das acadêmicas, Alléxya Affonso”, diz.

O professor Ivan Antonello foi peça fundamental no incentivo e divulgação da premiação entre os seus alunos do grupo de mentoria. “Acho que o reconhecimento da Academia Nacional de Medicina ao texto de nosso aluno tem o mérito de trazer atenção para uma competência, por vezes negligenciada entre os profissionais de saúde, que é a capacidade de se expressar de forma clara e afetiva, através da fala ou da escrita. Isto na trajetória acadêmica enriquece o currículo pessoal, pois na maior parte de sua vida o médico necessitará bem comunicar-se com pacientes e colegas”, afirma.

Para desenvolver a crônica premiada, Alvaro teve um processo criativo um tanto inusitado: a ideia surgiu durante a prática de exercícios físicos. “Eu anotei no celular o a história inicial da crônica e deixei que as cenas que vivenciei relacionadas à empatia fossem se mesclando com a minha capacidade criativa de gerar novas histórias”, conta. A crônica “A despedida do Cusco”, trata de uma pessoa amargurada pela rotina extenuante de uma vida estressante que aproveitou a sorte de se reconectar com o lado humano e tocante das emoções para enfrentar um trauma, há muito tempo, suprimido.

Para o acadêmico, a arte tem o poder de mostrar um belo caminho de entender a verdade da realidade para que possamos avançar individualmente e coletivamente e que a medicina pode se enquadrar nessa mesma percepção. “A arte e a medicina estão muito próximas enquanto habilidade de transformar vidas e vejo como aspectos humanos complementares no quesito de trazer sentido, saúde e beleza para a vida humana”, finaliza.

Leia a crônica:

“Preso em um engarrafamento na capital turbulenta, deixou de olhar para o seu próprio umbigo e olhou para as gotas de chuva que escorriam na janela de sua camionete.

Do outro lado do vidro, percebeu um cachorro magro de pelo caramelo com uma cicatriz no focinho, idêntico em todos os detalhes com o seu cão de infância.

Em um instante de paralisia letárgica, transportou-se para o dia chuvoso de seu passado em que o seu companheiro canino havia fugido com tantas histórias a serem vividas.

Desceu do carro atônito e esperançoso com a ideia de ter reencontrado seu cachorro depois de tanto tempo.

Deixou a chave na ignição e, enquanto atravessava a avenida, ignorou os motoristas balbuciando para retornar ao carro ao se afastar dele.

Ao se aproximar do cão, mil e uma lembranças amoleceram seu coração com tantas cicatrizes dolorosas.

Com o mesmo jeito doce e grato, o cachorro aceitou o carinho feito atrás da orelha esquerda e começou a rolar sob o chão embarrado.

Quando estava prestes a proferir o nome de seu antigo bicho, um assovio despontou dos lábios de um sujeito maltrapilho que carregava um saco com sobras de churrasco.

O cachorro subitamente levantou-se e correu até a esquina de onde o seu dono surgiu.

Antes que dobrasse a esquina, o cão parou e olhou para trás para fitar os olhos daquele homem com um olhar tão esperançoso.

Por um breve instante sentiu-se como aquela criança que nunca pôde dizer adeus ao seu querido amigo.

Despediu-se de um trauma que saiu de seu campo de visão e deixou a chuva confundir-se com suas lágrimas de alívio”. (Alvaro Righi de Leonço)

 

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