Estudo usa hipergravidade para acelerar crescimento de eucaliptos

As sementes foram germinadas no laboratório de Farmácia Aeroespacial da PUCRS

07/05/2018 - 09h37
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Foto: Bruno Todeschini

De forma pioneira, a PUCRS e a CMPC Celulose Riograndense estudam o uso da tecnologia da hipergravidade para acelerar os processos de crescimento volumétrico e qualidade da madeira para celulose em Eucalyptus e Corymbia. As sementes das plantas foram expostas aos efeitos desse método simulado (nas escalas 3, 5 e 7G, durante o período de um a nove dias, de forma direta e intermitente) no laboratório de Farmácia Aeroespacial Joan Vernikos do Centro de Pesquisa em Microgravidade da PUCRS (MicroG). Atualmente, os materiais seminais estão sendo avaliados em experimentos de campo na área florestal da CMPC, localizada na região de Guaíba (RS). Essa tecnologia está protegida por patente concedida nos Estados Unidos, com o pedido pendente de análise no Brasil e na Europa.

Para a simulação de hipergravidade, as sementes foram acomodadas em papel de germinação umedecido, e então colocadas em um protótipo de centrífuga construída no MicroG. “As sementes foram avaliadas quanto a taxa de germinação, tamanho das raízes e da parte aérea. O grupo controle consistiu de sementes não submetidas aos tratamentos de hipergravidade, mas mantidas nas mesmas condições de umidade, temperatura e luminosidade”, explica a professora Marlise Araújo dos Santos, coordenadora do MicroG.

Ainda, segundo a coordenadora, ao comparar as sementes submetidas à hipergravidade simulada com as sementes do grupo controle, foi observado que a simulação desse método proporcionou um aumento no número de sementes germinadas, assim como um incremento no tamanho e no desenvolvimento das mesmas. “Pesquisas realizadas em outras espécies vegetais, no Centro, demonstraram que a hipergravidade simulada pode alterar qualitativamente e quantitativamente a produção dos óleos essenciais, cujos componentes possuem diversas atividades terapêuticas. A próxima etapa é investigar o comportamento genético de diferentes espécies vegetais frente a diferentes protocolos desse método simulado”, diz.

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Professor Leandro Astarita no Laboratório de Biotecnologia Vegetal
Foto: Bruno Todeschini

Na fase atual da pesquisa, as instituições estão investindo no desenvolvimento de um protótipo do equipamento para testes com materiais micropropagados. Essa nova fase de testes envolverá o Laboratório de Biotecnologia Vegetal da PUCRS, onde plantas cultivadas in vitro serão multiplicadas originando plantas-clone para os testes em hipergravidade. Segundo o coordenador do laboratório, professor Leandro Astarita, as plantas micropropagadas são mais suscetíveis a sofrerem modificações permanentes em seu desenvolvimento, permitindo uma avaliação mais precisa de alterações que levam a incrementos em materiais clonais conhecidos. “Possibilita identificar as mudanças e melhorias no crescimento, na qualidade da madeira e no produto final”, complementa.

Segundo Brígida Valente, pesquisadora da CMPC, com base nos resultados obtidos até o momento, é possível concluir que a hipergravidade apresenta potencial de aplicação em programas de melhoramento genético e deve ser cientificamente melhor entendida. “O uso de materiais clonais conhecidos possibilitará identificar claramente as alterações e melhorias no crescimento, na qualidade da madeira, e no produto final para o mercado de celulose”, comenta.

Diante deste cenário de várias possibilidades técnicas, esta é a proposta de sinergia entre PUCRS e CMPC, uma parceria para gerar inovação e criar valor de mercado. Desta maneira, é possível incrementar a competitividade do setor florestal e de celulose como um todo.

MicroG atinge resultados com hortaliças

A grande expectativa dessa parceria com a CMPC se deve aos resultados positivos obtidos em outros experimentos (em menor escala), realizados pelos pesquisadores do MicroG, como nos casos da salsa, da rúcula e do manjericão. No teste da simulação da hipergravidade com a salsa foi extraído quatro vezes mais safrol (óleo essencial utilizado na fabricação de inseticidas biodegradáveis, de cosméticos e produtos farmacêuticos) do que das plantas controle. Com relação a rúcula, um componente descrito na literatura científica como anticancerígeno correspondeu a aproximadamente 50% da composição do óleo essencial da planta. Já as sementes de manjericão submetidas à hipergravidade geraram 3,5 vezes mais flores.

“Sabemos que o eucalipto é uma planta superior e, possivelmente, não terá o mesmo comportamento que as hortaliças testadas. Por outro lado, a simulação vem gerando reações positivas nas plantas”, enfatiza a coordenadora do MicroG.


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