Lipovetsky e Giannetti debatem o impacto do consumo na sociedade

Filósofo francês e economista brasileiro participaram do Fronteiras do Pensamento

06/06/2017 - 13h46
Fronteiras do Pensamento

Foto: Luiz Munhoz

Que motivações levam as pessoas a consumir? Qual o impacto desse comportamento para as suas vidas e para a sociedade? Em um debate recheado de bons argumentos com o título Somos a civilização da leveza?, o filósofo francês Gilles Lipovetsky e o economista brasileiro Eduardo Giannetti trouxeram seus pontos de vista, por vezes antagônicos e, em outros momentos, complementares, sobre o ato de consumir e os seus paradoxos. A apresentação ocorreu na noite desta segunda-feira, 5 de junho, no Salão de Atos da UFRGS, na segunda conferência da temporada 2017 do Fronteiras do Pensamento, projeto que tem o apoio cultural da PUCRS.

Autor do livro Da leveza, Lipovetsky levou para o palco as reflexões tecidas nesta que é sua obra mais recente. De acordo como o filósofo, vivemos atualmente a era da “sociedade do hiperconsumo, na qual nossa existência está baseada cada vez mais numa perspectiva de troca, de mercadoria”. Entre os exemplos, citou que quando as pessoas desejam correr, vão para uma academia de ginástica, e se desejam conversar, dirigem-se ao psicanalista.

O hiperconsumo

Fronteiras do Pensamento

Foto: Luiz Munhoz

Por hiperconsumo, o pensador define a valorização extrema das coisas leves, ligeiras, do prazer imediato, do curto prazo. Para ele, isso se traduz nas novas tecnologias, nos aparelhos portáteis, nos carros velozes, no estilo de vida fitness. Em contraposição, apresenta como formas de peso o trabalho, o esforço e os sacrifícios necessários para tornar a vida ágil uma realidade. “Vivemos um paradoxo: quanto mais a sociedade vive a ligeireza, mais o cotidiano é pesado”, ressaltou.

Apesar das ameaças do consumo exagerado sobre o Planeta, Lipovetsky acredita que esse comportamento não irá mudar tão facilmente, e que é preciso ver o seu lado positivo, sem fazer uma “fuga para frente”. Ele aponta a educação como solução. “Temos a necessidade de mais cultura, de escolarização. Precisamos de uma nova paixão: o saber, a criação, a inovação. Assim, o consumo perderá sua importância, sendo um meio, e não um fim e si”, concluiu.

 

Encíclica do Papa

Fronteiras do Pensamento

Foto: Luiz Munhoz

Eduardo Giannetti conduziu sua fala a partir de uma encíclica do Papa Francisco, na qual o Sumo Pontífice afirma que “os desertos externos estão aumentando no mundo porque os desertos internos estão vastos”. O economista apresentou dados da Universidade de Cambridge que ilustram o quão nocivo tem sido para a humanidade, especialmente para os menos favorecidos economicamente, a lógica do consumo. Dos 7 bilhões de habitantes da Terra, 1 bilhão é responsável por produzir 50% dos gases que levam ao efeito estufa. Outros 3 bilhões produzem 45% desses gases, enquanto os últimos 3 bilhões, sem acesso a bens de consumo, produzem 5% e sofrem todas as consequências.

 

Corrida armamentista do consumo

Giannetti trouxe ao público sua teoria da corrida armamentista do consumo, num raciocínio paralelo com os países que se armam para prevenirem-se da guerra, quando na verdade a estimulam. “A partir de uma determinada renda, em que as necessidades básicas foram atendidas, as pessoas passam a pensar mais em sua posição relativa perante os demais. Por isso, buscam os chamados bens posicionais, algo do qual os outros estão desprovidos. Com isso, cria-se uma corrida sem fim para saciar uma escassez que nunca irá se esgotar”, explicou.

Como consequências, ele expôs resultados de pesquisas sobre perda da qualidade de vida, culminando em altos índices de suicídio, principalmente em países desenvolvidos, como os EUA, Alemanha e Inglaterra. No caso do Brasil, crê que “as culturas ameríndias e africanas mostram mais valor que a cultura anglo-saxã”.

Por fim, refletiu que valores tidos como mais importantes para o Ocidente, como a ciência, a tecnologia e o desenvolvimento econômico precisam ser revistos. “A economia não é o valor central da existência humana”, finalizou.

 

Civilização

A temporada 2017 do projeto Fronteiras do Pensamento tem como tema Civilização – a sociedade e seus valores. Com parceria cultural da PUCRS, o evento traz a Porto Alegre, até o mês de dezembro, conferencistas internacionalmente reconhecidos para abordar a busca por reconstrução, consciência e resgate de valores.

 

Parceria

Professores e técnicos administrativos da PUCRS e da Rede Marista têm direito a 50% de desconto no pacote de ingressos. Interessados podem adquirir neste link, após solicitar o código que habilita o desconto pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (51) 4020-2050. A aquisição das entradas pode ser feita neste link ou em um dos pontos de venda físicos, com apresentação do crachá. Estudantes têm direito a meia-entrada conforme legislação.

 

Alunos de Pós

Alunos de Pós-Graduação da PUCRS podem assistir a conferências da temporada 2017 do Fronteiras do Pensamento de forma gratuita. A Universidade, parceira cultural do projeto, oferece cortesias para cada um dos encontros àqueles que participarem das ações divulgadas no Facebook institucional. A próxima apresentação acontece no dia 28 de junho, e terá como palestrante escritor israelense Amós Oz. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS e tem início às 19h30min.


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