Comunicação Antirracista: formação aborda combate à discriminação 

Curso ministrado por pesquisadores da área debate processos históricos de racismo e promove reflexão sobre atuação profissional consciente 

11/08/2022 - 15h02
Comunicação Antirracista

Foto: Giordano Toldo

De acordo com dados do IBGE, pretos e pardos representam cerca de 54% da população brasileira, no entanto, a discriminação racial perdura como um problema histórico presente de forma estrutural no País. Um espaço de mediação das relações sociais, a comunicação, em muitos casos, tem sido parte desse processo, contribuindo para a manutenção de estereótipos discriminatórios. Um tema urgente e fundamental, a Comunicação Antirracista estimula o debate de processos históricos de racismo e promove reflexão sobre atuação profissional consciente.

“Uma comunicação antirracista é, em primeira análise, aquela que reconhece que vivemos em um país em que o racismo é presente na sociedade. Assim, combate-se a percepção estrutural de que muitos brasileiros não se entendem como racistas, por isso evitam problematizar esse tema. Sem reflexão, não há enfrentamento e o panorama de exclusão perdura”, pontua o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS Wagner Machado, que possui trajetória acadêmica de uma década na PUCRS. 

Ao lado do jornalista e professor Maikio Guimarães, o doutorando ministrará a primeira edição do curso de extensão em Comunicação Antirracista, promovido pela Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos. A formação acontece entre os dias 22 e 24 de agosto, com aulas online ao vivo. As inscrições podem ser realizadas pelo site.

Segundo Machado, é essencial promover espaços de formação para o combate ao racismo. “Precisamos, cada vez mais, de uma qualificação que diminua preconceitos e estereótipos internos para que os profissionais consigam ter um olhar mais sensíveis às causas sociais dentro e fora de uma empresa”.

Doutor em Ciências Sociais, Guimarães também reforça a necessidade de entender como o racismo criou raízes no Brasil e o papel da comunicação nesse processo. “Durante boa parte do século 20, a comunicação contribuiu para propagar e reforçar estereótipos negativos sobre as pessoas negras. Como estamos em outro momento histórico, é justo demonstrarmos como a comunicação pode ser útil no combate ao racismo. A Famecos vive uma nova fase. Penso que o curso de extensão sobre Comunicação Antirracista faz parte deste bom momento da instituição”, salienta.

Machado aponta, ainda, a urgência de que a comunicação seja redefinida por meio de perspectivas plurais que deem conta da emergência de subjetividades subalternizadas.

“Dessa forma, temáticas de raça e racismo podem ser vinculadas a todos os campos de conhecimento. Se na universidade, esses temas foram abordados de maneira tímida, na vida profissional isso não pode mais ser repetido, sob pena de trazer prejuízos para a empresa contratante e contratados. É preciso se qualificar para suprir as lacunas do passado e evitar novos erros, sobretudo os que têm penalização legal”.

Para a decana da Famecos, professora Rosângela Florczak, a relevância do curso de Comunicação Antirracista é indiscutível. “A comunicação e os profissionais são propulsores das transformações e têm a responsabilidade de assumir, em definitivo, as ações afirmativas de combate à desigualdade étnico-racial. Como escola que forma atuais e futuros comunicadores estamos muito entusiasmados em oferecer esse curso para a sociedade”, afirma.

Presença na comunicação

Em sua tese, intitulada A cor do conhecimento: Afronarrativas e (in)visibilidade dos doutorandos negros brasileiros nos programas de pós-graduação em comunicação do Rio Grande do Sul, Wagner Machado analisa presença dos doutores/as negros/as na comunicação gaúcha. De acordo com os dados da pesquisa, dos 71 atuais docentes de pós-graduação stricto sensu no Estado, somente dois são negros.

O estudo também aponta que em quatro instituições de Ensino Superior do Rio Grande do Sul (UFSM, Unisinos, PUCRS e UFRGS) de 2015 a 2020, cerca de 400 estudantes terminaram ou estavam em fase de conclusão do doutorado. No entanto, desse total, somente 30 são negros/as, representando 7,5% dos estudantes. O percentual é mais que inversamente proporcional à quantidade de negros no Brasil. No Rio Grande do Sul, que é um estado majoritariamente branco (81,5% da população), conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua) os grupos de pardos e pretos, representam 18,2%.

“Diante disso, torna-se fundamental o fortalecimento efetivo da educação e da comunicação antirracista, assim como o reconhecimento da relação entre o silenciamento da história e das culturas africana, afro-brasileira e indígena e o eurocentrismo do conhecimento”, ressalta Machado.

O pesquisador comenta que a tese visa dar protagonismo aos que estão no doutoramento ou já concluíram essa etapa para serem narradas as vivências nesse ambiente. “São histórias cruzadas, narrativas singulares e coletivas que demonstram as dificuldades que a comunicação impõe, mas que não se percebe, justamente porque há décadas se refuta o saber de outras etnias na pós-graduação. E isso influencia diretamente na formação de novos profissionais, pois sem diversidade, lapidam-se comunicadores com menor senso crítico ou com um olhar muito homogêneo”.

QUERO ME INSCREVER NO CURSO

 

Ver essa foto no Instagram

 

Uma publicação compartilhada por PUCRS (@pucrs)


Leia Mais Veja todas