PUCRS e InsCer farão estudo inédito sobre consumo de cocaína tipo crack

Resultados podem apontar para o desenvolvimento de novas drogas ou tecnologias

28/11/2017 - 10h57
Inscer, Pesquisa, Crack

Pesquisadores do Inscer/PUCRS
Foto: Bruno Todeschini/PUCRS

A PUCRS e o Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul assinaram um acordo de cooperação internacional com a Universidade do Texas – Health Science Center at Houston (EUA) para um estudo inédito sobre dependência à cocaína tipo crack. Coordenado pelo pesquisador do InsCer e professor da Escola de Humanidades da PUCRS Rodrigo Grassi-Oliveira e pelas pesquisadoras Joy Schimitz e Consuelo Walss-Bass, da UTHealth, o estudo terá duração de cinco anos e possui três objetivos principais: promover o mapeamento genético de 1.000 usuários de crack e 1.000 controles (não usuários); avaliar o impacto da exposição à violência/estresse e como isso poderia “marcar” o DNA; e verificar se o vírus HIV poderia modificar o DNA dos usuários em regiões importantes para o funcionamento cognitivo e comportamental.

O orçamento é de 2,6 milhões de dólares e é proveniente do National Institute of Health (NIH) dos Estados Unidos. O InsCer e a PUCRS passam a ser uma das poucas instituições a contar com um investigador principal (PI) responsável por um grant R01 fora do solo americano. O R01 um dos mecanismos mais tradicionais utilizados pelo NIH para dar suporte a pesquisas inovadoras para promover a melhora da saúde humana.

De acordo com Grassi-Oliveira, o Developmental Cognitive Neuroscience Lab (laboratório que coordena) vem coletando sangue de usuários de cocaína tipo crack que se voluntariaram a ceder suas amostras para a criação de um grande biorepositório, contendo as duas mil amostras que serão avaliadas (incluindo controles). Na primeira etapa da pesquisa, o DNA inteiro de cada amostra de sangue será completamente “escaneado” em busca de alterações genéticas que possam estar associadas ao consumo de crack.

Na segunda parte, os pesquisadores partem em busca de marcas no DNA associadas com a exposição à violência e estresse ao longo da vida do usuário. Cada análise possibilitará a investigação de aproximadamente 2,5 milhões de regiões no DNA de cada participante. Na terceira etapa, partindo do mesmo pressuposto das marcas do DNA pela violência ou pelo uso da droga, os pesquisadores contam com um percentual de usuários portadores do vírus HIV, cujas amostras estão no mesmo biorepositório. Neste processo, o objetivo é identificar se a presença do vírus pode, de alguma forma, prejudicar os mecanismos de controle de consumo, dificultando os tratamentos.

O pesquisador ressalta que um dos principais ganhos do estudo é o de revelar novos alvos de intervenção que promovam meios de auxiliar o tratamento do usuário de crack. “Este é um projeto de descobertas e não necessariamente testar alvos pré-definidos. Queremos usar a alta tecnologia que dispomos nas duas universidades para investigar detalhadamente essas informações no DNA dos usuários e controles”, revela. Com os resultados, Grassi e sua equipe esperam apontar para o desenvolvimento de novas drogas ou tecnologias, implicando, inclusive, em políticas de prevenção. “O que vemos, em geral, é uma busca por tratamento quando o uso já está praticamente fora de controle. O trabalho incessante deve ser feito quando a dependência está se desenvolvendo, ou melhor, antes mesmo de aparecer”. O grupo ainda conta com pesquisadores da UFRGS, da UTHealth e os alunos de doutorado da PUCRS Breno Sanvicente-Vieira e Thiago Wendt Viola.

Contexto Brasil – EUA

Segundo o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizado em 2012 em todo o território nacional, mais de dois milhões de brasileiros são usuários de crack/cocaína ou já consumiram a droga pelo menos uma vez na vida. Isso coloca o Brasil em uma posição bastante preocupante, representando 20% do consumo mundial. Um dos fatores mais impactantes é que apenas 1% destes usuários procura tratamento. No mesmo ano, o Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou que os Estados Unidos possuem 4,1 milhões de usuários. Números que preocupam os pesquisadores, que uniram esforços a fim de conhecer mais a fundo as interações entre os fatores genéticos e ambientais envolvidos no consumo de crack nos dois países.


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