Após 115 anos, Museu Júlio de Castilhos recebe escultura missioneira

Asa de anjo foi identificada pelo Grupo de Pesquisa sobre Arte Sacra Jesuítico-Guarani da PUCRS

07/03/2018 - 11h12
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Escultura foi analisada em microscópio eletrônico
Foto: Divulgação PUCRS

Uma asa de um anjo feita de cedro vermelho, que integra as obras da Província Jesuítica do Paraguai dos séculos 17 e 18, é o novo item do acervo do Museu Júlio de Castilhos (MJC) de Porto Alegre. A escultura doada foi identificada pelo professor e pesquisador Édison Hüttner, coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Arte Sacra Jesuítico-Guarani da PUCRS. Iniciada em 2017, a pesquisa foi desenvolvida num período de seis meses, que contou também com as participações do pesquisador Éder Abreu Hüttner e do arqueólogo Klaus Hilbert. A solenidade da chegada da peça no Museu ocorre no dia 8 de março, a partir das 19h.

“Se trata de uma legítima escultura a arte-sacra missioneira”, certifica o pesquisador Édison Hüttner. Na peça foi encontrada uma cobertura de ouro, colocado como enfeite. A presença deste material foi confirmada com a utilização do Microscópio Eletrônico de Varredura por Emissão de Campo (MEV-FEG) do Centro de Microscopia da PUCRS. O ouro em policromia é uma aplicação realizada somente por profissionais da área e os jesuítas sabiam aplicar esta técnica. “Tem a mesma estética dos anjos missioneiros: características de confecção em formato plano, cor branca de policromia, desenho das penas e formato da asa”, diz.

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Anjo músico de José Brasanelli
Foto: Museo del Barro, do Paraguai

Confecção das esculturas

Ainda, conforme comenta o pesquisador, as asas eram confeccionadas separadamente dos anjos e, posteriormente, se encaixavam na peça. “Era o método de montagem aplicado nas oficinas das reduções jesuíticas. Os orifícios feitos para utilização de cravos de madeira, geralmente eram utilizados para prender as peças missioneiras. Também tem um furo quadrado evidenciando a presença de cravo de ferro. Por este motivo, se encaixou no corpo dos anjos missioneiros do MJC. As esculturas portuguesas coloniais eram muito utilizadas no litoral da colônia portuguesa e que chegariam na região missioneira no início do século 19”, explica.

Estas asas são similares a de anjos localizados em museus do Paraguai. Como nos casos do anjo músico, de José Brasanelli, presente no Museo del Barro, e da obra San Miguel, localizada no Museo Diocesano de San Ignacio Guazú.

A chegada da asa

A peça rara chegou até o Museu Júlio de Castilhos por intermédio do especialista recursos minerais, Valério Grando. “Ele me relatou que o seu pai era professor e fiscal da Secretaria da Educação e viajava muito pela região missioneira, inclusive tinha em casa um quadro pintado das ruínas de São Miguel. Um dia ele chegou com a asa dizendo que ganhou de uma senhora no interior de São Luiz Gonzaga. Segundo o doador da peça, ele imagina que isso aconteceu perto de 1970”, lembra Hüttner.

O professor da PUCRS ressalva a importância desta escultura. “Comprova a identidade em benefício da preservação e valorização da arte sacra jesuítico-guarani e do patrimônio cultural nacional”, destaca.

Breve história dos anjos missioneiros

As reduções jesuíticas da antiga Província do Paraguai (Sec. XVII-XVIII) se desenvolveram em trinta povoações com mais de 141 mil guaranis durante 159 anos, abrangendo Argentina, Brasil e Paraguai. Com a expulsão dos jesuítas e anexação dos Sete Povos Missioneiros para a o império brasileiro toda imaginária, as esculturas e os próprios templos das reduções foram abandonados e saqueados. As constates guerras entre portugueses e espanhóis na fronteira jogavam cruelmente com a posse desta arte sacra.

Somente depois de 1828, quando Frutuoso Rivera deixou o Sete Povos que havia tomado as vilas e futuras cidades, começaram a ser reconhecidas oficialmente. Atualmente, estas peças barrocas são muito valorizadas e aos poucos resgatadas em todos cantos do sul do Brasil.


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