Que Vibração é essa? Os impactos da pandemia no prazer feminino

Pesquisa realizada por estudantes do curso de Publicidade e Propaganda, sob orientação do professor Ilton Teitelbaum, investigou o assunto

08/10/2021 - 15h20
Prazer feminino

Especialistas alertam para a falta de proteção contra ISTs/Foto: Pexels

Falar sobre prazer feminino é um tabu social. Não é de se estranhar que pouco mais de metade das mulheres do mundo não se masturbam e 20% nunca sequer experimentaram essa prática, de acordo com dados de uma pesquisa intitulada Mosaico 2.0, de 2017. Na pandemia, o contato entre as pessoas reduziu, o que trouxe transformações na vida social. Será que o isolamento fez com que mais mulheres adotassem a prática? Esse questionamento motivou estudantes do curso de Publicidade e Propaganda da PUCRS a desenvolverem a pesquisa Que Vibração é essa? 

O mercado erótico na pandemia 

Outra pesquisa realizada por uma marca de preservativos apontou que aproximadamente três a cada dez mulheres no mundo possuem um vibrador. No Brasil, o índice é inferior, caindo para uma a cada dez, o país só perde para nações conservadoras, como a Malásia e o Vietnã. No entanto, esse cenário vem se alterando: desde março de 2020, com o início da pandemia, a venda desses produtos no Brasil cresceu em 50%.  

A etapa quantitativa da pesquisa da PUCRS confirma esse cenário de transformação no mercado erótico: das 591 mulheres respondentes, 87% têm ou pretendem comprar um vibrador, sendo que 35% compraram produtos eróticos pela primeira vez na pandemia. Os resultados não eram esperados pelo grupo, como conta a aluna Victória Camargo: “Me surpreendi com o número, não achei que seriam tantas!”.  

Essa busca pelo prazer feminino pode ser explicada, de acordo com as especialistas que participaram do estudo, o fato de a pandemia promover um maior autoconhecimento, não apenas físico, mas também psicológico motiva a busca pelo próprio prazer.  

Prazer feminino: tabu na sociedade 

O clitóris é uma estrutura presente na vulva das mulheres, sendo responsável unicamente por promover prazer através de suas mais de 8 mil terminações nervosas. O orgasmo feminino, que é clitoriano, possui diferentes benefícios: libera um hormônio chamado endorfina, que diminui a sensibilidade à dor, relaxa a musculatura, melhora o humor e ajuda a dormir melhor.  

Apesar disso, ainda é tabu falar sobre prazer feminino. Menos de 2% das respondentes da pesquisa afirmaram não considerar a masturbação como um ato de autoconhecimento e, entre as poucas mulheres que afirmaram não se masturbar, os motivos para isso são, principalmente, a falta de vontade e a vergonha. As especialistas entrevistadas no estudo relembram que enquanto homens são incentivados desde cedo, mulheres são desestimuladas.  

“Eu já tive pacientes jovens às quais solicitei que olhassem sua vulva no espelho, em casa, e elas ficaram apavoradas”, conta a fisioterapeuta pélvica Talita Klein. 

Entre as que afirmaram se masturbar, 75% passaram por algum momento em que desconstruíram pensamentos sobre o prazer feminino, o que indica ainda existir um tabu em torno do assunto. 

Educação sexual: é importante?  

Prazer feminino

Pesquisa mostra deficiências na educação sexual/Foto: Pexels

Um quarto das mulheres respondentes do estudo não utilizam nenhum método contraceptivo. O uso de preservativos é de apenas 63%. “Os jovens não conhecem o próprio corpo, sabem que devem usar camisinha para evitar a gravidez, mas esquecem que é importante para não contrair infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)”, relata a terapeuta sexual Maria Cecilia. 

A falta de educação sexual é um dos motivos para isso. De acordo com a pesquisa, as mulheres tendem a buscar mais informações sobre isso na internet do que com profissionais da área. E um número expressivo não utiliza as redes sociais para acompanhar páginas sobre o assunto. “Se a gente tivesse informação sexual na escola, teríamos informações certas. Hoje em dia tem lugares confiáveis para buscar informações, mas também existem os não confiáveis”, explica Laís Conter, criadora da página @me_lambelambe no Instagram.  

Pornografia: um mal invisível 

Não são casos isolados em que o prazer feminino foi comprometido pelo consumo de pornografia: mais de metade das mulheres que participaram da pesquisa afirmaram já terem passado por situações em que isso afetou a relação sexual. Para a criadora do sex shop Vulvas Autônomas, entrevistada pelo grupo, Andressa Schutz, a pornografia ensina os homens que o prazer é sempre voltado para eles e torna o sexo irreal.   

Essa opinião é apoiada pelas especialistas, as quais consideram que a pornografia influencia negativamente as mulheres, pois as coloca em posição de submissão. Tudo isso pode contribuir para a compreensão de mais um dado da pesquisa: 85% das mulheres afirmaram já ter tido relações sexuais que terminaram após a ejaculação do homem.  

Estudando o comportamento pandêmico 

Foto: divulgação

O estudo Que Vibração é essa? Foi elaborado dentro da disciplina de Projeto de Pesquisa de Mercado em Publicidade e Propaganda, sob a orientação do professor Ilton Teitelbaum, ao longo do primeiro semestre de 2021. Participaram do estudo os estudantes Eduarda Guimarães, Gustavo Moura, Laura Barroso, Mariana Brasil, Thiago Ribas e Victória Camargo. 

Esse trabalho me fez criar um grande amor por pesquisas e com certeza quero fazer mais no futuro. Além de me ensinar sobre responsabilidades, liderança de grupo e superar desafios. Sou muito grata ao professor Ilton por ter planejado um excelente semestre”, comenta Victória, que acrescenta: “Tratar sobre esse assunto tão importante, com tanta naturalidade, foi libertador e gerou muito autoconhecimento para as meninas do nosso grupo, ainda mais podendo contar com o auxílio de especialistas incríveis”. 

O primeiro passo para a construção do estudo foi um mapeamento inicial da problemática. Em seguida, foram realizadas sete entrevistas em profundidade com especialistas (a criadora da @me_lambelambe Laís Conter, as terapeutas sexuais Maria Cecilia e Sandra Scalco, a psicóloga especialista em relacionamentos Daniela Flores, a fisioterapeuta pélvica Talita Klein, a criadora do Vulvas Autônomas Andressa Schutz e a psicóloga e educadora sexual Ana Canosa) e cinco com mulheres entre 18 e 34 anos. Por fim, a etapa quantitativa contou com 591 respondentes da mesma faixa etária, através de formulário online, todas eram residentes de Porto Alegre e Região Metropolitana.  

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