Famílias de baixa renda lideradas por mulheres vivem melhor
Pesquisadora da PUCRS desenvolve indicador que compara índices de bem-estar
Fonte: esquema elaborado por Izete Bagolin
Domicílios de famílias de baixa renda chefiados por mulheres, com ou sem companheiros(as), apresentam índices de bem-estar superiores aos chefiados por homens. Isso é o que mostra o estudo realizado por Izete Pengo Bagolin, professora e pesquisadora da PUCRS. A partir de microdados do último Censo, a docente conseguiu desenvolver o Indicador Multidimensional de Bem-Estar (Imbe), com metodologia inspirada no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
O projeto compara o bem-estar entre pessoas que moram em lares que recebem o benefício do Programa Bolsa Família (PBF) e as que não recebem o programa familiar – ambas com renda domiciliar por pessoa inferior àquela considerada de vulnerabilidade social, que em 2010 era de R$ 465,00. Izete analisou condições envolvendo saúde, estilo de vida e felicidade, considerando que os indicadores variam da renda à satisfação com determinados aspectos da vida.
A pesquisa mostrou que mulheres representam a maioria das pessoas que vivem em situação de pobreza ou vulnerabilidade financeira, exceto no grupo das que vivem em casas chefiadas junto com um cônjuge. Porém, os homens são a maioria dos chefes de domicílios em todos os grupos analisados.
Elas pensam no bem-estar de todos
Fonte: esquema elaborado por Izete Bagolin
Em 2015, 93% das famílias beneficiárias eram lideradas por mulheres. Segundo o Governo Federal, isso acontece porque elas têm prioridade para a titularidade do cartão do PBF.
“Domicílios chefiados por mulheres, sejam estes monoparentais ou biparentais, apresentam bem-estar superior aos domicílios chefiados por homens. […] Homens beneficiários do Bolsa Família de domicílios monoparentais e biparentais são os que apresentam o Imbe mais baixo”, mostra o estudo da docente.
A comparação dos indicadores entre beneficiários e não beneficiários do PBF mostra que a maior diferença entre os grupos são posse de bens, como rádio, televisão, máquina de lavar roupa, geladeira, telefone celular, microcomputador, motocicleta e automóvel, além do acesso a serviços, como saneamento sanitário, abastecimento de água, destino do lixo e energia elétrica. Domicílios chefiados por mulheres sozinhas e não beneficiárias do PBF têm índices maiores de satisfação na maioria desses aspectos.
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Desigualdades sociais têm gênero e cor
No que se refere à cor ou raça autodeclarada, a maioria dos que vivem em condições de pobreza e vulnerabilidade é formada por pessoas que não são brancas, em todos os grupos. O estudo revelou que apenas no subgrupo dos não beneficiários do Bolsa Família é que as pessoas declaradas brancas atingem um percentual pouco superior a 40% da amostra.
Confira outros dados sobre o recorte de gênero e cor:
- Do total de mulheres que vivem em situação de vulnerabilidade e pobreza, 37,53% eram brancas e 62,47 não eram brancas;
- Do total de mulheres que vivem em domicílios chefiados por mulheres, 35,76 eram brancas e 64,24 % não eram brancas;
- Do total de mulheres que vivem em domicílios com pessoas beneficiárias do PBF, 29,53% eram brancas e 70,47 % não eram brancas;
- Do total de pessoas que vivem em domicílios chefiados por mulheres e com algum beneficiário do PBF, 27,76 eram brancas e 72,24% não eram brancas.
Incentivo global à educação das futuras gerações
Para receber auxílio do Bolsa Família, é exigido que todas as crianças em idade escolar da família estejam matriculadas na escola e tenham frequência mínima de 85% nas aulas. “O uso de transferência direta de renda para enfrentamento da pobreza tem sido uma estratégia recorrente e vem se alastrando entre os países da América Latina” destaca Izete Bagolin. México, Colômbia, Chile, Uruguai, Bolívia e Argentina são alguns deles.
O Programa Bolsa Família
Fonte: página oficial do Bolsa Família (2015)
Criado pela Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), em outubro de 2003, seus principais focos de atuação são o complemento da renda, acesso a direitos e articulação para estimular o desenvolvimento das famílias. Outros problemas envolvendo a vulnerabilidade, que vão além da questão monetária, também são desafios para as iniciativas de equiparação social. Entre elas estão as raciais, de gênero, relacionadas à escolaridade e ao acesso a serviços. “Diante dessas constatações, pesquisar o bem-estar da parcela da população mais vulnerável, com base em um indicador multidimensional que englobe a maior parte dessas questões, torna-se relevante” explica Izete Bagolin.
No período de 2004 a 2009, a parcela de indivíduos extremamente pobres, pobres e vulneráveis financeiramente diminuiu. Milhões de brasileiros ascenderam dessas posições para lugares de maior independência. Entre 2014 e 2018, os 5% mais pobres no Brasil tiveram uma queda de 39% na renda, além de serem registrados 3,4 milhões de novas pessoas em situação de extrema pobreza, segundo o FGV Social, da Fundação Getúlio Vargas.
Oportunidades e desafios
Entre as principais críticas ao PBF está o pouco impacto no aumento expressivo do poder aquisitivo das pessoas, quando comparado com o preço da cesta básica. Beneficiários moradores de regiões isoladas também podem acabar por não adquirir independência financeira, por estarem longe dos centros urbanos, onde concentram-se a maioria dos empregos. As regiões Sudeste e Sul do País foram as que apresentam os melhores indicadores de bem-estar, enquanto as regiões Norte e Nordeste apresentam os menores Imbe.
Dedicação ao estudo das desigualdades sociais
Izete Pengo Bagolin é pesquisadora e professora titular dos Programas de Pós-graduação em Economia do Desenvolvimento e Serviço Social da PUCRS. Suas pesquisas abordam temas nas áreas de Economia da Pobreza, Desigualdade, Abordagem das Capacitações, Educação e Desenvolvimento Humano.
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