O Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias da Famecos analisou o impacto da pandemia nas aulas online de uma escola de Porto Alegre
A imposição de distanciamento social após a declaração de pandemia por Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) afetou diversas atividades, como a continuidade do ensino presencial. No Brasil, o Ministério da Educação autorizou que aulas remotas por meio de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) fossem adotadas.
O Sindicato de Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS) apresentou dados de 2020 que apontaram que 97,4% das escolas gaúchas particulares adotaram o modelo virtual como alternativa para o distanciamento social. Já na rede pública, apenas 7,7% das escolas municipais e 20% das estaduais adotaram ferramentas digitais para as atividades remotas.
Tendo em vista esse contexto, o Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias (LabGim) da PUCRS realizou a pesquisa-ação 2020 nas telas: escola online para crianças em fase de alfabetização. O estudo se propôs a entender como uma escola particular de Porto Alegre se adaptou às telas no cenário pandêmico de 2020, para então promover alternativas e reflexões sobre educação online para crianças em fase de alfabetização.
A pesquisa aconteceu em conjunto com diversas famílias responsáveis pelas crianças em fase alfabetização e com a equipe pedagógica da escola escolhida. A professora da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) e coordenadora do LabGim, Juliana Tonin, está à frente da pesquisa.
“A metodologia propõe ações de interesse para os sujeitos pesquisados para que se tenha novas possibilidades para melhorar a vida dessas pessoas. Com este trabalho, conseguimos apresentar novas alternativas para esta escola, possibilitando outros caminhos de aprendizado para mais de 100 famílias e suas crianças”, destaca.
Com a pesquisa foi possível notar que a forma, o conteúdo das mensagens e as estratégias adotadas pela escola não favoreciam a interação entre crianças e os professores. Com isso, utilizando a metodologia da pesquisa-ação, o estudo teve como eixo norteador promover uma experiência mais voltada ao estar junto virtual, em contrapartida às alternativas de envio de atividades, vídeos gravados, entre outros recursos.
Estes encontros utilizando recursos tecnológicos permitiram às crianças uma retomada gradual de sua relação autônoma com a escola, assim como momentos de brincar e realizar atividades com mais interação. “A nova proposta de comunicação conquistada pela ação da pesquisa proporcionou trocas mais leves e afetuosas e mobilizou a aprendizagem”, comenta Juliana.
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Os resultados da pesquisa apresentam que a mediação online, mesmo que ofereça alternativas para favorecer a socialização nos tempos atuais, possui certa complexidade na compreensão por parte da criança. A ausência da materialidade, do espaço físico escolar, ou mesmo dos corpos físicos das pessoas, pode confundir o entendimento da criança em relação do que venha a ser definido como escola.
“Além disso, foi possível entender que a educação mediada por tecnologias, em 2020, foi feita em família, com constantes adaptações, com novas visões sobre autonomias, com reconhecimento de que temos um leque de tipos de tecnologias e que nossa adaptação foi antecipada ‘à força’”, finaliza Juliana.
O LabGim tem diversas atividades científicas desenvolvendo dissertações, monografias, teses e uma série de eventos abordando a questão do diálogo e das relações interpessoais na infância. O Laboratório é parceiro da Rede Marista de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente e integra a Rede Nacional de Pesquisas da Comunicação e da Infância (Rede Rrecria).
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