01/11/2019 - 15h30

Altair Martins fala sobre o processo de criação do livro Os donos do Inverno

Atividade ocorreu no Instituto de Cultura da PUCRS

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Foto: Carolina Vicari

O premiado escritor, também professor da Escola de Humanidades, Altair Martins, lançou o livro Os donos do inverno, pela Editora Dublinense, no dia 30 de outubro, no Instituto de Cultura da PUCRS/Delfos. O evento contou com um bate-papo mediado pelo escritor e professor Arthur Telló e pelo diretor do Instituto, professor Ricardo Barberena, com perguntas sobre elementos da obra e seu processo de criação.

No início da conversa, Martins salientou a importância de saber sobre o que se escreve. “Temos que ir descobrindo quem nós somos enquanto pessoas que escrevem” relatou, ciente da ampla presença de estudantes do curso de graduação em Escrita Criativa. Em termos de romance, disse ter percebido que estava escrevendo sobre os pilares da família, destacando o quanto uma nação espelha, muitas vezes, o reino familiar.

Sobre a obra

O novo livro é contado por Elias e Fernando, irmãos de criação que, desde o acidente que levou à morte do irmão mais velho, o Jóquei C. Martins, deixaram de se falar. Vinte e quatro anos após essa ruptura, Elias, professor de biologia, retoma o contato com Fernando, taxista, para que juntos realizem a missão de levar os ossos do falecido irmão até uma importante competição de turfe em Buenos Aires. A viagem deles será para o sul, no táxi, em direção à Argentina, e para o passado, na memória, em direção à infância compartilhada, ao quarto que dividiam, à culpa que os distanciou, aos caminhos que tomaram sozinhos.

Os cavalos

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Foto: Carolina Vicari

Altair revelou que o mote para o texto foi uma cena de sua infância, em uma manhã de inverno em que assistia ao pai, o jóquei Carlos Martins, dar voltas com o cavalo no Hipódromo do Cristal, em Porto Alegre. Ele corria com a cabeça muito próxima à do animal e, quando parava para conversar com o veterinário, a impressão era que estava falando aquilo que o cavalo havia lhe contado.

Em Os donos do inverno, os cavalos ganham posição central e compartilham uma língua própria, na qual inexiste o ‘eu’. O autor chamou atenção para a visão lateral desses animais, comparando-os com os seres humanos: “Vomitamos o ‘eu’ o tempo todo e o que nos falta é olhar para o lado”. No livro, o apelo contra o império do ‘eu’ começa já na opção por narrar a história em ‘nós’, a partir da visão conjunta de Fernando e Elias.

A viagem

Para chegar até a Argentina carregando a ossada clandestina, os irmãos optam pelo caminho mais longo para cruzar Rio Grande do Sul e Uruguai. Uma viagem que foi realizada três vezes pelo autor, para coletar materiais e para testar a viabilidade de sua narrativa. A primeira delas, em 2015, fez como seus personagens: de carro, começando em um sábado pela manhã para chegar no final da tarde de segunda-feira, com pouco dinheiro e sem reservas de hotel. Quando chegou em tempo ao hipódromo de Buenos Aires, teve a certeza de que sua história era possível.

Não são apenas os acontecimentos da trama que conferem movimento ao livro. Diferente de suas obras anteriores, o autor optou por uma linguagem narrativa e fluida, com diálogos que trazem um ritmo dinâmico ao texto. O resultado é uma história que corre veloz (na leitura e no enredo), sem perder, no entanto, a poeticidade que é típica do escritor e que se faz presente nos gestos das personagens, nas descrições das paisagens invernais e na sensibilidade com que aborda a relação entre os irmãos e as fraturas causadas por distâncias que não são físicas.

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