52% dos servidores de nível superior do RS já sofreram tentativa de corrupção

Densenvolvidos pela PUCRS, o estudo elaborado para o Sintergs gerou também uma cartilha com diretrizes para combater a corrupção

28/10/2020 - 13h49

Em pesquisa inédita com servidores públicos de nível superior do Rio Grande do Sul, 52,2% relataram já ter sofrido algum tipo de tentativa de suborno. Dos 366 participantes, 191 declararam já terem sido assediados com propostas. Destes, 49,2% receberam oferta de presentes e 33% de propina. Os dados fazem parte da dissertação de mestrado do psicólogo Felipe Vilanova, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS. O estudo, realizado com associados do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul (Sintergs) entre fevereiro e maio de 2020, foi apresentado nesta quarta-feira, dia 28 de outubro, Dia do Servidor, em coletiva de imprensa virtual.

As respostas mostram que, para os trabalhadores de nível superior do Poder Executivo, as ações adotadas pelos governos nos últimos três anos são insuficientes para coibir corrupção. Para 42,2%, as medidas foram ineficientes e 22,5% indicaram que nada mudou. Em relação ao engajamento em comportamentos corruptos, a média entre os servidores foi de 1,67 – em uma escala de um a nove. O indicador é uma média das respostas para cinco perguntas da pesquisa. Em estudo realizado anteriormente pelo pesquisador com trabalhadores da iniciativa privada, a média foi de 2,29. Ou seja, a probabilidade é menor entre os associados do Sintergs.

“A pesquisa evidencia a baixíssima tendência à corrupção por parte dos servidores gaúchos, o que contrapõe as narrativas construídas contra o funcionalismo. O acesso às carreiras públicas, com concurso, estabilidade e todas as garantias, é peça fundamental para que se mantenha a boa prestação do serviço e se evite atos de corrupção, o que está em risco com a reforma administrativa”, afirma Antonio Augusto Medeiros, presidente do Sintergs.

Segundo Vilanova, “a menor disposição à corrupção entre trabalhadores do serviço público se assemelha ao verificado na Dinamarca”. A percepção é reforçada Angelo Brandelli Costa, pesquisador e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e orientador do trabalho de Vilanova. “A população, em geral, tem imagem contrária, mas a verdade é que os servidores públicos parecem ter menor propensão à corrupção”.

Cartilha com diretrizes para combater a corrupção

Com objetivo de contribuir para as boas práticas no serviço público, o Sintergs lançou nesta quarta-feira, dia 28 de outubro, a cartilha Diretrizes para combater a corrupção – Pesquisa desconstrói a narrativa da falta de ética no serviço público. O pesquisador Felipe Vilanova, com orientação do professor Angelo Brandelli Costa, apresenta sugestões a partir da pesquisa e de outros estudos sobre o tema. Com base nos dados, os pesquisadores propuseram cinco diretrizes:

  1. Reduzir sensação de esgotamento nos funcionários, priorizando decisões que envolvem recursos financeiros ou licenças públicas no início do expediente;
  2. Promover ambientes de cooperação;
  3. Coibir práticas antiéticas;
  4. Garantir que cargos de liderança sejam ocupados por quem distingue práticas legais de ilegais;
  5. Garantir transparência, efetividade e segurança dos canais de denúncia.

A cartilha completa pode ser conferida neste link.

Perfil dos participantes da pesquisa

  • 366 entrevistados, entre 28 e 86 anos, todos associados ao Sintergs
  • 91% se declararam brancos
  • 75,7% têm alguma crença espiritual ou religião
  • 65,5% estão na ativa
  • 63,4% são mulheres
  • 49,7% são da classe C
  • 48,1% desempenham atividade de fiscalização
  • 85,2% não têm filiação partidária
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