Animais modificados?

 

Em uma pesquisa publicada recentemente na revista Trends in Ecology & Evolution, os autores Sara Ryding e Matthew Symonds, ambos da Deakin University, da Austrália, avaliaram as mudanças corporais de alguns animais decorrentes da adaptação ao aquecimento global.

Imagem térmica de um pássaro cujas as áreas em laranja/amarelo são mais quentes, demonstrando que o bico e as patas são apêndices de dispersão e troca de calor. / Trends Ecology & Evolution.

O estudo teve relação com a regra de Allen, que afirma que as formas e tamanhos dos apêndices morfológicos (como orelhas, rabos e bicos) de animais endotérmicos (aqueles cuja temperatura corporal é regulada pelo seu metabolismo próprio, como os mamíferos e as aves) variam sob a influência da temperatura do ambiente em que vivem. Por exemplo: lebres que vivem em ambientes naturalmente mais quentes possuem orelhas, patas e rabo mais longos para dissipar o calor em excesso de seu corpo, diferentemente daquelas que habitam locais frios e possuem esses apêndices mais curtos (imagem abaixo).

Regra de Allen / Google imagens

Nessa pesquisa, os autores observaram que existem respostas significativas e atuais de que há mudanças corporais ocorrendo em determinados grupos de animais devido aos altos índices de aquecimento e mudanças climáticas. O estudo consistiu de uma revisão de pesquisas anteriores, alcançando resultados que permitiram entender que as temperaturas (de forma independente e/ou combinadas com outras mudanças ambientais) estão sendo um importante fator de seleção para as populações desses animais, resultando em significativas adaptações morfológicas. Os pássaros estão sendo os mais afetados, como é o caso dos periquitos australianos, que aumentaram o tamanho de seu bico entre 4% e 10% desde 1871. Alguns mamíferos também se adaptaram às mudanças climáticas e alteraram suas morfologias, como o grande-morcego-dos-Himalaias, que aumentou o tamanho das suas asas em 1,64% desde 1950.

Grande-morcego-dos-Himalaias / The conversation

Algumas modificações morfológicas ainda estão ligadas indiretamente às mudanças climáticas, como ocorre com alguns tentilhões médios do arquipélago de Galápagos, no Oceano Pacífico. Esses pássaros apresentaram uma mudança no tamanho médio do bico em virtude da alteração no tamanho da semente utilizada em sua alimentação, uma consequência dos baixos níveis de chuva na região. Com verões mais secos, a sobrevivência das aves de bico pequeno foi reduzida, porque sua alimentação foi afetada, com sementes mais duras devido à seca e pela dificuldade de dispersar calor, devido aos seus apêndices reduzidos. Contudo, nem todas as espécies de animais poderão se adaptar às mudanças climáticas. Dependendo da alteração sofrida por seus bicos, aves que mantêm uma dieta muito específica provavelmente não conseguirão se alimentar e não sobreviverão. Isso significa uma impossibilidade de adaptação de suas populações às novidades climáticas, levando-as a um risco maior de extinção. Por isso, antes mesmo de tentar prever quais mudanças morfológicas os animais irão apresentar devido ao aquecimento global, o mais importante é assegurar e proteger o bem-estar de espécies no presente e no futuro, evitando ou pelo menos reduzindo as emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera, que são a causa da atual crise climática.

O Museu funciona de terça a sexta, das 9h às 17h. E ao sábado, das 10h às 18h.

Referências:

Artigo: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S016953472100197X?via%3Dihub#

https://www.nature.com/articles/s41558-020-0789-x

https://theconversation.com/new-research-reveals-animals-are-changing-their-body-shapes-to-cope-with-climate-change-166267

https://universoracionalista.org/corpos-de-animais-estao-mudando-de-forma-para-sobreviver-as-mudancas-climaticas/

http://labs.icb.ufmg.br/lbem/aulas/grad/evol/darwin/tentilhoes.html