75 anos das bombas atômicas no Japão: o legado da radiação

Neste mês, o Japão relembra um dos momentos mais amargos de sua história. Nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram atingidas, respectivamente, por artefatos nucleares. O evento provocou cerca de 200 mil mortes, majoritariamente civis, e permanece, até hoje, como o único caso de uso de armas nucleares em conflito armado.

Conhecidos como “hibakusha” (pessoa afetadas pela explosão), 136.682 sobreviventes ainda vivem, com uma idade média de 83 anos e são testemunhas de uma das maiores tra-gédias provocadas pela humanidade.


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Visão aérea do impacto da bomba nuclear em Hiroshima. Fonte: Getty Images

Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados* criaram o Projeto Manhattan, cujo objetivo era o de usar a ciência nuclear para a fabricação de armas bélicas. Próximo ao fim do con-flito, os poderes do Eixo** estavam enfraquecidos com a derrota da Alemanha, porém o Ja-pão ainda recusava a rendição. Isso motivou as forças aliadas a fazerem uso de armas nu-cleares, como forma de definitivamente dar fim à guerra.

O físico nuclear Robert Oppenheimer foi um dos cientistas líderes desse projeto, ficando co-nhecido como “pai da bomba atômica”. Apesar do sucesso bélico obtido por seu trabalho, Oppenheimer, ao perceber o poder destrutivo da bomba, tornou-se um ícone contra a prolife-ração nuclear nos Estados Unidos e no mundo no período durante o Pós- Guerra, atuando como figura regulatória na tentativa de conscientização do uso de armas nucleares.

A bomba “Little Boy”, de quatro toneladas de urânio, foi lançada por um avião bombardeiro e explodiu após 43 segundos, a uma altitude de 600 metros do centro da cidade de Hiroshima. A temperatura inicial estimada no impacto foi de três a quatro mil graus Celsius e a grande liberação de energia provocou uma onda de choque, cujo calor e pressão dizimaram tudo em um raio de dois quilômetros. Após algumas horas, uma chuva negra tomou os céus, espa-lhando poeira radioativa por uma área ainda maior.


Região de Hiroshima após o impacto da bomba nuclear. Fonte: Hulton Archive/Getty Images

Região de Hiroshima após o impacto da bomba nuclear. Fonte: Hulton Archive/Getty Images

Aqueles que por acaso sobreviveram ao impacto inicial, infelizmente não tiveram muito mais chances de sobrevivência quanto os que sucumbiram às chamas. Expostos a grandes níveis de radiação, as pessoas rapidamente desenvolveram sintomas causados pelo impacto, como vômitos e queda de cabelo.

Radiações ionizantes possuem energia suficiente para “arrancar” elétrons de átomos ou mo-léculas, sendo assim capazes de destruir tecidos biológicos e induzir muitos danos no DNA. Embora apenas 5% da energia liberada da explosão seja radiação ionizante, é o suficiente para provocar danos catastróficos. Nêutrons, elétrons, raios gama e partículas alfa se espa-lham com grande energia e velocidade próxima à da luz, submetendo as vítimas ao contato de grandes doses de radiação. Outros efeitos também relevantes são terremotos causados por ondas de choque transmitidas pelo subterrâneo, fenômenos atmosféricos como grandes flashes de luz e bolas de fogo, provocados pela interação do calor com as partículas de ar ionizado.

Ao longo dos anos, muitos estudos foram realizados sobre os dados provenientes dos “hiba-kusha”. Embora muitos deles nunca tenham desenvolvido qualquer tipo de doença proveni-ente da exposição à radiação, cientistas identificaram uma suscetibilidade dos sobreviventes ao desenvolvimento de catarata e câncer. Os dados obtidos foram de muita importância para o aprimoramento do conhecimento científico a respeito dos efeitos biológicos da radiação.


Memorial Hiroshima, em homenagem ás vítimas do bombardeio nuclear de agosto de 1945. Fonte: Reuter/Kyodo

Memorial Hiroshima, em homenagem ás vítimas do bombardeio nuclear de agosto de 1945. Fonte: Reuter/Kyodo

Embora seja a causa de uma catástrofe sem precedentes, a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki tornou-se símbolo de alerta quanto ao risco do uso de artefatos nucleares, promovendo a criação de inúmeras organizações anti-bomba e protestos de es-cala global pelo desarmamento nuclear.

* Coalizão de nações envolvidas na Segunda Guerra Mundial. Seus líderes eram Grã-Breta-nha, França, União Soviética, Estados Unidos e China.

** Coalizão dos adversários dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, formada por Alemanha, Itália e Japão.