Institucional

Controle de emoções e cooperação podem reduzir ações violentas

sexta-feira, 24 de agosto | 2018

Palestra A cidade e a Violência

Foto: Bruno Todeschini

Mecanismos internos de controle emocional e instrumentos que contribuam para a cooperação entre indivíduos foram alternativas apresentadas pelo teólogo Eberhard Schockenhoff, professor Catedrático de Teologia Moral da Universidade de Freiburg (Alemanha), durante a palestra A cidade e a violência: sobre o aumento do potencial de violência nas metrópoles latino-americanas. Na atividade, o especialista relatou sua vivência em cidades do continente, mencionou a necessidade de reversão da violência pela razão e apoiou suas falas nas teorias de Aristóteles e do sociólogo alemão Norbert Elias. A explanação integrou o Colóquio Internacional dos Almuni do Serviço Acadêmico Católico para Estrangeiros (Katholischer Akademischer Ausländer-Dienst -KAAD), ocorrido nesta sexta-feira, 24 de agosto, no auditório térreo do prédio 50 da PUCRS, com a presença do diretor do KAAD para a América Latina, Thomas Krüggeler, do reitor Ir. Evilázio Teixeira, do vice-reitor, Jaderson Costa da Costa e do decano da Escola de Humanidades e vice-diretor do Centro de Estudos Europeus e Alemães (CDEA), Draiton Gonzaga Souza.

Entre as causas de intensificação da violência, o professor Schockenhoff citou exemplos como ambientes propensos a essa situação, dominados por cartéis e tráfico de drogas, e a proximidade com jovens sem perspectiva de futuro. Essa combinação, segundo o palestrante, resulta de um Estado fraco, inativo. “O Estado não deve estar em todo lugar com a força da polícia, mas sua presença precisa ser intensa a ponto de garantir a segurança da população”, sinalizou o catedrático, citando o amparo às necessidades básicas, acesso a bens sociais, culturais e à educação como elementos indispensáveis. Ele lembrou de dados apresentados a ele pelo professor e pesquisador da Escola de Direito da PUCRS, Rodrigo Azevedo, apontando que o número de mortes por intervenções policiais mais que dobrou no Brasil nos últimos cinco anos.

 

Palestra A cidade e a Violência

Foto: Bruno Todeschini

Sobre violência de gênero

Tema recorrente nos debates atuais, a violência contra as mulheres não foi esquecida. Eberhard Schockenhoff afirmou que na perspectiva de uma análise social feminista, as atitudes hostis ao gênero trazem marcas de um comportamento patriarcal arraigado na América Latina. Ele não nega que o problema exista em outros continentes, mas explicou que muitas vezes o desejo do homem de preservar sua honra repercute em atos violentos, vinculados à cultura machista. O palestrante rebate soluções intempestivas de combate à violência, como a sugerida pelo presidente norte-americano Donald Trump de armar professores em escolas para evitar atentados. “Isso é um comportamento da Idade Média, um retrocesso. Não podemos combater a violência com outros atos de violência”, asseverou.

 

Controle de emoções

Para o teólogo alemão, falar da retenção da violência pelo controle das emoções não inibe questões vinculadas ao prazer. Ele argumentou que o controle inicial das emoções não é apenas uma instância do autocontrole, mas uma questão intrapsíquica de reconhecimento das outras pessoas não como concorrentes por um bem escasso, mas merecedoras do bem-querer. “E necessário incentivarmos um pensamento positivo, pró-paz, sem ver o outro como oponente a ser vencido num princípio de mata-mata. Essa mentalidade deve ser mudada para um pensamento de convívio e cooperação. Um despertar para a razão tem a ver com isso”, defendeu Schockenhoff. Muitas de suas falas são alicerçadas no Sermão da Montanha, fonte que considera importante pelas mensagens que traz. Em sua conclusão, disse não iludir-se com a possível existência de uma democracia sem conflitos, mas que é possível tratar os conflitos sem violência.

 

Palestra A cidade e a Violência

Foto: Bruno Todeschini

Temática oportuna

O reitor Ir.  Evilázio Teixeira, durante sua saudação, destacou que a temática do evento não poderia ser mais atual. “O colóquio traz contribuições que nos permitem refletir a violência e as políticas sociais. Na Academia, e como universidade católica, não podemos estar distantes nem alheios a essas questões que envolvem a defesa e a promoção dos direitos humanos. Isso nos interpela a ações corajosas para a causa comum”, afirmou. Ele destacou também a importância de as instituições de ensino superior latino-americanas trabalharem de forma integrada e do papel do KAAD no incentivo à formação de pessoas.

 

Colóquio Internacional dos Ex-bolsistas do KAAD

O Colóquio Internacional dos ex-bolsistas do KAAD reúne pesquisadores da Alemanha, Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru. O KAAD é uma instituição da Conferência Episcopal da Alemanha, que tem como objetivo oferecer bolsas de pós-graduação para estudantes cristãos de países em desenvolvimento na África, Ásia, América Latina, Oriente Médio e Próximo, assim como do Leste Europeu. O KAAD tem Conselhos Regionais nos países em que atua e, no caso do Brasil, existem duas representações, sendo uma na PUC Minas e outra na PUCRS. O evento tem o apoio institucional do CDEA, da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Proex) e Escola de Humanidades da PUCRS.

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