Institucional

Administração baseada em evidências

sexta-feira, 09 de dezembro | 2016

O novo Vice-Reitor da PUCRS, Jaderson Costa da Costa, assumiu o cargo nesta sexta-feira, 9 de dezembro, no Centro de Eventos da Universidade, prédio 41 do Campus. Costa atua como diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer/RS). O neurologista concedeu uma entrevista para a Revista PUCRS, que você pode conferir na íntegra abaixo.

Suas leituras evidenciam um homem eclético e com múltiplas atividades. Duas obras sobre universidade dão conta do novo desafio como Vice-Reitor da PUCRS. Diário de uma torcedora, escrito por uma paciente com lesão cerebral, evidencia as relações que não quer perder. Devidamente catalogados, numa estante no gabinete do pesquisador com reconhecimento internacional, estão livros de neurociências. Essa experiência ele leva para a gestão, trabalhando como um médico e cientista: a partir de evidências.

Nascido em Rio Grande (RS) há 68 anos, está na PUCRS desde 1973. A ligação com os maristas começou com o pai, contador, que estudou no Colégio São Francisco e chegou a ser aluno do Ir. José Otão e do Ir. Roque Maria. A mãe era professora. Com a vinda da família para Porto Alegre, o menino foi para o Colégio Rosário. Quase o trocou pela escola pública, mas permaneceu estudando com uma bolsa parcial que ganhou dos irmãos por ser ótimo aluno. Fez Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde participou de pesquisas científicas desde os primeiros anos.

Na PUCRS, ajudou o professor Roberto Guerra Santiago a iniciar a disciplina de Neurologia na Faculdade de Medicina quando ainda era residente na área. Na época não havia tomografia computadorizada, muito menos ressonância magnética. Dependia-se muito de uma clínica apurada. “Tive uma sólida formação com os melhores recursos de então”.

Em 1978, foi para a Universidade de Harvard (EUA) continuar seus estudos e teve contato com os mais renomados cientistas. “Fui fazer um lanche num bar do campus e um senhor falou comigo. Quando olhei seu nome, vi que era o de uma síndrome. Não sabia se conversava com ele ou se comia. Comecei a entender que os grandes cientistas são pessoas comuns, não semideuses. Era possível fazer isso no Brasil”.

Diz que chegou à gestão por acaso. A partir da década de 1980, chefiou o Serviço de Neurologia do Hospital São Lucas, levando a área a destaque nacional e internacional. Depois foi o primeiro diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas. E, desde 2012, lidera o InsCer, que ajudou a criar e viabilizar. Esperava concluir a consolidação do Instituto e buscar outros desafios, quando foi convidado para assumir o novo cargo.

Jaderson Costa da Costa

Foto: Bruno Todeschini – Ascom/PUCRS

A que fatores o senhor atribui a sua escolha como Vice-Reitor?

Para mim, era inimaginável, pelo que tinha estabelecido como trajetória. Estava muito claro que eu deveria completar o Instituto do Cérebro. O convite foi de muita sensibilidade. Meu diálogo com o provincial deve ter durado mais de uma hora. Fiquei surpreso. Entraram no entendimento minha trajetória e a íntima ligação com a irmandade – desde meu pai, passando por mim, meus filhos, que estudaram aqui, e agora meus netos, que estão no Rosário. O InsCer hoje é um case de sucesso na pesquisa, no ensino e na gestão. Esses foram pré-requisitos. Entendo também como um convite à área da saúde. É um grande desafio.

 

Como o primeiro leigo depois de muitos anos na gestão da PUCRS (o reitor empossado em 1948 foi o professor Armando Câmara), qual será a sua contribuição?

Não é muito diferente da que daria um irmão marista. Ao encarar como uma missão, os olhares não mudam muito. Talvez a maior contribuição é por conhecer bem a saúde. Eu posso ajudar, ao aglutinar pessoas, a repensar áreas e preparar a Universidade para novos desafios. Vou contribuir na interlocução e na busca de políticas baseado em evidências científicas sem perder de vista a humanização de todas as áreas.

 

Qual papel o senhor desempenhará?

Quando se faz uma proposta, é preciso ter elementos para decidir, o que reduz o erro e o achismo. As evidências reforçam as decisões. Ter indicadores e levar em conta a literatura evitam que reinventemos a roda e possibilitam a adaptação à nossa situação. Devemos lembrar que tudo deve ser centrado na pessoa. Não se pode pensar em tecnologia e ciência que não tenha esse viés. No InsCer, por exemplo, as pesquisas buscam soluções para as doenças dos pacientes. Estamos interessados na cura.

 

O senhor cuidará de projetos relacionados à sua área de origem?

Serei vice-reitor de todas as áreas, embora tenha conhecimento maior da saúde. Não acho que deva levar esse traje para a Reitoria. Está dentro das minhas qualidades que pode ajudar a compor. Não devemos entender a reformulação na área da saúde, com as dificuldades que passa, porque determinadas pessoas são melhores ou piores, mas por necessidade de reorganização do sistema de governança e gestão. Precisamos repensar esses aspectos, buscando maior agilidade à tomada de decisão e com processos de avaliação e controle atuais.

 

O que isso visa a melhorar?

Temos uma grande área, formada por algumas ilhas por vezes isoladas. Precisamos transformá-la num arquipélago ou num continente. Temos o InsCer, o Centro Clínico, o Hospital São Lucas, o Instituto de Pesquisas Biomédicas, o Instituto de Geriatria e Gerontologia, a Escola de Medicina, a Faculdade de Enfermagem, Fisioterapia e Nutrição. Na visão de unidade, é fundamental a interação com outras áreas, como educação, direito, humanidades, linguística, física, engenharias, química e as de natureza tecnológica. Temos a maior obra social da Rede Marista, que é o Hospital, por onde passam 19 mil pessoas por dia, e precisa de um olhar especial. Lida com pacientes muitas vezes em estado crítico e tem uma grande demanda de consultas em seus ambulatórios. É o que mais sofre, em termos de recursos financeiros destinados à saúde.

 

Como o senhor vê a PUCRS hoje?

A Universidade se transformou e, na gestão Clotet, teve um salto de qualidade no processo de internacionalização. Começou a ser reconhecida por todas as parcerias internacionais firmadas e por grandes eventos com a participação de pesquisadores de diversos países. A PUCRS hoje tem uma estrutura complexa, altamente diferenciada e busca novos desafios.

 

O que faz como lazer?

Leio. Estou lendo sobre universidade empreendedora, sobre gestão, Sapiens, de Yuval Harari, e A Saúde no Brasil em 2021. Quando entro na Amazon e mostram meus possíveis interesses, aparece de tudo. Não conseguiram ainda definir o meu perfil.

 

De que tipo de música o senhor gosta?

Se pegar o iTunes, tem de tudo. Gosto de ópera, música clássica, mas não sempre. Depende do momento. Em situações descontraídas, com amigos e família, ouço música popular. Sendo boa música, gosto.

 

Um filme.

Gosto de cinema mais cult. Cito O Ovo da Serpente e Das Weisse Band, que nos remetem à origem do mal, ao pré-nazismo. Mas também aprecio os filmes atuais, principalmente de ficção científica.

 

O senhor acredita em Deus?

Sim. Falo em espiritualidade, hoje uma das dimensões do bem-estar, segundo a Organização Mundial da Saúde. Quando você trata de paciente, isso está presente sempre. Aquele é um momento mágico. O cuidar é a síntese da espiritualidade.

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