15/10/2021 - 17h19

Possibilidades para pensar o bem-estar docente: resistir, dialogar e transformar

Artigo escrito pelas professoras Fernanda Silva do Nascimento e Bettina Steren dos Santos

Professora Bettina Steren/Foto: acervo pessoal

Estamos no dia 15 de outubro, período em que costuma mobilizar diferentes frentes no reconhecimento e valorização de uma profissão que contribui com tantas outras: Dia das Professoras e Professores.

Em 1994 a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO em colaboração com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) versou sobre o Estatuto dos Professores e reconheceu o dia 5 de outubro como Dia Mundial dos Professores. Já, no Brasil, o dia 15 de outubro está relacionado às decisões tomadas desde o período Imperial com a criação do Ensino Elementar por D. Pedro I.

A pandemia de coronavírus veio reforçar os desafios enfrentados na constituição de milhares de docentes do país. Evidencia-se que as discussões sobre as incertezas e o destino da educação tornaram-se presentes nas diferentes regiões. No entanto, cabe destacar alguns aspectos que nos aproximam e nos distanciam em nossa própria profissão.

As condições do trabalho docente estão relacionadas com os fatores paradigmáticos, históricos, políticos, socioculturais e econômicos que envolvem a educação. Ou seja, se associam às concepções sobre o papel, valor e função da profissão às políticas públicas da educação, infraestrutura das instituições, formação, salários, gestão escolar, esferas pública e privada, modalidades de ensino, gênero, classe, identidades e questões socioafetivas.

Tanto tem se falado sobre o Burnout (FREUNDENBERG, 1974), a exaustão física e emocional, incentivando o debate sobre a saúde mental e o adoecimento de milhares de profissionais. Nesse sentido, é possível destacar o fenômeno do “mal-estar docente” cada vez mais presente no país e em seus diferentes contextos.

Professora Fernanda Silva do Nascimento/Foto: Acervo Pessoal

O “mal-estar docente” tornou-se objeto de estudo entre as décadas de 70 e 80 no Brasil. A natureza de seus fatores e indicadores fazem da temática uma questão complexa, das quais diferentes áreas podem contribuir com a reflexão sobre suas causas e possibilidades de enfrentamento. No entanto, é primordial a escuta e reconhecimento da pessoa-docente pela sociedade. Afinal, tratam-se de vidas, trajetórias, lutas, resistências e escolhas diárias que traçam como é ser, estar e tornar-se docente no Brasil.

As pesquisas realizadas pela doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação, Fernanda Silva do Nascimento, sob orientação da Dra. Bettina Steren dos Santos e parceria com o Grupo de pesquisa Promot (PUCRS) apontam que determinadas concepções de educação e das ciências têm reunido os aspectos afetivos, emocionais e psicológicos às questões cognitivas e sócio-históricas mostrando a necessidade de superar o pensamento disjuntivo e fragmentado por ideias mais abrangentes e dialógicas.

Os principais resultados apontam que o fenômeno do mal-estar docente está presente em escolas públicas e privadas do Rio Grande do Sul, assim como foram identificados elementos que contribuem com a promoção do bem-estar docente.

Observou-se que há uma correlação entre as esferas no que tange: a sobrecarga de trabalho, a percepção de desvalorização da profissão por parte da sociedade e os desafios relacionados às exigências e excesso de dedicação. Ademais, verificou-se que as relações interpessoais negativas, autoritárias e abusivas em certas instituições e os conflitos ideológicos contribuem com o desenvolvimento do mal-estar docente. Já os baixos salários, apontados com frequência, fazem com que docentes busquem mais de uma escola para trabalhar a fim de complementar suas rendas resultando em sobrecarga e estafa profissional.

Alguns desafios foram potencializados tendo em vista o ensino remoto emergencial: dificuldades no uso das tecnologias digitais, falta de recursos para melhor acessibilidade de docentes e estudantes e as incertezas e inseguranças geradas pelos altos índices de mortalidade, riscos de contaminação, precarização do trabalho, desigualdade econômica-social, negacionismo e medidas adotadas pelo atual governo do país.

As principais estratégias empregadas para enfrentamento pelos profissionais envolveram: o autoconhecimento (autoconceito, autoimagem, autoestima, imagem profissional), uso de recursos financeiros próprios ou familiares, exploração de metodologias de ensino criativas, formação continuada, parceria entre colegas de trabalho e apoio de profissionais da área médica e psicológica.

Enfatiza-se que o corpo docente deve ser escutado para que se possa compreender suas reais necessidades, os projetos pedagógicos e investigativos precisam ser construídos com a colaboração da comunidade educativa que somos convidadas a construir legitimando as propostas pedagógicas das instituições e reduzindo o distanciamento entre o que se diz, se inscreve nos textos normativos e o que se faz em nossa sociedade.

Além disso, o bem-estar docente se destacou orientado pela satisfação e valorização profissional, motivação e autorrealização. Não envolve somente às questões de saúde mental e deixa em evidência a necessidade de investimento das diferentes frentes e a relevância dos aspectos da resiliência, formação permanente, afetividade (do afetar-se), trabalho colaborativo e reconhecimento das iniciativas e instituições que contribuem com a promoção do bem-estar. Ainda que se considere seus traços subjetivos, se exibe o caráter político e a importância das relações dialógicas e coletivas em assegurar os direitos do professorado. O que temos feito?

Estamos diante de uma situação que envolve uma mudança de cultura, que implica o envolvimento de toda a sociedade para poder transformar a Educação e consequentemente a qualidade de vida dos cidadãos, milhares de professoras e professores.

Ma. Fernanda Silva do Nascimento (Doutoranda em Educação) e a Dra. Bettina Steren dos Santos.

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