Área em São Francisco de Paula tem 2,4 mil hectares

AmbienteFOTO: DIVULGAÇÃO/IMA

Pró-Mata: conhecer para conservar

Centro é reconhecido como Reserva Particular do Patrimônio Natural no governo federal e se torna a maior unidade de conservação privada do RS

POR VANESSA MELLO

Com 2,4 mil hectares e extensas áreas de Mata Atlântica, florestas de araucária e campos naturais, o Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza (Pró-Mata), em São Francisco de Paula, foi reconhecido como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Todos os requisitos administrativos junto ao ICMBio e a oficialização foi publicada no Diário Oficial da União. O Pró-Mata se tornou a maior RPPN do Estado e passa a integrar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Desde sua inauguração, em 1996, o Pró-Mata constitui-se no viés ambiental dos princípios maristas para educação, pesquisa e extensão, priorizando a formação de pessoas e a geração de conhecimento. Com esse novo status oficial, fica assegurado que será sempre uma área de conservação do meio ambiente em seu estado mais natural. “Para sempre será destinado à conservação da biodiversidade e da paisagem local”, destaca o coordenador científico, Pedro Ferreira.

Até o momento, as visitações são vinculadas a projetos de pesquisa, ensino e extensão, mas atividades de ecoturismo estão sendo planejadas. “O plano de manejo será atualizado para implementar modificações estruturais que possibilitem o turismo. Um plano de uso público norteará as visitações, sem que impactem na conservação da biodiversidade e nas atividades de ensino e pesquisa”, explica Ferreira.

Inicialmente, a equipe pensa em realizar visitas guiadas em parceria com operadoras de turismo da região de São Francisco de Paula, onde o Pró-Mata está inserido. Visitas de escolas também serão estimuladas. A identidade visual das trilhas está sendo adequada para que o visitante tenha uma experiência mais interativa e entenda o espaço que observa. Também está em desenvolvimento o manual do usuário, que será entregue na entrada do Centro, com informações, mapa, normas e recomendações.

Segundo Ferreira, a ideia de abrir o espaço para o público é criar um sentimento de pertencimento em relação ao meio ambiente. “Há uma premissa básica na biologia da conservação: só se preserva o que se conhece. O Pró-Mata é uma ferramenta didática de conscientização e ensino”, afirma.

Natureza exuberante caracteriza a região na Serra gaúcha

FOTO: BRUNO TODESCHINI

Guia de Pegadas mapeia mamíferos

Em setembro, foi lançado o Guia de Pegadas de Mamíferos do Pró-Mata, em celebração ao Dia de Defesa da Fauna. Inicialmente, reúne 28 espécies, trazendo ilustrações, características de cada animal e uma imagem da pegada. Está disponível on-line nas versões mobile e desktop. A ideia é que os visitantes acessem o material no celular durante a visita ao Centro, aumentando a interação ao procurarem pegadas e, assim, o potencial de sensibilização e impacto das trilhas na educação ambiental. Este é o primeiro produto na linha didática. Flora e aves também ganharão guias.

A equipe do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS (IMA), no qual está inserido o Pró-Mata, também prepara uma publicação com lista de plantas vasculares. São mais de 800 espécies, algumas descritas pela primeira vez para a ciência, como a Senecio promatensis, que ganhou esse nome em homenagem ao Centro. Da mesma forma, muitas espécies de animais foram descobertas na área de conservação, como o lagostim Parastacus promatensis.

Programa monitora biodiversidade

Pela primeira vez, o IMA terá um monitoramento permanente e institucional da biodiversidade existente no Pró-Mata. Câmeras especializadas instaladas na natureza, com sensores infravermelhos, detectam movimentos e gravam um pequeno vídeo toda vez que um animal é detectado. O objetivo é observar a frequência de visitação da fauna e ser uma fonte de dados de longo prazo para monitorar potenciais mudanças no futuro, ligadas a alterações na paisagem ou climáticas.

Armadilha fotográfica captou imagem de puma, o leão baio

FOTOS: DIVULGAÇÃO

São oito armadilhas fotográficas distribuídas em trilhas, no interior da floresta e em ambientes campestres. Iniciado em março, o projeto já registrou imagens de puma, veado-catingueiro e jaguatirica, dentre diversas espécies. “Quando o Pró-Mata foi criado, há mais de 20 anos, a região do entorno era composta por áreas de floresta com araucária, Mata Atlântica e Campos de Cima da Serra. Há cerca de 15 anos, ao andar na estrada próxima a São Francisco de Paula, víamos vegetação natural, floresta e campo nativo. Hoje se vê muita lavoura e silvicultura. A região no entorno tem sido modificada e, se essa paisagem continuar sob pressão de conversão de hábitat, o número de animais no Pró-Mata reduz, pois estarão morrendo, ou aumenta, pois procurarão o Centro como refúgio”, constata Ferreira.

O Pró-Mata tem ocorrência de espécies ameaçadas tanto da flora quanto da fauna. A mais emblemática é o leão baio, mais conhecido como puma, o maior felino da região. Até o momento, sabe-se de dois indivíduos, que foram vistos juntos. Aspectos de morfologia, no entanto, sugerem a existência de um terceiro animal. Na lista de plantas ameaçadas e que estão presentes no Centro, destaca-se o conhecido pinheiro-brasileiro, a araucária.

Sala de aula ao ar livre

Todos os cursos da PUCRS podem utilizar a estrutura do Pró-Mata para realização de disciplinas, bem como pesquisadores para desenvolver suas investigações. “É um grande living lab, excelente ferramenta de ensino. Buscamos a aproximação com todas as graduações na ideia dos percursos formativos. Temos cozinha para aulas da Nutrição ou da Gastronomia. Recebemos a visita de um professor da Educação Física sobre a possibilidade de realizar a disciplina de Atividades ao Ar Livre. A prática de fotografia, seja da natureza ou de um céu noturno, por exemplo, são outras opções”, sugere Ferreira.

O Centro também é destino de pesquisadores internacionais. Há cerca de três anos um professor do Smithsonian Museum (EUA) desenvolve projeto de pesquisa com aves do Pró-Mata. Ele e sua equipe foram os primeiros a colocar na Araponga um pequeno GPS para estudar seu comportamento migratório. Anualmente, uma turma da Universidade de Tübingen (Alemanha) vem pesquisar formações ecológicas do Brasil, escolhendo o Pró-Mata como bioma da região Sul. A Concordia University of Edmonton (Canadá) também traz seus alunos para a reserva natural. Outro exemplo é o curso de anilhamento de pássaros, promovido pela UFRGS, e que reúne pesquisadores de todo o mundo.

Um pouco de história

191Ambiente(Foto6Págs.22a25)

Pesquisadores alemães no 8º Simpósio Brasil-Alemanha, em 2017

O Pró-Mata foi concebido pela PUCRS como uma área voltada para a pesquisa e a conservação da natureza, a geração e a divulgação de conhecimento científico e o desenvolvimento sustentável. O projeto teve apoio da Universidade de Tübingen e a empresa alemã Stihl, sendo inaugurado em 1996. Sua infraestrutura permite hospedagem e alimentação para até 40 pessoas, com rede wireless, salas de aula com recursos audiovisuais, laboratórios de trabalho, trilhas e mirantes. O Centro foi formado por meio da compra de 17 fazendas, inclusive com presença de madeireiras, e hoje a área se apresenta como um mosaico de campos, florestas primárias e áreas em regeneração. “São justamente essas áreas em regeneração que representam um capital ambiental importante para a PUCRS”, afirma o diretor do IMA, Nelson Fontoura.

Através de projeto internacional em consórcio com 14 universidades europeias e latino-americanas (Erasmus+), a Universidade fará a medição de sua pegada de carbono. O Pró-Mata pode fazer toda a diferença no balanço institucional de emissão de gases-estufa.