Há mais de 30 anos anos na PUCRS, ela é uma referência no estudo sobre abelhas sem ferrão

PerfilFOTO: BRUNO TODESCHINI

Paixão pela natureza

Betina Blochtein, diretora do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais, agora é bolsista de produtividade do CNPq

O jeito calmo e doce e a paixão por cozinhar, costurar e cuidar da horta podem não demonstrar toda a força e determinação de Betina Blochtein. Há mais de 30 anos na PUCRS, ela tem uma trajetória reconhecida na docência, na pesquisa – é uma referência em abelhas – e também na gestão. Agora, a professora da Faculdade de Biociências e diretora do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais, acaba de conquistar, pela primeira vez, uma bolsa de produtividade do CNPq (liderança na área, formação de pessoas, reconhecimento no país e no exterior e volume de produção). Foi sua terceira tentativa. “É uma premiação. A produção científica registra e consolida o conhecimento que organizamos ao longo da vida”, analisa.

Natural de Cruz Alta, neta de imigrantes lituanos, filha de um médico e de uma comerciante, bem pequena lembra de deitar no pátio de casa para observar os insetos. Gostava da natureza, das flores, de ver as formigas carregando folhinhas. “São parentes próximas das abelhas, insetos sociais”, frisa. O pai queria que ela e os três irmãos fizessem Medicina. “Com sete anos, me levou para assistir uma cirurgia. Pensei que não queria aquilo, fiquei com pena da pessoa.”

Aos 14 anos, depois de sempre estudar em escolas públicas, veio para Porto Alegre ingressar no Colégio Israelita. Foi morar com as duas irmãs mais velhas num apartamento no Bom Fim. Diverte-se contando que, na hora do almoço, enviavam um “boletim” para os pais, via radioamador. “Telefone era caro e eu tinha meu próprio prefixo, o PY3 WIL! No aparelho, cheio de chiados, encontrávamos a frequência deles e dávamos todas as explicações do dia. Havia liberdade, mas éramos monitoradas”, lembra.

Na hora do vestibular, ficou em dúvida entre Agronomia e Biologia. Entrou na PUCRS em 1978 para ser bióloga e teve a certeza da escolha certa. “Era motivada, curiosa, amiga dos professores, em especial do Arno Lise, de que que vim a ser colega depois”, conta. Também era fotógrafa de natureza. Nos seus acampamentos e mochilões pelo Brasil, Bolívia, Peru, Equador e México, levava consigo a câmera Minolta que ganhara do pai.

“Quando vi os pesquisadores analisando favos de crias de abelhas na lupa do microscópio, fiquei alucinada! Tinha 23 anos e queria ser cientista”.

As abelhas

Depois de um estágio na Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária, no qual teve o primeiro contato com a entomologia (área da zoologia que estuda os insetos), no final do curso Betina foi conhecer a Associação Gaúcha de Apicultores, levada pelo professor Nelson Ivo Matzenbacher – então colunista no Correio do Povo sobre Flora Apícola. “Ele está com 90 anos e é meu amigo até hoje.” Lá, fez curso de apicultura e passou de aluna à professora. As abelhas nunca mais saíram da sua vida. “Recém-formada, cheguei a ter 40 colmeias em um sítio em Barra do Ribeiro”, relata.

Ficou na prática da apicultura por quase três anos, quando teve oportunidade de acompanhar dois pesquisadores, um americano e o alemão Dieter Wittmann, da Universidade de Tübingen, em missão ao RS. “Quando os vi analisando favos de crias de abelhas na lupa do microscópio, fiquei alucinada! Era exatamente o que eu queria fazer. Precisava estudar, queria ser cientista. Tinha 23 anos”, revela.

A carreira acadêmica decolou e a família cresceu. Com Dieter como orientador, Betina começou o mestrado na PUCRS. Durante o curso, teve suas duas filhas, Ana Paula e Aline. Finalizada a dissertação, fez um churrasco para comemorar e o mestre lhe acenou com o doutorado em Tübingen. “Consegui bolsa integral de quatro anos, mas antes mergulhei num intensivo no Instituto Goethe, porque não falava alemão.”

Da Alemanha para PUCRS

O período na Alemanha com o marido e as meninas pequenas foi de desafios, aprendizado e adaptação. Terminou o doutorado em novembro de 1995 e voltou ao Brasil. “Pensava em descansar uns seis meses, mas 15 dias depois ligou o professor José Willibaldo Thomé, diretor da Biociências, me convidando para ser professora. Trabalhavam no projeto Mil para o Ano 2000, que visava à formação de professores mestres e doutores”, conta.

Betina estava pronta. Começou a dar aulas de Histologia para vários cursos, inclusive Medicina. O então reitor Norberto Rauch a designou para ser a coordenadora científica do Pró-Mata, recém-inaugurado. “Senti que o trabalho seria consistente, volumoso, de grande responsabilidade, formar pessoas, cuidar de áreas distantes. E tem sido assim, maravilhoso, ao longo dos anos.”

Hoje, aos 56 anos, ela divide a academia com os cuidados da casa, onde cria abelhas, tem um laguinho com peixes coloridos, uma horta, plantas carnívoras, prepara apple strudel e cultiva um butiazeiro “de estimação”, com o qual faz geleia, sorvete e suco. Nos seus planos, sonha em fazer um pós-doc, ter um período sabático, mas também empreender e inovar na área das abelhas, claro.