Baleia Jubarte no Arquipélago dos Abrolhos

AmbienteFoto: Bárbara Menegotto

O genoma da vida marinha

Grupo de estudos investiga evolução e conservação de baleias e golfinhos

Por Vanessa Mello

Estudos de evolução e de conser­vação de mamíferos marinhos, sequenciamento genético, de iden­tidade e diversidade, conexão e mi­gração entre a população de baleias brasileiras e do mundo. O grupo de pesquisa coordenado pelo professor Sandro Bonatto, do Programa de Pós­-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade, da Escola de Ciên­cias, é um dos maiores na área no Bra­sil, e atua em parceria com o Instituto Baleia Jubarte (IBJ) desde 2000 – loca­lizado na cidade de Caravelas, extremo sul da Bahia, criado pela diplomada Márcia Engel –, e com a Petrobras.

No Laboratório de Biologia Ge­nômica e Molecular, estudantes de graduação, mestrado e doutorado desenvolvem atividades com apoio do professor, de técnicos e outros pesquisadores. “Sequenciamos o genoma inteiro de baleias Jubarte, Azul e outras em oceanos do mundo para um projeto de doutorado”, revela Bonatto. Ao traçar a evolução histó­rica, é possível compreender certos comportamentos do passado e pen­sar hipóteses relacionadas a acon­tecimentos atuais. “Pelas mutações no DNA, podemos avaliar como foi a flutuação da população a que seus ancestrais pertenciam. Em termos de conservação, podemos correlacionar a influência das mudanças climáticas no comportamento das populações. Nos próximos 50 anos, a temperatura vai aumentar. Quais as consequên­cias disso?”, questiona.

Em outo projeto de doutorado, uma pesquisa com lobos e leões- ma­rinhos analisa a filogenia e a evolução de genomas de 11 espécies. Um deles é da espécie de Galápagos que, to­talmente isolada, em momentos de El Niño e mudança climática cruza com indivíduos da costa do Pacífico. “Essa população híbrida está na cos­ta do Peru”, revela. Já o genoma de golfinhos Stenella clymene é objeto de estudo no mestrado e, por meio do sequenciamento genético, se mostra que não é um híbrido de outras espécies conforme se pensava.

Coleta na Bahia, análise na PUCRS

Todos os anos, como parte das atividades de monitoramento da população que se reproduz no li­toral da região Sul do Arquipélago dos Abrolhos (BA), são coletadas entre 50 e 100 amostras de baleias Jubarte brasileiras. O material é enviado para a PUCRS, onde é feita a análise de identidade gené­tica e comparação com o que está catalogado. “Já reamostramos vários indivíduos ao longo dos anos. Em 2010 confirmamos com análises genéticas que uma baleia encalhada em 2000 era a mesma reavistada pelo IBJ em 2008. Foi a primeira vez que uma Jubarte en­calhada foi reavistada tantos anos depois”, garante Bonatto.

NA TRILHA DOS CETÁCEOS

No Laboratório: estudantes de graduação, mestrado e doutorado com Sandro Bonatto

Foto: BRUNO TODESCHINI

Para avaliar as possíveis conse­quências da exploração do Pré-Sal para o meio ambiente, a Petrobras mantém um programa de longo prazo de mo­nitoramento, sendo um deles de cetá­ceos. As amostras de baleias e golfinhos coletadas na bacia de Santos são envia­das para análise na PUCRS.

O grupo de pesquisa adaptou uma técnica criada na Austrália para estimar a idade das Jubarte usando o DNA da pele e deve publicar, ainda em 2019, um estudo so­bre a longevidade da espécie. Ao todo foram 18 amostras de idades variadas, de 2 a 48 anos, sendo uma mescla de material da Petrobras e do IBJ.

Temporada com as baleias Jubarte

Bárbara: “Me senti parte da conservação”

Foto: Arquivo Pessoal

A aluna de Biologia Bárbara Mene­gotto realizou estágio no IBJ entre julho e dezembro de 2017, participan­do de atividades na região de Abrolhos. Observou baleias a bordo de um barco, identificou caudas – que são únicas, como a impressão digital – e as com­parou às manchas por meio de fotos, coletou material com uma ponteira menor que cinco centímetros enquan­to estavam adormecidas, fez triagem e catalogação de amostras, posterior­mente enviadas à PUCRS para análises. “Participei de atividades de encalhe em uma área de 500 km de extensão, trabalhei em embarcações de turismo e realizei necropsia de golfinhos e bo­tos, limpando os ossos para montar os esqueletos de museus”, descreve.

Desde que retornou, foi convidada a dar palestras para colegas do curso e falar da experiência, que recomenda. “Esses animais são majestosos e é mui­to especial vê-los em ambiente natural, sem agredir ou invadir o espaço onde vivem. Como bióloga tive a experiência do que é se desprender das coisas e me senti parte da conservação das Ju­barte, fazendo pesquisa sem nenhum animal ser morto”, conta a aluna que também é funcionária na secretaria da pós-graduação da Escola de Negócios.

Veja galeria de fotos da região de Abrolhos

Bárbara Menegotto tem uma paixão por animais que começou aos 6 anos, quando assistia a quadros do biólogo Sérgio Rangel em um programa de TV. Queria ser como ele e, quando viu na secretaria da Escola de Ciências um cartaz para estágio no IBJ, não pensou duas vezes. Enviou currículo, participou de entrevista e foi selecionada. Entre julho e dezembro de 2017, realizou diversas atividades na região de Abrolhos.

Dentre as atividades que desenvolvia no IBJ, Bárbara participava de atividades de encalhe em uma área de 500 km de extensão, do norte do Espírito Santo até um pouco acima de Porto Seguro, conhecendo mais de 10 municípios.

Quando uma baleia está encalha, viva ou morta, o IBJ vai ao local. Se o animal está morto, mas a carcaça ainda está fresca, a equipe faz necropsia na beira da praia para análises posteriores a serem realizadas na PUCRS. Se o encalhe é vivo, avaliam as condições de retirada e contatam a prefeitura local para tentar barco de remoção ou escavadeira. Alguns animais chegam a pesar cerca de 30 toneladas.

Bárbara também atuou em embarcações de turismo, dando palestras sobre as baleias Jubarte e a região. “Quando ancoramos em abrolhos é possível fazer trilhas. É uma experiência de vida que recomendo a todos. Esse passeio é disponível para turistas”.

Para a observação de baleias, Bárbara ficava três dias em alto mar, sem água potável em abundância, com sal no rosto o tempo todo e com o balanço das ondas 24 horas por dia.

Em um local chamado Kitongo, casa que pertence ao IBJ, na beira do rio Caravelas, as voluntárias do IBJ limpam ossos de golfinhos e fazem necropsias dos animais encontrados mortos. “A gente limpava os ossos para montar os esqueletos de museus.”

Bárbara e as colegas de estágio ficaram em alojamento do IBJ, em Caravelas. “A cidade é a segunda fundada no Brasil. As casas não têm janela, somente as de esquina.”