Futebol adaptado pode ser praticado sem riscos para jogadores com idade a partir de 60 anos

SaúdeFoto: Bruno Todeschini

Nunca é tarde para jogar bola

Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS cria iniciativa de futebol de campo adaptado para idosos

POR EDUARDO WOLFF

“Bola esticada para Tarcísio Flecha Negra pela ponta. Ele passa de forma fulminante pelo lateral e cruza na área. O goleiro sai da meta e espalma para o meio. Detefon se antecipa aos zagueiros e bota a bola no fundo na rede. É gooooool!” Essa narração poderia ser de um jogo dos anos 1960 ou 1970, mas não é. Na realidade, o gol marcado é da final do Campeonato Gaúcho de Futebol Master de 2004, entre Grêmio x Esportivo, no qual Detefon, ou Pedro Eduardo Schmitz Cocaro, hoje com 74 anos, foi o autor de um dos tentos do título.

Quase todos os sábados, em uma quadra de futebol sete, Pedro “bate uma bolinha” com seus amigos. “Tenho uma paixão por fazer gol, me sinto bem jogando”, salienta. Nascido no  interior gaúcho, em Santiago, a sua trajetória no futebol começou de forma mais intensa em 1956, quando veio para Porto Alegre disputar um torneio de times de várzea, despertando a atenção de olheiros do Grêmio. Durante os anos de 1959 a 1963, fez parte das categorias de base do Tricolor Gaúcho, quando ganhou o apelido Detefon, uma alusão à semelhança física com um jogador do time profissional. No entanto, quis o destino que não chegasse à equipe principal. “Naquela época, o futebol não dava muito dinheiro. Recebi um grande convite para jogar pelo banco Banorte, em Recife, e lá atuei por alguns anos”, explica. Com o passar dos anos, o centroavante continuou a marcar os seus tentos em campeonatos no campo e na praia. Além do futebol, Detefon mantém a sua saúde e disposição com exercícios na academia.

“A prática esportiva contribui para que as pessoas consigam uma velhice mais autônoma e independente. Reduz o isolamento social, melhora a autoestima e a autoconfiança”, destaca o diretor do Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG), Newton Terra. Aliando o bem-estar e a paixão pelo esporte, o geriatra lançou recentemente o livro Futebol de campo adaptado para idosos, pela Edipucrs.

A obra tem como coautor Pedro Krieger Terra, professor de Educação Física e responsável pela disciplina de Atividade Física e  Envelhecimento, realizada no IGG. A obra apresenta diversas recomendações sobre o futebol adaptado que pode ser praticado sem riscos à integridade física de jogadores com idade a partir de 60 anos. Uma das principais mudanças está relacionada às dimensões. Por exemplo, o campo adaptado mede 70/50m (o oficial 90m/120m). A goleira mede 2,10 metros de altura por 6,30 metros de largura (2,44 metros por 7,32 metros é a medição normal). O peso da bola é mais leve que a oficial – entre 410 a 450 gramas: de 370 a 390 gramas, com material de couro sintético, forro de poliéster e a prova d’água. Os calções têm a orientação de ter proteções de fibra siliconada ou manta acrílica nas laterais, com objetivo de evitar traumas. A camiseta do goleiro deverá ser de manga comprida, com proteções na região do tórax e dos cotovelos.

Esporte para uma vida melhor

O percentual de idosos no Brasil que pratica alguma atividade física regular é de somente 20%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme destaca Pedro Terra, professor de Educação Física do IGG, a prática regular de exercícios na terceira idade melhora a qualidade da massa óssea, fortalece a musculatura, a resistência física e a qualidade de vida. “Permite uma melhor capacidade de respiração e postura, além de prevenir e tratar muitas doenças que incidem na velhice”, esclarece.

A última versão do relatório de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta recomendações profundas na maneira de formular práticas de saúde e prestar serviços aos idosos. O documento sinaliza que o Brasil tem potencial para transformar a maneira como os formuladores de políticas percebem o envelhecimento da população e como ajudá-la na busca de um envelhecimento saudável e com qualidade.

A ideia dos profissionais do IGG é de que o campo de futebol adaptado para idosos seja uma realidade em parques e praças de várias cidades. “Gostei da ideia, certamente jogaria algumas partidas”, elogia o centroavante Detefon.