Estúdio A e mais dois estúdios de cinema integram a estrutura do Tecna

CapaFOTOS: BRUNO TOESCHINI

Nova fase do Tecna traz fôlego para mercado regional

Centro Tecnológico Audiovisual do RS terá sua estrutura completa inaugurada em 2019

POR VANESSA MELLO

Uma sala de mixagem de som construída nos padrões internacionais de certificação THX e Dolby, três salas individuais para finalização de imagem, um laboratório de animação, jogos e efeitos visuais, três estúdios de cinema e TV (Estúdio A, inaugurado em 2017, Estúdios B e C), áreas de apoio, como camarim, sala de produção, marcenaria, acervo e espaço de catering profissional. Para usufruir dessa estrutura, que atende todo ciclo produtivo do audiovisual ou criativo digital, seja filme, jogo, aplicativo, série ou publicidade, não é necessário recorrer ao eixo Rio-São Paulo, muito menos ir a Hollywood. Tudo isso está concentrado no Tecna – Centro Tecnológico Audiovisual do RS, localizado no Tecnopuc Viamão, que inaugurará oficialmente sua infraestrutura completa em novembro.

É a primeira vez que o Sul do Brasil terá um ambiente tecnológico como esse, onde produtoras poderão se instalar nos diferentes espaços, da pré-produção à finalização, passando por cenário, figurino, ensaios, filmagens e som. O conceito do Tecna começou há oito anos, com visitas a centros audiovisuais mundo afora, pesquisas e consultorias para formatar o projeto e colocar em implantação. “A Universidade dedicou o mesmo fôlego e atenção durante toda a execução do projeto e agora concretiza o conceito de um centro tecnológico que apoia o ciclo produtivo do audiovisual, atendendo a diferentes fases e com capacidade de sediar várias produções ao mesmo tempo”, destaca a coordenadora do Tecna, Aletéia Selonk.

O Tecna chega com sua estrutura completa com uma aposta de competitividade, iniciada com o Estúdio A, para desenvolver e atrair talentos até mesmo globais. Cada produção que entrar no Centro irá gerar impacto no mercado regional, com criação de emprego e renda. “Quem contrata um estúdio contrata também serviços e fornecedores, mexe com o mercado de forma capilar. Ao recebermos produções de fora, atuaremos como embaixador do RS, recomendando e alavancando o mercado regional”, ressalta Aletéia.

O Centro teve como ponto de partida uma parceria entre a PUCRS, o governo do RS e a Fundacine. O ambiente de inovação e desenvolvimento tem infraestrutura voltada a ensino, pesquisa e integração com o mercado para o aperfeiçoamento de diversas especialidades da indústria criativa e audiovisual.

O professor João Guilherme Barone participou do embrião do Tecna. Lembra que o projeto começou com o objetivo de se montar um laboratório de som para as aulas de Produção Audiovisual, já se pensando no compartilhamento com o mercado. A ideia avançou, com a Universidade buscando alavancar o setor audiovisual do Estado, tendo como âncora o Tecnopuc. O primeiro projeto de sala de mixagem, que tinha por meta a certificação Adobe, evoluiu. “Hoje estamos atrás de um padrão de maior exigência, o THX, da empresa do George Lucas. Não é apenas mais um laboratório da Famecos, mas pretendemos contar com a segunda sala no Brasil com essa tecnologia de som para cinema”, conta Barone.

“O Tecna nasce com uma missão, um compromisso e um sonho. A missão de apoiar e se integrar ao ensino e à pesquisa da Universidade, o compromisso da sustentabilidade financeira e o sonho de ser decisivo no desenvolvimento do setor audiovisual do RS e também do Brasil”, destaca o pró-reitor de Administração e Finanças, Alam Casartelli.

Sala de Mixagem: padrões profissionais e internacionais

Mixagem no quintal de casa

Produtoras do RS, de Santa Catarina e do Paraná recorrem ao eixo Rio-São Paulo para finalização de som, o que implica gastos, além do aluguel de sala, com passagens, estadias e horas da equipe. Com a Sala de Mixagem – onde se conclui o desenho de som, balanceando todos os elementos de um produto audiovisual, como som ambiente, trilha e fala –, o Tecna permitirá a geração de produtos de qualidade, com mais cuidado e mais tempo, sem o peso das despesas do deslocamento. “A mixagem em padrões profissionais e internacionais será um processo acessível localizado aqui, ao acesso de todos, de modo a facilitar que os profissionais envolvidos retornem quando necessário. A perspectiva vai mudar em termos qualitativos para o RS de maneira especial, pois seremos uma opção para outros estados da região Sul. Com excelente qualidade e preço competitivo, podemos finalizar filmes do próprio eixo Rio-São Paulo, de outros estados do Brasil e, por que não, internacionais”, avalia Aletéia.

O ambiente foi construído com consultoria da THX (criada por George Lucas, diretor de Star Wars) e, em breve, buscará essa certificação, ligada às saídas sonoras no mais alto requinte da preparação da banda sonora e mixagem. Ainda este ano, o Tecna planeja receber a equipe da THX para testar a performance da sala. “O parâmetro analisa cada detalhe da performance acústica e sonora da sala. Como um centro de referência, queremos dar esse passo no contexto brasileiro. É um desafio que vamos conquistar, e que está muito ligado ao ambiente de universidade, de pesquisa e de excelência”, comenta. A estrutura está em vias da certificação Dolby.

Dentro dos ambientes de pós-produção, o Tecna conta também com três ilhas de edição individuais para finalização de imagem com colorimetria e efeitos visuais. Computadores extremamente potentes oferecem um refinamento de software, gerando arquivos de altíssima qualidade.

 

Área de catering profissional

Cultura da colaboração

As áreas de apoio do Tecna atendem às produções dos três estúdios. Podem sediar não apenas equipes que estão filmando, mas as em pré-produção. Além de camarim e sala de produção, oferece um espaço de marcenaria, que vai servir para a construção de cenários e produção de figurino. Já uma área de catering profissional atenderá a demandas de alimentação, com  cozinha industrial, buffet e mesas. As produtoras poderão contratar serviços de alimentação e utilizar o espaço.

Para evitar o desperdício de material, reduzir custos de produção e impacto no meio ambiente, o Tecna promove a cultura da colaboração. Ao lado da marcenaria, o Centro conta com um espaço de acervo, em que produtoras podem armazenar objetos e cenários até um próximo projeto, em um sistema de guarda. O reaproveitamento gera interações e networking, pois outras produções instaladas no Tecna podem usar material com pequenas adaptações.

 

Animação, jogos e efeitos visuais

Série Necrópolis, da Netflix: 70% das cenas foram gravadas no Tecna

FOTO: CAMILA CUNHA

Outra estrutura inaugurada no Tecna é o Laboratório de Animação, Jogos e Efeitos Visuais, com equipamentos robustos e sofisticados de software e hardware usados pela indústria profissional. Tudo acoplado a servidores que garantem rapidez e segurança no processamento da imagem, chamado de Render Farm. São nove postos de trabalho equipados com esses sistemas de uso compartilhado, assim como os estúdios e a sala de mixagem. “É uma semente para desenvolver mais esse segmento no RS. O mercado pode alugar quantas máquinas desejar pelo tempo que precisar, e nós também usaremos o espaço para processos de formação, pesquisa e parcerias”, revela Aleteia.

 

DO ESTÚDIO A PARA A NETFLIX

O Estúdio A, mais alto filão de tecnologia embarcada, foi a primeira entrega realizada pelo Tecna, em 2017. Durante esses dois anos, o ambiente tecnológico de cinema Animação, jogos e efeitos visuais e TV e suas áreas de apoio atenderam o mercado, sendo palco de 30 produções, entre curtas, médias e longas-metragens, séries de TV, publicidade e produção independentes que foram exibidas nas mais variadas plataformas: Netflix, TV a cabo, salas de cinema. “No verão de 2018, recebemos uma produção publicitária de direção argentina. Nessa lógica de mercado de coproduções, mesmo projetos internacionais podem ser atraídos para esse ambiente”, comenta a coordenadora.

Dentre as produções que passaram pelo estúdio, muitas estão circulando o mundo, sendo duas séries disponíveis na Netflix: Necrópolis e Alce&Alice. “A estrutura do Tecna foi essencial na gravação de Necrópolis. Nossa locação principal foi construída dentro do Estúdio A, onde cerca de 70% das cenas acontecem. Outras cenas foram gravadas nas imediações e áreas externas do Centro. A amplitude de possibilidades do Tecna permitiu à série ter um valor de produção competitivo, mesmo com orçamento bastante baixo para os padrões da produção audiovisual brasileira”, comenta Tiago Rezende, sócio-fundador da Verte Filmes.

Segundo o roteirista, a infraestrutura permitiu não só criar os cenários principais, mas também acolher a produção com um ambiente confortável e preparado para a gravação de um seriado de oito episódios. “Esses fatores são determinantes na qualidade do resultado da produção, então acredito que o Tecna ajudou a série a chegar na Laboratório conta com equipamentos sofisticados de software e hardware Netflix”, reconhece Rezende.

 

Ecossistema de inovação e ensino

Por estar ligado à PUCRS e dentro do Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc), o Tecna tem entre seus diferenciais a convivência entre estudantes, professores, pesquisadores, profissionais e empresários da indústria criativa e audiovisual, com ativação da hélice quádrupla: universidades – poder público – mercado – comunidade. “Quando o mercado vem para o Tecna, esse investimento ecoa de outra maneira, contribuindo para um ambiente de  geração de conhecimento e ajuda a fazer florescer esse ecossistema”, aponta Aleteia. Todas as estruturas do Centro podem sediar aulas especiais, workshops e visitas de alunos para  qualificar ainda mais o processo formativo.

As produções instaladas no Centro contam com o suporte da Universidade em demandas de pesquisa, por exemplo. Em contrapartida,  colaboram com a formação de qualidade, permitindo atividades de observação e vivência para alunos e bolsistas. A produtora de jogos Luísa da Silva Pinto formou-se em Produção Audiovisual pela PUCRS em 2017. Durante a graduação, foi bolsista de Iniciação Científica no Tecna por 18 meses. Sua principal atividade foi uma pesquisa sobre o polo sonoro do RS. Sob orientação da professora Aletéia Selonk, realizou uma coleta de dados preliminar para um mapeamento da indústria produtora de áudio em nível nacional.

Trajetória de Luísa tem estreita ligação com o Tecna

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A experiência colocou Luísa em uma posição privilegiada ao proporcionar uma melhor visão e inserção no mercado. “Sem dúvida, a maior contribuição foi o contato direto que tive com vários profissionais de diferentes áreas do audiovisual e poder exercer as mais diversas atividades que me proporcionaram inúmeros aprendizados, expandiram minhas experiências e desenvolveram minhas habilidades como produtora”, reconhece. Ter acesso à estrutura do Centro, com toda a tecnologia avançada e conhecimento a seu alcance, ajudou Luísa a enxergar novas possibilidades de criação, a ensinou a pensar o audiovisual como negócio e a indústria criativa de uma maneira mais abrangente – fortalecida através das combinações e colaborações entre seus produtos e agentes. “Acredito que esses aprendizados sejam um diferencial na minha carreira”, acrescenta.

Além da pesquisa, Luísa acompanhou os bastidores de grandes filmes e séries, nos quais gravou making off e entrevista com as equipes, gerando conteúdo para as redes sociais do Centro. Junto a outros bolsistas, participou da produção de ações no Festival de Cinema de Gramado e no Cine Esquema Novo. “Também registrei com fotos e vídeos o desenvolvimento e crescimento do Centro, sendo o momentomais memorável para mim a inauguração do Estúdio A. Pude observar a evolução e a entrega para o mercado dessa instalação durante o meu tempo como bolsista”, lembra.

Parcerias de pesquisa

O Laboratório de Pesquisas Audiovisuais (Lapav), do Tecna em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Famecos, abriga os estudos desenvolvidos na área  audiovisual, com uma rotina diária de bolsistas de Iniciação Científica e alunos de mestrado e doutorado. Em 2011 e 2012, o Tecna passou a participar de editais. A primeira atividade de maior volume foi um projeto de pesquisa que resultou no Lapav. Hoje o laboratório conta com sete bolsistas de iniciação científica, além de alunos de pós-graduação desenvolvendo teses e dissertações na área de cinema. As produções atuais, informa o professor João Guilherme Barone, pretendem ser uma semente para conteúdos na área de ciência e tecnologia. O Centro possuiu também uma parceria de pesquisa e desenvolvimento com a Dell, já na sua terceira fase, envolvendo estudantes de graduação e professores pesquisadores da Famecos. O projeto irá para o sexto ano em 2020 coordenado por Aletéia. “Somos referência global em mídias sociais para a empresa, que investiu em um miniestúdio de gravação, na Famecos, o TecnaLab”, ressalta.

Tecnologia de ponta à disposição do mercado

Capacitações para o mercado

Para preparar e instrumentalizar o mercado visando a utilização de sua tecnologia de ponta, o Tecna possui uma equipe técnica responsável pelos ambientes, fazendo a mediação entre estruturas e usuários, facilitando a compreensão, auxiliando os profissionais e preservando o patrimônio. O centro prepara, ainda para este ano, workshops e cursos de imersão em diferentes áreas relacionados aos espaços. Serão gratuitos, por meio de edital Finep, e terão professores experientes e com carreira consolidada no mercado. A programação será divulgada na inauguração.

Para promover o desenvolvimento o empreendedorismo, o Tecna firmou um convênio com o governo do Estado, o RS Criativo, e coordenou a curadoria de capacitações no Hub Criativa Bureau, na Casa de Cultura Mario Quintana. Em seis meses,  foram mais de 300 horas de cursos gratuitos com professores da PUCRS para mais de 2 mil pessoas interessadas em economia criativa e empreendedorismo cultural. A ação foi operada pela Sedac/RS. “A parceria foi fundamental para dar início à execução do RS Criativo, programa estratégico de governo”, destaca Ana Fagundes, assessora especial de Artes e Economia Criativa.

Festival de Cinema de Gramado

Prêmio Tecna foi lançado durante o Festival

FOTO: DIVULGAÇÃO

O Centro Tecnológico Audiovisual do Rio Grande do Sul participa ativamente do Festival de Cinema de Gramado. Dentre as ações que desenvolve, está a curadoria das atividades do Hub Universidades, que reúne docentes e discentes de escolas de cinema em fóruns de interação. Na edição de 2019, lançou o prêmio Tecna, concedido na sessão de entrega dos Kikitos nas categorias Melhor Longa-Metragem Brasileiro e Melhor Longa-Metragem Gaúcho. Também contou com duas categorias no concurso interativo do Gramado Film Market, evento de mercado realizado durante o festival. Os vencedores terão acesso à infraestrutura e a serviços do Tecna gratuitamente por um tempo determinado. “Vamos colocar à disposição destes profissionais um ecossistema criativo, que combina ambientes tecnológicos de padrões internacionais e articulação estratégica de negócios. É possível desenvolver todas as etapas de produção no nosso Centro”, comenta Aletéia.