Hora certa no mostrador a 20 metros de altura

BastidoresFOTO: BRUNO TODESCCHINI

Badaladas na torre

Famoso por nunca ter parado em oito décadas, relógio do Colégio Marista Champagnat atrai pelas curiosidades

Há 82 anos seu horário é uma referência de precisão no Campus. Instalado no alto da torre do Colégio Marista Champagnat, localizado dentro da PUCRS, seus dois sinos tocam a cada quarto de hora e ecoam pela cidade universitária sendo ouvidos em muitas áreas. A história deste relógio de pêndulo, que hoje funciona por eletricidade, atrai pela curiosidade.

A instalação no topo da torre de aproximadamente 20 metros começou em 1935 e foi concluída no ano seguinte. De fabricação nacional, a encomenda feita pelos Irmãos Maristas veio da empresa Schwertner, de Estrela (RS), fabricante de relógios iguais que ainda funcionam pelo Brasil. No Rio Grande do Sul, entre outros, há um idêntico na catedral de Passo Fundo.

Até meados dos anos 1950, era movido a corda pelos Irmãos que, de hora em hora, davam manivela na engrenagem. Ainda na década de 1970, os toques de cada hora cheia marcavam o horário de pausa dos religiosos para suas orações, época em que o Champagnat também era um local de formação religiosa marista. Mas o som dos sinos ia bem além. Desde a inauguração, o relógio era um marcador do horário na região. Naquela época, o Champagnat ficava dentro de uma chácara e, por estar em uma zona rural de Porto Alegre, os moradores do atual bairro Partenon seguiam as suas badaladas como uma referência.

Cesar Desimon não entrega a chave da sala do relógio para ninguém

FOTO: BRUNO TODESCCHINI

O GUARDIÃO DO RELÓGIO

Cesar Desimon é engenheiro elétrico, ex-professor de Física e assessor de tecnologias educacionais do Colégio Marista Champagnat. Trabalha na escola há 37 anos e tem uma história especial com o relógio. É considerado o seu guardião. “É o mais preciso que temos”, afirma com orgulho. “Nossos sistemas automáticos não são tão exatos como ele, que trabalha sem energia por até três horas”, acrescenta. O funcionamento ocorre por um mecanismo simples: o pêndulo. Os sinos na torre estão ligados à engrenagem por um conjunto de cabos de aço.

Todos os dias, Desimon faz ajustes no relógio que tem sua casa de máquinas instalada numa grande caixa de madeira e ocupa meia sala no terceiro andar do antigo prédio. Ele informa que variações no funcionamento podem ocorrer de acordo com a atmosfera. “Se há umidade no ar, há risco de atrasar. Estamos sempre atentos.” Conta que o ex-reitor da PUCRS, Ir. Noberto Rauch, costumava telefonar se houvesse atraso ou adiantamento. Hoje, a relação dos alunos com o relógio é de encantamento. “Eles visitam a casa de máquinas para ver de onde vêm as badaladas que ecoam dos sinos.”

Desimon aprendeu a regulagem com o Ir. Elton Puhl. “Depois eu o substituí, mas como tinha muitas atividades docentes, o Ir. Hugo Kipper passou a cuidar do relógio.” Em julho de 1997, Kipper precisou fazer uma cirurgia e chamou o professor.

– Ele me disse que faria um procedimento rápido e simples e me deixaria com a chave da sala do relógio. Mas salientou para eu não entregá-la a ninguém. Temia que não saberiam mexer e poderiam estragá-lo. A última coisa que me disse foi: “Só me devolva quando eu voltar.”

O Irmão Marista morreu durante a cirurgia e sua recomendação virou um mito na escola. “Uma espécie de lenda! Eu não posso entregar a chave
para outra pessoa, porque no dia em que isso acontecer eu me vou”, conta Desimon, entre cismado e divertido. “Os professores relatam para os alunos e eles me procuram para saber se é verdade.” Enquanto isso, por via das dúvidas, o guardião não divide a chave com ninguém.

UM POUCO DE HISTÓRIA

O Instituto Champagnat foi fundado em 1920 pelos irmãos maristas, para de ser a sede da Administração Provincial. Ali se estabeleceu o juvenato, postulado, noviciado e escolasticado – etapas de formação pelas quais os jovens passavam para se tornarem a ser Irmãos Maristas

Em 1946, a escola passou a chamar-se Ginásio Champagnat de Porto Alegre e, ainda no mesmo ano, o governo oficializou o Ensino Médio e o nome de Colégio Marista Champagnat. Em 1960, devido à necessidade de espaço da PUCRS, surgiu a ideia de construção da cidade universitária nos terrenos do Champagnat.