Esclareça suas dúvidas

Porque o HSL chegou a esse ponto de desequilíbrio!? Foi problema na gestão?

Primeiro porque o HSL faz parte do contexto de dificuldades enfrentadas por todo o sistema de saúde no Brasil. Também, porque tivemos muitos momentos de crise e sempre recorremos aos socorros paliativos. Agora não é mais possível resolver com verbas suplementares, com doações pontuais ou outras iniciativas temporárias.

E porque a PUCRS não socorre, não salva o Hospital?

Foi a mantenedora da PUCRS e do HSL que manteve o equilíbrio do Hospital até hoje. Todas as reservas foram consumidas nesses constantes complementos para cobrir os custos. E aqui não estamos falando de lucro. Estamos falando em ser sustentável, em cobrir os custos como folha de pagamento, manutenção de equipamentos e, principalmente, manter a qualidade do atendimento.

Mas e a Igreja? A PUCRS é dos padres?

A PUCRS é uma instituição ligada à Igreja Católica, administrada pela Congregação Marista, que gerencia o cotidiano da universidade e de seus órgãos suplementares. É uma organização sem fins lucrativos. Tudo que é arrecadado é reinvestido. Muitos recursos próprios da mantenedora foram usados para suprir déficits de áreas que não são sustentáveis, como é o caso do Hospital. Mas não há mais recursos. Boa parte do resultado negativo vem justamente da necessidade de reposicionar os serviços. Não se pode manter serviços que não tem mais procura expressiva da população ou que são ociosos.

E a formação dos futuros profissionais?

Ela será sempre mantida. Esse é um compromisso da PUCRS. Há muitos e muitos cursos de medicina no Brasil que não têm hospitais próprios. O que precisamos é garantir a excelência da formação, das práticas e das pesquisas. E para isso temos um plano consistente que prevê diversificados espaços para aprender, pesquisar e atender. Tanto a graduação quanto a pós-graduação na área de medicina e das ciências da saúde e da vida são asseguradas pelos resultados acadêmicos que a PUCRS sempre entregou para a sociedade.

O Hospital está fechando os serviços da linha materno-infantil porque não dão lucro?

Não, o hospital, assim como todos os empreendimentos da Rede Marista não visam lucro. Somos uma organização sem fins lucrativos. A decisão por descontinuar essa área é fruto de uma série de estudos que apontam os serviços com baixa demanda, somados a uma análise da realidade da população gaúcha e brasileira. Nossos serviços dessas áreas possuem em torno de 40% de ociosidade, e a demanda é decrescente. Isso é resultado de um cenário nacional de queda da natalidade, que fez com que mais de 10 hospitais brasileiros encerrassem maternidades e UTIs neonatais de 2014 a 2019. Em Porto Alegre, a redução de nascimentos apresenta uma queda de 50% nos últimos 30 anos, o que se reflete na redução da taxa de ocupação da nossa maternidade nos últimos três anos. Por outro lado, crescem no país as taxas de óbitos de adultos em decorrência de doenças para as quais temos vocação para oferecer tratamento especializado. É urgente uma mudança em todo o sistema de saúde para prevenir e tratar as doenças que assumem o topo da lista das causas de mortalidade nos país, e para atender a essa realidade, que estamos reposicionando nossos serviços.

As gestantes e mães que eram atendidas pelo HSL ficarão desamparadas?

Não, todo o estudo que está sendo feito em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde carrega o compromisso de não afetar o atendimento à população. Todas as vagas e leitos de atendimento SUS serão preservadas e direcionadas a outros hospitais da rede, assegurando que todas as gestantes e mães continuem sendo acolhidas e cuidadas, assim como seus filhos(as).

Mas os demais hospitais não possuem tradição para atendimentos de alta complexidade em crianças, como é o caso da neurologia pediátrica. Como ficam essas crianças que dependem desse atendimento?

Todo nosso esforço está sendo em transferir nossos serviços e não os descontinuar. Isso quer dizer que o atendimento continuará sendo realizado, inclusive pelos nossos profissionais especializados, porém em outros hospitais. Sabemos que o principal fator no tratamento e cura dessas crianças não é a estrutura física, mas a excelência do corpo clínico, e ele seguirá à disposição.

Mas como o sistema vai acolher essas pacientes se os outros hospitais estão sempre superlotados?

Isso não é verdade. A mesma baixa demanda apresentada no HSL também é realidade em outros hospitais. Porto Alegre conta com excelentes instituições de saúde vocacionadas para atendimento pediátrico, que têm total condições de absorver a demanda até então direcionada ao HSL. O que se pretende fazer é reorganizar a distribuição desses pacientes, assegurando seu atendimento, para que consigamos voltar nossos esforços a outras necessidades de saúde da população que, sim, apresentam alta demanda e pouca oferta de atendimento especializado, como é o caso da linha de cuidado adulto para doenças graves.

O fechamento da materno-infantil não contraria os valores maristas e a vocação para cuidar de crianças?

Os valores maristas privilegiam o cuidado integral com a vida. Se o reposicionamento dos serviços do HSL não ocorrer, pode comprometer e inviabilizar o hospital por inteiro, o que afetaria um volume expressivo de cidadãos que dependem de todas as especialidades. Os Maristas sempre foram reconhecidos por oferecerem soluções para os desafios de cada época. Foi assim desde a fundação, por São Marcelino Champagnat. O que estamos fazendo é o que o momento histórico nos exige. Todas as nossas decisões estão profundamente ancoradas nas necessidades atuais da população.

Se a questão é sustentabilidade, porque o hospital não fecha outras áreas?

O reposicionamento inclui estudos profundos de todas as áreas e, ao mesmo tempo, a clareza do que a população precisa. Nossa decisão sobre os serviços não utiliza critérios financeiros unicamente, mas sobretudo indicadores das atuais e futuras necessidades de saúde da população. Todas as medidas estão respaldadas pelo que aponta o perfil demográfico, socioeconômico e epidemiológico da sociedade de agora e da próxima década, que tem desencadeado transformações na área da saúde em instituições de todo o país.

Quais as razões para o reposicionamento?

O Hospital São Lucas foi fundado na década de 70, atento às necessidades de formação dos profissionais de saúde e às demandas de assistência da população da época. Mais de 40 anos depois, o perfil da população mudou completamente e, da mesma forma, suas necessidades de saúde. Soma-se a isso o fato do nosso atual modelo ser insustentável e acumular uma dívida de 280 milhões. Considerando estudos consistentes sobre as demandas da nossa população, nosso movimento de reposicionamento se apresenta como uma iniciativa necessária e urgente para manter a perenidade da instituição e para dar as respostas que a sociedade precisa nessa área.

Qual será o foco do HSL com o reposicionamento?

O foco do reposicionamento do HSL será atender as novas e crescentes demandas decorrentes do envelhecimento da população. Em nove anos, o Rio Grande do Sul será o primeiro estado brasileiro a viver uma inversão na pirâmide etária da população, tendo mais idosos que crianças e uma expectativa de vida cada vez maior. Queremos concentrar nossos esforços nas doenças que estão entre as que mais matam no país e que já afetam a vida da maior parte da população gaúcha, realidade que tende a se acirrar nos próximos anos. Na linha de cuidado adulto, priorizaremos as áreas de oncologia, neurologia, traumatologia, ortopedia e demais especialidades que tratam os efeitos do envelhecimento.

O que acontecerá com os atuais residentes e estudantes dos cursos da área da saúde que têm no hospital seu campo de prática?

A Universidade e o HSL asseguram que a formação desses profissionais não será afetada pelo reposicionamento. Em alguns casos, a transferência dos residentes seja necessária. Isso ocorrerá de forma gradual, com acompanhamento individualizado de cada profissional de forma que ele não tenha prejuízos na sua formação. Mesmo que as práticas ocorram em outro espaço, a supervisão e o acompanhamento, assim como a certificação, continuará sendo da PUCRS. Em relação à graduação, a diversificação de campos de prática já era uma realidade e uma necessidade para qualificar a formação dos profissionais de saúde. A manutenção da excelência é condição para a definição de novos locais de atuação dos estudantes e a Universidade seguirá comprometida com o patamar de qualidade que lhe é tão característico.

Essa decisão não vai prejudicar a formação dos estudantes?

De maneira nenhuma, pois não significa que os estudantes não terão aulas de obstetrícia e pediatria, por exemplo. O plano de ensino não sofrerá nenhuma alteração, o que se altera, são os campos de prática, necessidade que já foi identificada há mais tempo pela Universidade e já vinha sendo contemplada na revisão curricular. É essencial para a formação dos profissionais da saúde exercitarem-se em diferentes realidades. Por outro lado, mais de 85% das práticas seguem sendo no Hospital São Lucas, o que continuará sendo um diferencial dos nossos cursos da área da saúde, considerando que a maior parte das Universidades não possui um hospital próprio para seus estudantes.

E as verbas parlamentares recebidas nos últimos anos?

O conjunto de verbas parlamentares destinadas ao HSL nos últimos anos com o empenho da Bancada Gaúcha no Congresso e esforços de Deputados Estaduais, Vereadores e membros de diferentes instâncias governamentais fazem parte de um projeto mais amplo denominado Campus da Saúde. Essa iniciativa pretende trazer novos conceitos de atendimento integrado à saúde que começará a ser colocada à disposição da comunidade a partir do segundo semestre de 2020.