Desigualdade social cresce nas metrópoles brasileiras durante a pandemia

Estudo foi desenvolvido em uma parceria entre PUCRS, INCT - Observatório das Metrópoles e RedODSAL 

22/10/2020 - 17h18

Foto: Pixabay

Entre o final de 2019 e o segundo trimestre de 2020, ocorreu um grande aumento da desigualdade de renda do trabalho nas metrópoles no Brasilresultante da crise econômica do período, e tendo como agravante a pandemia da Covid-19. É o que aponta o estudo desenvolvido pela PUCRS, pelo Observatório das Metrópoles e pelo Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). Estes dados são correspondentes ao primeiro Boletim – Desigualdades nas Metrópoles, que será lançado trimestralmente.    

Um dos coordenadores da pesquisa, André Salata, professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRSacredita que as informações apuradas demonstram claramente os efeitos da crise provocada pela pandemia sobre as desigualdades na distribuição da renda do trabalho. “O que vemos é que os rendimentos do trabalho estão empurrando as desigualdades para cima. Cabe ao Estado continuar adotando políticas que façam um contrapeso a essa tendência do mercado de trabalho”, analisa.   

Também coordenador do estudo, Marcelo Gomes Ribeiro, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ)  e pesquisador do INCT – Observatório das Metrópoles, analisa que a trajetória da desigualdade de renda nas metrópoles brasileiras na última década apresenta três características marcantes. Primeiro, sempre se encontrou em patamar bastante alto. Segundo, nos últimos anos, tem comportamento de elevação, sendo que essa foi ainda mais expressiva nos dois primeiros trimestres de 2020, associando a crise econômica que já se apresentava com os efeitos da pandemia. Terceiro, mesmo havendo diferenças entre os níveis de desigualdades na comparação entre as regiões metropolitanas do país, os níveis de desigualdades em todas elas estão em patamares muito elevados”, destaca.  

Neste levantamento foram utilizadomicrodados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em especial de sua divulgação trimestral. Ao todo estão envolvidas 20 regiões metropolitanas: Manaus, Belém, Macapá, Grande São Luís, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju, Salvador, Belo Horizonte, Grande Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Vale do Rio Cuiabá e Goiânia; além do Distrito Federal e da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento da Grande Teresina.  

Forma de medição da distribuição dos rendimentos  

A pesquisa utiliza, entre outras medidas, o Coeficiente de Gini, que mede o grau de distribuição de rendimentos entre os indivíduos de uma população, variando de zero a um. O valor zero representa a situação de completa igualdade, em que todos teriam a mesma renda. Já o valor um representa uma situação de completa desigualdade, em que uma só pessoa deteria toda a renda. Dessa forma, é possível comparar a desigualdade de renda entre dois momentos ou locais a partir desse coeficiente.

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Disparidade aumenta entre ricos e pobres

A média do coeficiente de Gini para o conjunto das regiões metropolitanas do Brasil subiu de 0.603 no 4º trimestre de 2019, para 0.610 no 1º trimestre de 2020 e, por fim, 0.640 no 2º trimestre deste anoEstes números representam um aumento de 6.1% no espaço de apenas dois trimestres. Segundo Salata, “a desigualdade no interior de nossas Regiões Metropolitanas já se encontrava em um patamar bastante elevado, e a crise faz o cenário se tornar ainda mais dramático.”  

De modo geral, todos os estratos de rendimento apresentaram uma queda de renda do trabalho no último trimestre, mas essa diminuição foi proporcionalmente maior entre os 40% mais pobres (a base da pirâmide social). O conjunto dos 10% do topo (os mais ricos) de cada região metropolitana teve redução de -3.2% em seus rendimentos, enquanto entre os mais pobres a queda foi -32.1%. Em algumas metrópoles a disparidade encontrada no último trimestre se destaca. É o caso de São Paulo, onde o estrato superior apresenta rendimentos médios per capita da ordem de R$ 8.305,12, enquanto o estrato inferior tem média de R$ 202,92. Já no Rio de Janeiro, onde os 10% mais ricos auferem renda média per capita de R$7.032,01, os 40% mais pobres têm renda média de apenas R$ 102,08.

Houve um aumento da distância entre o topo e a base da pirâmide no interior das metrópoles ao longo dos últimos anos, com aceleração desse crescimento no último trimestre. A razão entre a renda per capita do topo (10% superiores) e da base (40% inferiores) vem crescendo de forma permanente desde 2015. Com base em valores que determinam a distância entre os mais ricos e mais pobres (quanto maior o número mais desigual), em um comparativo, na média das metrópoles, no terceiro trimestre de 2015, essa razão era de 22.5subindo para 30.2 no primeiro trimestre de 2020 até chegar a 32.6 no último trimestre.   

Em relação à vulnerabilidade relativa (pessoas cuja renda domiciliar per capita não chega à metade do valor mediano), foi identificado um substantivo aumento do percentual no interior das metrópoles no período mais recente. No 1º trimestre de 2020 eram 23.5 milhões de pessoas nesta situação, correspondendo a 28.4% da população. No último trimestre deste ano aumentou para 25.8 milhões de pessoas, o equivalente a 31.3% da população metropolitana.  

Desigualdade racial elevada  

A desigualdade racial tem se mantido em nível elevado no interior das metrópoles. Analisando os dados se percebe que a renda relativa dos negros teve um pequeno aumento nos dois últimos anos (de 56.3% para 57.4%), indicando uma leve redução da desigualdade racial para a média das metrópoles. No entanto, não é possível afirmar que esse é um fenômeno que se replica da mesma forma em todas as regiões metropolitanas.   

Os dados indicam um cenário de queda gradual e constante das desigualdades raciais nos últimos anos nos casos de Manaus (de 43.9% para 61.1%), Teresina (de 53.7% para 60.6%) e Belo Horizonte (de 52.4% para 56.4%). Por outro lado, em metrópoles como Grande Vitória (de 54.8% para 51%), Rio de Janeiro (de 53.4% para 47.4%) e São Paulo (de 46.1% para 42.8%), os dados indicam uma tendência de aumento dessas desigualdades.  

Mais sobre o levantamento  

Boletim – Desigualdade nas Metrópoles tem como objetivo produzir um conjunto de informações relevantes acerca das desigualdades de rendimentos no interior das regiões metropolitanas do país. A publicação tem o intuito de colaborar para um debate público mais bem informado a respeito da grave situação das metrópoles brasileiras no que concerne às desigualdades sociais.  

O conteúdo completo pode ser acessado no site do Observatório das Metrópoles. 

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