Transformação digital e o futuro dos negócios

Por: Por Jorge Audy, Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS

17/11/2020 - 18h59

Nestes tempos de transformação, afetados fortemente pela crise sanitária na qual vivemos, acompanhamos uma aceleração sem precedentes de mudanças – seja nas nossas vidas, nas organizações e na sociedade. Estamos imersos em tempos mais digitais, mais online, mais em redes. Novos desafios e oportunidades. Muitos segmentos de negócios estão frente ao desafio de se reinventarem, em alguns casos, completamente. Na educação, no varejo, na saúde, em diversas áreas.

Temos transformações em curso nas nossas vidas, nas novas formas de nos relacionarmos com os outros, nos nossos espaços, na ressignificação dos ambientes de vida pessoal e de trabalho, bem como nos mecanismos de mobilidade e de convívio social. No mundo dos negócios nenhuma transformação é mais forte que a Transformação Digital (TD).

Ao contrário do senso comum, Transformação Digital não tem a ver com tecnologia diretamente, tem a ver com estratégias e novas formas de pensar. Envolve Inovação Digital, mas mais ainda Transformação Estratégica.

Neste sentido, apesar do Digital no nome, TD não tem a ver diretamente com tecnologia. Tem a ver com a transformação dos modelos de negócios na era digital, ou seja, está mais relacionado com a cultura organizacional do que com o uso de tecnologias, sejam mais antigas ou mais modernas, como IA (Inteligência Artificial), IoT (Internet das Coisas) e Data Science (Ciência de Dados). O processo de transformação digital se dá pela definição de novos modelos de negócio e, principalmente, pela necessidade das organizações compreenderem o que significa e o impacto da revolução digital.

A partir daí pode-se identificar três fatores críticos de sucesso para o processo: as pessoas, a visão de futuro e as lideranças do processo de transformação. A caminhada se dá pelo uso de abordagens próprias da área de inovação, como uso intensivo de técnicas de design thinking e abordagens transdisciplinares no processo. O resultado se expressa em estratégias para o processo de transformação organizacional.

As áreas foco de mudança, uma vez definida a visão de futuro, a metodologia de condução do processo e as estratégias de transformação envolvem, entre outros aspectos, a definição dos referenciais de planejamento (pois estes processos de TD ocorrem neste contexto de desenvolvimento de planos estratégicos), o novo desenho organizacional (como a adoção da estrutura de redes, no modelo de grafos), as funções e perfis dos profissionais (das equipes e lideranças) e as estratégias para o processo de mudança organizacional decorrente.

Somente após esse momento entra a questão das tecnologias ou aspectos tecnológicos do processo. Não que não sejam importantes, mas eles são consequência de uma nova forma de entender e organizar o negócio (e o modelo de negócio) no mundo digital, com foco nos clientes, na cooperação com os parceiros, nos dados vistos como ativos organizacionais, na inovação por experimentação (foco no learnig by doing approach) e geração de uma proposta de valor ao cliente e ao mercado que diferencie e posicione estrategicamente a organização no novo cenário dos negócios.

Do ponto de vista tecnológico, após estas etapas que realmente caracterizam a Transformação Digital, emergem conceitos e abordagens importantes no campo das tecnologias e sua implementação, como o conceito de Plataformas Digitais, para sustentar o novo modelo de negócio desenhado no processo de TD.

Um dos grandes desafios na Transformação Digital é a questão que envolve as organizações tradicionais e, como consequência, mais conservadoras em termos de organização, estrutura organizacional, lideranças e cultura. Existem muitas abordagem e textos sobre inovação e estratégia em empresas nascentes (startups ou não).

Os desafios e abordagens para atuar em negócios nascentes, já nativos digitais, são completamente diferentes em relação ao desafio de transformar uma organização tradicional, analógica, em uma organização digital, preparada para enfrentar os novos entrantes digitais (empresas nascentes e startups) e as novas oportunidades que o ambiente do século XXI (mais digital, mais conectado, mais em rede) oferece.

E a grande transformação não é, de novo, tecnológica, e sim de estratégia e de cultura organizacional. O grande desafio destas organizações, é mudar a cultura analógica para a cultura digital. Esta cultura analógica está presente não só nas infraestruturas muitas vezes ultrapassadas, mas, principalmente, nas pessoas, nos líderes, no modelo de negócio e na forma como se relaciona com seus clientes, com o mercado e com os concorrentes.

Como transformar uma cultura analógica em uma cultura digital, do mundo que vivemos hoje, é o grande desafio da TD nas organizações tradicionais. Um desafio de vida e morte. Aquelas que não fizerem esta transição simplesmente perderão mercado paulatinamente e tenderão a seguir o rumo de tantas outras organizações que foram líderes de seus segmentos no passado e hoje simplesmente não existem mais. Ou se tornarão irrelevantes.

Como em todo processo de inovação, na Transformação Digital, os principais fatores críticos de sucesso são (a) as pessoas, qualificadas e motivadas; (b) uma liderança inspiradora e, (c) a capacidade da organização construir uma visão de futuro poderosa e compartilhada.

Para construir as bases para um novo ciclo de crescimento. Para se transformar e inovar para se manter relevante e competitiva, fazendo a transição da cultura analógica para a digital. Em um mundo cada vez mais conectado e em rede. Onde a colaboração entre todos os envolvidos no processo de transformação paute a caminhada. Onde a tecnologia não é mais que a necessária ferramenta para que as pessoas e as organizações alcancem seu potencial de realizações.


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