Semana do Meio Ambiente: estudos avaliam interações da biodiversidade

Laboratório de Ecologia de Interações da PUCRS realiza projetos para entender como os organismos se relacionam em diferentes ecossistemas

03/06/2022 - 17h50
Ecologia

Foto: Mariana Beal Neves

No mundo, os debates sobre a importância da manutenção da biodiversidade e dos seus processos tem ganho destaque. A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o dia 5 de junho, como o Dia Mundial do Meio Ambiente e no Brasil, foi instituída a Semana do Meio Ambiente nesta mesma data, para promover a preservação ambiental. O pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Pedro Maria Abreu Ferreira ressalta a importância de percebermos que dependemos da natureza para a nossa existência e que preservar a biodiversidade é garantir longevidade para a espécie humana. 

A Ecologia de Interações aborda a biodiversidade sob a perspectiva das interações entre os organismos, e não apenas com foco em um organismo específico, como ocorre em outras áreas do conhecimento. Ferreira explica que nesta linha de pesquisa é estudada a rede de interações composta pelas espécies de determinado local e que estas interações podem se manifestar de diferentes formas.  

O docente desenvolve diversos projetos de pesquisa nesta área que estuda os sistemas complexos que diferentes grupos de organismos formam. Ele exemplifica que no caso de plantas e insetos, é comum a análise das redes de polinização, que consistem nas plantas com flores e nos insetos que visitam estas flores, carregando pólen entre espécies de plantas para completar seu ciclo reprodutivo. Assim, são estudados os sistemas de polinização, os padrões de forma, função e evolução de plantas e insetos que são muito difíceis de explicar quando estudados isoladamente.  

Interações entre aves e plantas 

O Laboratório de Ecologia de Interações da PUCRS, coordenado pelo professor Abreu, pesquisa as interações entre os organismos, mas também estuda as interações da biodiversidade com distúrbios antrópicos como fogo e pastejo nos ecossistemas campestres do Sul do Brasil.

Uma das pesquisas desenvolvida dentro do laboratório, intitulada O papel da perturbação do fogo na estrutura do habitat e nas comunidades de aves em campos de altitude do sul do Brasil, desenvolvida pela doutoranda Mariana Beal Neves, analisa as interações entre aves e plantas, e o efeito das queimadas sobre organismos. Para a pesquisa, foram selecionados locais com vegetação campestre natural com históricos diferentes de perturbação do fogo, nos Campos de Planalto do Sul do Brasil, no Rio Grande do Sul, inseridos no bioma da Mata Atlântica. Além disso, foram registrados 862 indivíduos de 70 espécies de aves.  

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Foto: Acervo

Os resultados indicaram que as variáveis de habitat relacionadas à vegetação campestre respondem ao tempo desde o incêndio e que essas variáveis moldam os padrões da comunidade de aves. Por exemplo, locais com mais tempo sem a perturbação do fogo apresentaram menor riqueza de espécies de plantas, pouca variedade de vida vegetal e vegetação mais alta, com isso, uma redução da dominância de algumas formas de vida como aves na região.  

Com isso, conforme explica a doutoranda, as conclusões reforçam a ideia de que a conservação das comunidades de plantas e aves de campos deve incluir uma gestão orientada, como a queima prescrita de manchas. No entanto, é enfatizado que estes resultados são necessários para construir políticas de manejo do fogo mais gerais e amplamente aplicáveis como ferramenta de áreas de pastagens naturais, pois mantém não apenas a estrutura e a beleza cênica da paisagem campestre, mas também a diversidade tanto de plantas quanto de aves.  

O artigo foi publicado no periódico Scientific Reports, da editora científica internacional Nature, e gerou grande repercussão. Em entrevista para o portal O Eco, Neves destacou que no Brasil, onde queimadas propositais são tão corriqueiras, há necessidade e grande cuidado ao se apresentar a mensagem de que, em alguns ecossistemas onde o fogo é natural, o manejo da paisagem com fogo pode preservar espécies, desde que executado de maneira muito controlada, embasada em dados e modelos, e com grande planejamento. 

Laboratório de Ecologia de Interações 

Dentre os principais projetos de pesquisa que contam com a participação do Laboratório de Ecologia de Interações da PUCRS está o Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), sob coordenação geral do Instituto do Meio Ambiente, professor Nelson Fontoura. Os pesquisadores do laboratório atuam no monitoramento de plantas e artrópodes campestres, que considera também o efeito das queimadas sobre a dinâmica destes descritores biológicos, através da realização de queimadas experimentais nos campos do Pró-Mata. 

Além do PELD, o Laboratório faz parte do projeto NEXUS, coordenado pelo professor da UFRGS Valério Pillar, que busca avaliar o efeito da conversão de áreas campestres naturais em áreas cultivadas em monoculturas, como lavouras de soja e florestamentos com árvores exóticas. De acordo com Abreu, os pesquisadores da PUCRS são responsáveis pela comparação dos polinizadores que podem ser encontrados em áreas de lavoura com os polinizadores presentes em áreas campestres bem preservadas.  

“Ambos os projetos vão gerar conhecimento importante não apenas do ponto de vista do avanço da ciência, mas também subsídios para futuras políticas públicas voltadas para a produção sustentável e boas práticas de manejo da terra, que aliem geração de renda e conservação da biodiversidade” finaliza o pesquisador. 


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