Para o padre Júlio Lancellotti a solidariedade deve ser endêmica 

Pároco de São Paulo participou do programa Sem Estúdio, realizado por laboratório da PUCRS, falando sobre Cidadania

14/04/2021 - 14h14
Entrevista com o padre Júlio Lancellotti foi realizada no programa Sem Estúdio

Entrevista abordou questões como desigualdade social, pandemia e solidariedade / Foto: Divulgação

O entrevistado no primeiro episódio da nova temporada do Sem Estúdio, programa semanal de entrevistas do Editorial J, laboratório convergente do curso de Jornalismo da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos da PUCRS, foi o padre Júlio Lancellotti. A entrevista aconteceu na terça-feira, dia 14 de abril, e abordou questões como desigualdade social, pandemia e solidariedade. A entrevista completa pode ser conferida na página de Facebook do Editorial J.

Para o padre, a solidariedade não pode ser pandêmica, ela deve ser endêmica, estando presente sempre. Ela não deve ser apenas pessoal, embora as ações individuais sejam importantes, mas precisaria entrar na estrutura política e econômica. Entretanto, segundo o ativista, nossa estrutura não é solidária. Ao contrário disso, revela o conflito e o descarte de grande parte da população. “Muitas vezes, o que resta para a população de rua é a sobra” afirma Júlio.

Ciência, religiosidade e ajuda ao próximo

Ao ser questionado sobre a relação entre ciência e religião, padre Lancellotti afirmou que ambos são campos do saber distintos que devem ser respeitados e atuar de maneira autônoma. Ele também se posicionou contra o negacionismo e favorável às medidas de proibição de aglomerações em cultos e cerimônias religiosas. Para ele, o essencial no momento é resolver a crise de saúde pública.

Ainda sobre a pandemia, Lancellotti avaliou as condutas do Papa Francisco como essenciais nesse período, tais como se vacinar, colaborar com a ciência, não se opor à Organização Mundial da Saúde, seguir os protocolos de segurança e recentemente ter garantido a vacinação aos moradores de rua da cidade de Roma. “É uma prática religiosa que conversa com o mundo e com a ciência, que se informa. É uma atuação humanizadora e que só agregou nesse momento”, afirma.

O entrevistado ainda deu algumas dicas para quem quer ajudar o próximo através de ações individuais:

  • Não discrimine, não seja preconceituoso e domine as fobias;
  • Seja alguém humanizado, busque humanizar a vida;
  • Busque ações próximas a você e reflita sobre como pode colaborar com elas: em todas as cidades brasileiras têm respostas aos problemas da sociedade em grupos religiosos, de movimentos sociais ou, até mesmo, laicos. Não faltam possibilidades de ação e todos podemos ajudar;
  • Doe você mesmo;
  • Seja capaz de refletir e de lutar com outros. Sozinhos não conseguimos, precisamos formar redes.

Solidariedade e a pandemia

Lancellotti também interagiu com o Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS, que contribuiu com o programa questionando o que pode ser feito para que mais pessoas possam ter seus direitos humanos acolhidos. A resposta foi que não há receitas prontas para solucionar os problemas. Segundo ele, é necessário buscarmos ver a nossa realidade, fazendo uma análise de conjuntura para depois discernirmos qual resposta é possível dar àquela questão levantada inicialmente. Aos participantes, ele sugeriu pesquisar sobre o método ver-julgar-agir, utilizado, até mesmo, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Por fim, em relação às redes sociais, Lancellotti considera ser necessário utilizá-las de maneira a mostrar a realidade, mas dentro de uma lógica de superação. Ele acredita que, muitas vezes, essas plataformas mostram apenas um mundo ideal e é necessário chamar atenção ao real. O entrevistado revelou que está tentando realizar um diário de pandemia, mostrando suas ações durante esse período, em seu perfil do Instagram, principalmente, para deixar claro que o ativismo não fica apenas no discurso, mas vai para a prática.

Você pode acompanhar as próximas entrevistas do programa Sem Estúdio, assim como outros eventos, na agenda da PUCRS e conhecer as ações solidárias realizadas pela Universidade, no site da Pastoral.

Sobre o convidado

Pedagogo e Presbítero católico brasileiro, Júlio Lancellotti exerce a função de Pároco da Paróquia de São Miguel Arcanjo no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo. Ativista social e defensor dos direitos humanos, participou da Pastoral da Criança e colaborou na formação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Como Vigário Episcopal da Arquidiocese de São Paulo, está à frente de diversos projetos municipais de atendimento à população carente, como o programa A Gente na Rua.

Além disso, a ação do padre em relação aos blocos de concreto em São Paulo inspirou um projeto de lei que vai contra a “arquitetura hostil”. Aprovada pelo Plenário do Senado, a lei denominada “Lei Padre Júlio Lancellotti” exibe um posicionamento contrário às intervenções públicas urbanas que permitem apropriação de espaços da cidade.

Sobre o programa

O programa Sem Estúdio já teve duas temporadas: na primeira, a pauta foi o Jornalismo em tempos de pandemia e entre os entrevistados estão Isabel Vincent (New York Post), José Roberto de Toledo (Revista Piauí) e Andrei Netto (Headline News). Já a temporada mais recente tratou da temática Direitos Humanos e recebeu, nomes como, Preto Zezé (presidente da CUFA), Ailton Krenak (líder indígena) e Míriam Leitão (jornalista da Globonews). Todas as entrevistas estão disponíveis para serem assistidas no Facebook do J e no canal do YouTube.

A terceira temporada, que iniciou com a entrevista do padre Júlio Lancelotti, tem como tema Cidadania e, em razão dos dez anos do Editorial, que serão completados neste ano, contará com a participação de ex-alunos que participaram do laboratório. As entrevistas ocorrem semanalmente, nas terças-feiras e são transmitidas, ao vivo, pelo Facebook.

Há nove anos, o Editorial J recebe estagiários e alunos voluntários dos mais variados semestres, que produzem, diariamente, conteúdos em diversas linguagens e plataformas. Neste período, o grupo já conquistou 27 prêmios de jornalismo regionais e nacionais. A produção pode ser encontrada no site e nas redes do @editorialj.

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