Jornalismo científico em debate

Evento discutiu a visão de jornalistas e pesquisadores

Por: Greice Beckenkamp Pires

22/04/2016 - 12h00
Reinaldo Lopes durante o evento Jornalismo Científico - uma conversa aberta

Reinaldo Lopes durante o evento Jornalismo Científico – uma conversa aberta
Foto: Camila Cunha – Ascom/PUCRS

Como levar as descobertas científicas ao grande público? O jornalista e o cientista falam a mesma língua? Essas foram algumas das questões discutidas no evento Jornalismo Científico – uma conversa aberta, realizado na última terça-feira, 19 de abril, no Global Tecnopuc. O debate foi conduzido pelo jornalista Reinaldo Lopes, ex-editor de ciência da Folha de S. Paulo e atual repórter e blogueiro da mesma editoria, e Eduardo Eizirik, professor e pesquisador da Faculdade de Biociências da PUCRS. O evento marcou a divulgação do Catálogo de Pesquisas da Universidade.

Um dos pontos ressaltados pelo blogueiro foi a tendência de não haver intermediários na divulgação dos trabalhos científicos. A ideia é fazer uso das novas tecnologias, como Youtube, Snapchat ou Instagram, para dar visibilidade a esse conteúdo. “Cada vez menos as pessoas consomem a grande mídia. É preciso falar direto com o público”, afirmou. Para ele, os jornalistas que são referência na área ainda estão presos aos modelos velhos de comunicação: “Como usar de maneira efetiva essas tecnologias para que tenha impacto no público? Não sei”. E o que é relevante para a divulgação científica no Youtube, por exemplo? Reinaldo lembra que o apoio técnico visual tem cada vez menos importância (a preocupação com a qualidade técnica do vídeo, como recursos gráficos). Nesse caso, o que vale é a construção da relação pessoal com quem está assistindo. Complementando o assunto, Eizirik lembrou que as revistas científicas funcionam como uma espécie de “selo de qualidade” para a publicação de pesquisas.

O pesquisador relatou também a dificuldade, durante as entrevistas, de conseguir explicar o tema, simplificando-o a ponto de o jornalista e o público entenderem. “Fomos treinados para dizer de um jeito, e achamos que mais simples que aquilo está errado”, lembrou. A realidade atual dos veículos de comunicação, normalmente com uma redação enxuta, faz com que poucos locais tenham pessoas que cubram apenas ciência. Para Lopes, isso é reflexo de uma cultura, em que a ciência não é uma parte considerada essencial no País. “Se você não sabe o que é um átomo, ou um DNA, tá fazendo o que no século 21?”, polemizou.

Veja abaixo alguns dos assuntos debatidos, baseados em perguntas feitas pelos participantes e respondidos pelo jornalista:

 

O que é notícia do ponto de vista científico?

O blogueiro ressaltou que isso depende da subjetividade de cada veículo. O que pode ser destaque em um periódico, por exemplo, pode não ser em outro.  “Notícia é o que muda a vida das pessoas”, simplificou.

 

Até que ponto a fonte pode interferir no conteúdo gerado a partir da entrevista?

Para o jornalista, a receita é saber “ceder” em alguns casos. “É importante ver se o que está sendo corrigido é uma informação ou se é questão de estilo. Cientista também não é editor. Quem tem que gostar do meu estilo é o meu editor”, ressaltou.

 

Como lidar com a instantaneidade das redes sociais e a desinformação que causa em alguns assuntos?

Lopes cita a inércia em lidar com as novas tecnologias e lembra a importância de as grandes empresas pararem de pensar somente no institucional, tentando se inserir de maneira mais orgânica nesse ambiente viral. “Por exemplo, o WhatsApp é um aplicativo muito utilizado, mas de que maneira inserir um canal de ciência nesse meio? Se eu te falar que eu sei eu minto”, finalizou.


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