Inteligência artificial generativa x educação regenerativa

Artigo publicado originalmente no Estadão

Por: Evilázio Teixeira – Reitor da PUCRS

10/04/2023 - 09h42

Ir. Evilázio Teixeira é reitor da PUCRS. / Foto: Giordano Toldo

Piscamos os olhos e logo após o alvoroço do ChatGPT, chega o GPT-4, capaz de passar no exame para advogar nos EUA, apto a se matricular em Stanford. A velocidade com a qual a inteligência artificial (IA) está evoluindo é surpreendente, nos apresenta desafios e provoca reflexões urgentes, não apenas no campo da Educação. O próprio ChatGPT, em resposta à Revista Scientific American, redacionou que a rápida evolução tecnológica gera preocupações éticas que vão do aumento da desinformação e notícias falsas até a maneira como instituições de ensino irão avaliar pessoas.  

No horizonte – além da promessa de maior produtividade, melhores ilustrações para nossos slides, respostas aos nossos e-mails, artigos prontos em minutos e provas gabaritadas – alguns problemas que podem se tornar maiores do que já são. Teríamos chegado ao fim, finalmente, de uma era de avaliações, provas, exames que medem apenas a capacidade de memorização de humanos e não de compreensão e raciocínio?  

Máquinas que formulam e respondem perguntas já existem e há muitas evidências de que a humanidade está deixando muitas coisas para trás e criando outras, implicando o surgimento de novas formas de pensar, sentir, relacionar-se, agir e viver. As novas tecnologias de informação e comunicação estão mudando completamente a relação das pessoas e organizações com o conhecimento, e estabelecendo ligações mais horizontais entre os que investigam, os que ensinam e os que aprendem.  

Com todo tipo de informação na palma da mão, os espaços de liberdade de cada indivíduo foram enormemente alargados. Toda pessoa que queira é também um potencial transmissor de informação e conhecimento. Isto favorece a criatividade. Estamos todos em condições de selecionar e escolher com quem nos relacionamos e a que grupos e comunidades pertencemos. Cada um de nós pode escolher com quem se comunica, a que grupos, organizações e comunidades pertence, de que iniciativas culturais, sociais, políticas e econômicas participa. As transformações e adaptações são muitas, em toda parte. 

As preocupações que surgem no âmbito da Educação a partir da rápida evolução da inteligência artificial generativa são legítimas e acabam por reforçar cada vez mais a necessidade de uma formação integral para seres humanos integrais, uma educação regenerativa. A história humana não é um processo natural que se desdobra de acordo com leis objetivas, mas é o resultado da atividade dos seres humanos e dos agrupamentos que estes formam. A história humana é a praxis dos seres humanos, não é dada naturalmente, mas é construída subjetivamente, sendo a subjetividade entendida como a intervenção ativa mais ou menos consciente e voluntária.  

O que parece ser necessário neste campo é elaborar a nível teórico, e formar as pessoas a nível prático, numa ética de responsabilidade pessoal, social e ambiental baseada nos valores da justiça e da solidariedade. E em ligação com esta ética, implantar uma espiritualidade do desenvolvimento humano, fortemente empenhada na transformação de si próprio e do mundo, procurando evoluir para formas mais elevadas de conhecimento, consciência e vida.  

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A ciência que nos guia, em uma perspectiva ocidental, encontra seus fundamentos nos pré-socráticos gregos. O pensamento está, sobretudo, no sentimento (pathos) da admiração da realidade (ón). Está no seu aparecer e desaparecer, no seu mostrar-se e ocultar-se (phainómenon-alétheia), aviva nele o desejo (eros) da fala (logos), a mais bela morada (éthos) do humano. Esse empreendimento, o mais antigo, vai persistir em todas as épocas subsequentes do desenvolvimento das ciências, afinal ainda hoje nos sentimos aprendizes dos discursos dessa Antiguidade. 

Se estamos aqui, neste planeta ainda habitável pelos seres humanos, que optemos por levar adiante com coragem, mesmo frente a grandes desafios, essa função civilizatória da educação, de impacto social e transformação individual e coletiva. Queremos colocar nossas melhores energias a serviço. 

*Conteúdo publicado originalmente no Estadão.


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