29 de Outubro de 2020
  • Jornal do Comércio
  • Geraçãoe.com
  • P. 8
  • 90.00 cm/col

Startup ensina como agir em desastres

No Brasil, há poucas pesquisas científicas sobre desastres, principalmente quanto aos processos de reconstrução e recuperação. Abner de Freitas, 32 anos, resolveu investigar como a população entendia esses eventos adversos naturais ou causados pelo homem e, a partir disso, prototipou uma solução para organizar o voluntariado. Surgiu, assim, a startup Pedra Circular, instalada em 2017 no Parque Científico e Tecnológico da Pucrs (Tecnopuc), que oferece treinamentos, cursos, palestras, oficinas, simulados e consultorias sobre desastres. Segundo Abner, no primeiro ano, buscou-se entender o modelo de negócio e definir o seu propósito. Em 2019, foram investidos cerca de R$ 32 mil. "Esse valor é baixo diante do muito que foi entregue", enfatiza. No mesmo ano, a iniciativa treinou 2,7 mil pessoas, promoveu e participou de eventos e produziu simulações de evacuação. Também ficou um mês em imersão na Itália e realizou a Hackatona sobre desastre com a Escola Politécnica da Pucrs.

Bacharel em Gestão em Saúde e mestrando em epidemiologia dos desastres na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Abner também é chefe escoteiro e conta que a ideia surgiu a partir de sua experiência. "Na minha cidade natal, Ribeirão Preto (SP), quando ocorriam desastres, éramos sempre acionados a ajudar, e esta memória me acompanhou."

Segundo Abner, o diferencial da startup está no modelo de negócio. O financiamento das atividades de assistência é feito através do lucro obtido pela venda de serviços de prevenção e reconstrução ou reparação. "Durante os desastres, podemos oferecer o melhor serviço sem ficar recorrendo a doações", completa.

A Pedra Circular atende os setores público e privado. "Todos são afetados pelos desastres, mas cada um de uma forma, e cada time trabalha com essas particularidades", explana. Um serviço próximo à realidade dos gaúchos é o protocolo de evacuação escolar, que pode evitar tragédias como a da Boate Kiss, em 2013. Hoje, a startup conta com nove times de prevenção, três de assistência e três de reconstrução e reparação.

Para Abner, a startup pode servir de inspiração a outros empreendedores. "Quando começamos, ninguém achava que desastre teria relevância ou impacto e, em 2020, temos uma pandemia que parou o mundo. O que fazemos entrou na pauta de todos", destaca. Abner explica que a pandemia é uma categoria de desastre natural, subcategoria biológico. O tema chegou a ser abordado durante evento no fim de 2019, antes do coronavírus se espalhar. "Falamos sobre o colapso dos serviços de saúde numa epidemia e curiosamente, à época, não conseguimos patrocínio para o cafezinho do evento", lembra.

Para o futuro, Abner planeja atrair capital de risco para expandir a equipe e ampliar as operações. Em setembro, foi lançada a plataforma Rocker, com cursos para desenvolver pessoas e organizar times para episódios de emergência. "É a resposta a uma demanda crescente de desenvolver pessoas e organizá-las em times para respostas aos desastres."