30 de Setembro de 2020
  • Correio do Povo
  • Arte & Agenda
  • P. 17
  • 96.00 cm/col

Jeferson Tenório é o patrono da Feira

Autor de três livros e professor de Literatura é o primeiro negro escolhido para a distinção em 65 anos

Este será um ano histórico da Feira do Livro de Porto Alegre por diversos motivos. O primeiro deles é que será a primeira edição totalmente virtual em função da pandemia do novo coronavírus. O segundo motivo é a escolha do patrono da 66ª Feira do Livro, que será realizada de 30 de outubro a 15 de novembro. Em coletiva virtual na tarde de ontem, foi anunciado como patrono o escritor Jeferson Tenório, de 43 anos. É o primeiro autor negro a ser escolhido como patrono e o mais jovem até então. Antes tinha sido, Caio Fernando Abreu, com 47 anos, em 1995. Coincidência ou não, o livro “Fragmentos - 8 Histórias e um Conto Inédito” (L&PM Pocket) foi primeiro livro comprado por Jeferson na Feira, em 2000. A escolha de patronos vivos começou em 1984, com Maurício Rosenblatt. Jeferson nasceu no Rio de Janeiro, em 1977.

Radicado em Porto Alegre, é graduado em Letras pela Ufrgs e atua como professor de língua e literatura na rede pública de ensino da Capital. Autor de três livros, “O Beijo na Parede” (Sulina), “Estela sem Deus” (Zouk) e “O Avesso da Pele” (Cia. das Letras), o escritor é mestre em Literaturas Luso-africanas pela Ufrgs, com a dissertação “Em busca do outro pé e outros niilismos na obra de Mia Couto”, defendida em 2013. Atualmente, está concluindo seu Doutorado em Teoria da Literatura na PUCRS, com a tese “A autópsia de um imaginário em ruínas: a memória nas narrativas de regresso em 4 autores portugueses”, trabalhando questões centrais, como colonialismo, pós-colonialismo, identidade e diáspora africana na pós-modernidade. O anúncio da escolha de Tenório foi feito pela patrona de 2019, Marô Barbieri. “Estava fora da minha visão ser patrono da Feira do Livro, mas creio que a escolha recaiu pela minha obra, mas também muito pelo meu trabalho na formação de leitores”, afirmou.

Sobre o fato de ser negro, ele lembrou que foi escolhido pelo seu trabalho. “Não fui escolhido pela cor da minha pele, por ser negro. Mas acho importante a mudança da ideia de que o patrono seria aquele senhor branco com uma certa idade, o que realmente não aconteceu nas edições anteriores da Feira”, enfatiza o patrono, que promete o mesmo empenho que tem com os seus alunos para o incentivo e a formação de novos públicos leitores e uma participação ampla na maioria das atividades da Feira. O evento literário será aberto no dia 30 de outubro, com a chilena Isabel Allende (“A Casa dos Espíritos”, “Paula” e “Longa Pétala de Mar”) em mesa com a escritora Ana Mariano e a professora Regina Kohlrausch, com mediação de Lúcia Mattos. A curadora da programação geral da Feira, Lu Thomé, anunciou os outros convidados internacionais e detalhes da programação. Os demais autores internacionais são as argentinas Mariana Enriquez e Ariana Harwicz, o português Afonso Cruz, os espanhóis Rosa Montero e Javier Moro e o norte-americano James N. Green. Haverá duas lives diárias sempre às 18h e às 19h30min na programação do Janelas Abertas para a Praça, que é o slogan da Feira nesta edição. Ao todo, são mais de 100 autores envolvidos em toda a programação. Quanto ao universo temático, a Feira terá ainda um sarau especial que homenageia as escritoras brasileiras, enquanto outros encontros celebram os escritores como Oliveira Silveira (morto em 2009) e Sergio Faraco, que completou 80 anos em julho. Mais detalhes e acesso à programação da Feira pelo feiradolivropoa.com.br.