16 de Setembro de 2020
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Economia do RS mostra sinais de retomada, mas perda de estímulos desafia reação

Dados de serviços, comércio e indústria são positivos; perspectivas dependem de continuidade de medidas anticíclicas e da geração de empregos

Comércio voltou a operar após parada durante pandemia no RSMateus Bruxel / Agencia RBSApós a crise do coronavírus derrubar negócios e espalhar prejuízos, a economia confirma sinais de retomada no Rio Grande do Sul. Dados até julho indicam melhora gradual nos setores de serviços, comércio e indústria. O quadro desperta alívio, reforça a projeção de que o fundo do poço ficou para trás, mas não causa empolgação até o momento. Ainda não há clareza sobre a velocidade de reação assim que políticas de estímulo, como o auxílio emergencial, perderem fôlego ou deixarem de existir.

Em julho, a produção industrial cresceu 7% em relação ao mês anterior. Foi a terceira alta consecutiva e a maior entre os indicadores setoriais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Contudo, no acumulado do ano, houve queda de 14,5%, reflexo direto da pandemia.

O segmento de serviços, considerado o motor da economia, vive situação similar. Em julho, o volume dos negócios subiu 3,5%, o terceiro avanço consecutivo após tombos em março e abril. No ano, a retração acumulada é de 14,4%.

- O principal impacto da pandemia ocorreu nos meses de maior isolamento. Em seguida, a economia iniciou processo de recuperação. Mas é importante deixar claro que a queda foi muito forte. A economia deve se movimentar em níveis de produção abaixo de 2019. Vários setores foram muito prejudicados - frisa o economista Adalmir Marquetti, professor da PUCRS.

O comércio varejista, outro segmento pesquisado pelo IBGE, teve variação positiva de 0,1% nas vendas em julho frente ao mês anterior. O resultado ocorreu após baixa de 8,8% em junho e salto de 32% em maio. O que chama atenção é que, no acumulado do ano, o setor tem a menor queda, de 2,1%.

Economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank descreve a retomada como "heterogênea". Ou seja, apesar da existência de sinais positivos, há atividades que continuam sofrendo e ainda não conseguem espantar parte das perdas.

O comércio carrega alguns desses exemplos. De janeiro a julho, as vendas de artigos farmacêuticos subiram 16,5%. No segmento de hipermercados e supermercados, a alta chegou a 7,4%. Enquanto isso, o ramo de tecidos, vestuário e calçados pegou o sentido contrário, com tombo de 39,7% no acumulado dos sete meses.

- A expectativa é de que a economia siga em retomada até o final do ano. O auxílio emergencial vai permanecer, mesmo com valor menor até dezembro. Depois, temos outra situação. Precisamos ver como a economia vai andar com as próprias pernas, sem os estímulos dados em 2020 pelo governo - pontua Frank.

Voltado especialmente a trabalhadores informais e desempregados, o auxílio de R$ 600 foi uma das principais medidas adotadas no país para mitigar as perdas da covid-19. Diante das restrições fiscais do governo federal, o benefício deve ter o valor reduzido para R$ 300 até dezembro, conforme proposta do Palácio do Planalto que depende de aprovação no Congresso.

Dados disponíveis até o final de agosto indicam que o auxílio alcançou a marca de 2,6 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul. Na prática, isso quer dizer que o número de beneficiários superou o de trabalhadores com carteira assinada (2,4 milhões).

- Medidas anticíclicas explicam o que está acontecendo com a economia. A recuperação dos últimos meses era até esperada. Mas existe um ponto de interrogação para o próximo ano, já que essas medidas não devem ter continuidade. É muito arriscado falar em recuperação em "V" (grandes perdas seguidas por reação rápida) - sublinha o economista Fábio Pesavento, professor da ESPM em Porto Alegre.

Além da pandemia, a estiagem também castigou o Rio Grande do Sul no primeiro semestre. Com a combinação dos dois fatores, a queda da economia gaúcha tende a ser maior do que a nacional em 2020. No próximo ano, a perspectiva é diferente. Conforme projeção da Emater, a safra de verão deve crescer cerca de 40% no Estado. Assim, a economia do Rio Grande do Sul tende a subir mais do que a média brasileira em 2021, destaca Frank.

Desafio no mercado de trabalhoEconomistas mencionam que um dos principais desafios gerados pela pandemia é a recuperação de empregos, especialmente a partir de 2021. No próximo ano, medidas de estímulo à atividade econômica devem ser encerradas no país.

Em períodos de crise, o mercado de trabalho costuma ser uma das últimas variáveis a reagir. Isso ocorre porque a criação de vagas depende da retomada dos negócios como um todo.

Durante a pandemia, o Rio Grande do Sul perdeu 131,4 mil empregos com carteira assinada. O saldo decorre da diferença entre 425,7 mil demissões e 294,3 mil contratações entre março e julho. As informações integram o Caged, o cadastro de vagas formais do Ministério da Economia.  

O setor que mais perdeu postos de trabalho foi o de serviços (45,5 mil). Depois, aparecem indústria (39,3 mil) e comércio (34,1 mil).

- Criar empregos é o desafio de 2021. Medidas anticíclicas estão dando o tom da retomada da atividade econômica neste momento. Mas, no próximo ano, precisaremos de melhor ambiente de negócios - afirma Fábio Pesavento, professor da ESPM na Capital.

Economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank reforça o coro:

- O principal ponto de atenção é o mercado de trabalho, ver como reinserir as pessoas que saíram do emprego.

Professor da PUCRS, Adalmir Marquetti lembra que, até a descoberta de uma vacina contra o vírus, a economia tende a conviver com o risco de segunda onda de contágios:

- A pandemia afetou os setores de maneira diferente. Uma das complicações adicionais é o risco de novos surtos. Para a economia, é fundamental que isso não ocorra.