23 de Novembro de 2020
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Cerimônias ao ar livre, drive-thru e o fim das pistas de dança: formaturas se reinventam na pandemia

Com uma série de indefinições e obstáculos, instituições e produtoras de eventos se desdobram para tornar esses momentos inesquecíveis mesmo com as atuais restrições da pandemia

Nova forma de colação de grau presencial: turmas divididas, convidados limitados e distanciamento entre alunos no palcoRafaela Pavi Leal Piffer / Arquivo pessoalTradicionalmente marcadas para o final do ano, formaturas dos ensinos Médio e Superior ainda estão no rol de incertezas que a pandemia de coronavírus trouxe. Com uma série de indefinições e obstáculos, instituições e produtoras de eventos se desdobram para tornar esses momentos inesquecíveis mesmo com as atuais restrições. Do lado dos formandos, por muitas vezes, o sentimento é de frustração. Ao longo desse período, a saída encontrada para viabilizar esses eventos foi adaptá-los. Cerimônias e fotos ao ar livre, novos formatos, como drive-thru ou drive-in, redução de convidados e festas sem pista de dança fazem parte da nova realidade.  

Sócio e diretor comercial da SP Produções, há 20 anos no mercado de formaturas, Romilso Prado ficou mais de sete meses parado. Na metade do ano, não conseguiu realizar nenhuma das 75 cerimônias previstas. O alento veio há pouco tempo, em meados de novembro, com a realização das primeiras quatro colações de grau presenciais durante a pandemia. Para sair do papel, a empresa familiar precisou construir um protocolo, validado pela universidade, por órgãos sanitários e pelas comissões de formatura. 

- A turma de 50 formandos foi dividida em dois horários para permitir que cada um levasse oito convidados, que ficavam sentados em núcleos familiares com distanciamento de dois metros entre eles. No palco, os alunos ficavam de máscara e distantes - conta Prado. 

Outras medidas tomadas, além da já consolidada disponibilização de álcool gel, foi garantir que os estudantes chegassem já togados de casa e que respeitassem a distância dos colegas na hora de subir e descer do palco. 

- Sou muito otimista. Acho que dá para trabalhar nesse formato desde que tenhamos bandeira laranja. Tivemos que fazer mudanças, demitir pessoas, mas graças a Deus conseguimos nos manter respirando - conclui. 

Público separado por núcleos familiares para acompanhar a cerimônia presencialRafaela Pavi Leal Piffer / Arquivo pessoalNessa linha, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) já adotou algumas cerimônias presenciais. De acordo com a instituição, para o semestre 2020/1, foram 25 formaturas realizadas, sendo 20 de forma remota. Depois da mudança no decreto municipal, que autorizou esse tipo de evento com restrições, ocorreram cinco cerimônias híbridas: duas delas só com os estudantes, decano, mestre de cerimônias, e três com a presença de um convidado. Todas tiveram transmissão ao vivo pelo YouTube. 

Diante das inúmeras restrições, o que alguns estudantes têm feito é buscar alternativas para marcar o fim da graduação. Roberta Leite, CEO da Labamba Assessoria e Produção de Eventos, conta que alguns escolhem fazer um ensaio de fotos junto às famílias em locais amplos e a céu aberto, por exemplo. 

- Trazemos esse momento maior com as famílias para tentar suprir a colação - explica. 

Modelo online Com a formatura em Direito prevista para ocorrer em 1º de agosto, Anne da Costa Ilges viu o sonho de subir ao palco para receber o canudo ser adiado em razão da pandemia. Para garantir a entrega do diploma aos alunos, a universidade realizou uma colação online, via Zoom, e agendou uma nova data para o evento presencial. 

Essa segunda celebração, que seria simbólica, foi marcada para o começo de fevereiro. No entanto, o evento foi cancelado mais uma vez, no aguardo de um momento mais seguro e com menos restrições. 

- Eu preferia que fosse adiada para podermos ter uma cerimônia sem restrições. Amigos e familiares já me assistiram colando grau pelo YouTube uma vez, assistir uma segunda vez é sem graça - opina Anne. 

Novas regras Rafaela Pavi Leal Piffer recebeu em casa prêmio de destaque acadêmico e o diploma em um sistema drive-thruArquivo pessoal / Arquivo pessoalDesanimada com a impossibilidade de ter uma formatura no modelo habitual, Rafaela Pavi Leal Piffer não queria participar da cerimônia online organizada pela Universidade La Salle, marcada para 26 de setembro. Eis que um pouco antes, no dia 18 do mesmo mês, recebeu uma visita inusitada em casa: o mascote da instituição bateu à porta para entregar o prêmio de destaque acadêmico à então formanda de Nutrição. A iniciativa sensibilizou Rafaela, que mudou de ideia, decidiu fazer parte da colação e ainda convenceu mais uma colega a participar. 

- Foi muito legal. Superou as minhas expectativas. Até chorei - lembra. 

Poucas semanas depois, houve mais um momento marcante: um drive-thru para entrega dos diplomas. 

- Em uma hora em que nos sentimos desamparados, a universidade nos acolheu - completa, acrescentando que ainda não desistiu do sonho de uma cerimônia com a tradicional pompa, quando for possível, claro. 

A Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que realizou três formaturas online desde o começo da pandemia. Mais uma estava prevista para esta sexta-feira (20). As projeções para as próximas cerimônias, informou a instituição, dependem do cenário em vigor. "Mas as formaturas de 2019/2 e 2020/1 vão acontecer no ano que vem, assim que tivermos liberação do Estado para executar o evento", explicou a assessoria, por e-mail. 

Na Unisinos, as solenidades de formatura 2020/2 serão realizadas de forma online ou híbrida - com a presença apenas dos formandos e da mesa com transmissão para famílias pelo YouTube. 

A UFRGS disse que tem realizado cerimônias por videoconferência com um formando presencialmente representando a turma ou presencialmente em pequenos grupos, como ocorreu com uma turma de Medicina, que teve seis cerimônias, com aproximadamente 12 formandos em cada. 

Jantar no lugar das festas Bastante comuns, as festas de recepção de formandos foram transformadas em jantares. Houve redução no número de convidados e adequações nos espaços para evitar grande circulação de pessoas. 

- Não há mais mesa com oito lugares. Não tem mais pista de dança. Montamos um layout que impossibilite os convidados de fazerem uma pista. Também não tem a circulação das festas normais. Tem gente que topa - diz Roberta. 

O desafio, nesses casos, é convencer que os protocolos devem ser seguidos por todos de forma rígida, aponta a CEO da Labamba. 

Escolas vivem "novo normal" Não só as universidades e os formandos de cursos superiores enfrentam dificuldades na hora de comemorar o fim de um ciclo. Os adolescentes que terminam o Ensino Médio e as escolas também precisaram se adaptar ao "novo normal". As alternativas encontradas foram as cerimônias ao ar livre ou dentro de carros, no formato drive-in. 

O Colégio Israelita optou por uma cerimônia em local aberto e restrita aos alunos e à mesa diretora. Pais e demais familiares poderão acompanhar o momento online. Além disso, um telão permitirá que os jovens vejam seus parentes no momento em que forem chamados para receber a certificação. A fim de evitar aglomerações, cada turma se formará em um horário diferente. 

No Colégio Marista Rosário, o encerramento do terceiro ano será marcado por dois momentos. O primeiro será uma missa com número restrito de participantes - lideranças de cada turma e acompanhantes em quantidade limitada. No dia seguinte, ocorrerá a formatura em formato drive-in. De acordo com esclarecimento enviado pela assessoria de imprensa da instituição, o modelo foi escolhido para evitar aglomerações e permitir a acomodação de todas as turmas ao mesmo tempo no local. Elas subirão uma por uma ao palco, com respeito ao distanciamento entre os alunos, além de todo um cuidado com a higienização de canudos, medalhas e condecorações. 

O Colégio Leonardo da Vinci optou por diferentes abordagens em cada unidade. A Beta definiu com os alunos que fará uma cerimônia drive-in, enquanto a Alfa decidiu que vai aguardar um momento favorável para realização do evento da maneira tradicional.