Dia Mundial de Combate à AIDS: ciência como aliada na prevenção e tratamento

Infectologista do HSL e pesquisador da Escola de Humanidades da PUCRS falam como a AIDS ainda é uma epidemia silenciosa

01/12/2022 - 18h53
Dia Mundial de Combate à AIDS

Boletim Epidemiológico tem aumento na taxa de incidência de HIV/AIDS em Porto Alegre / Foto: Anna Shvets/Pexels

Com o objetivo de acolher as pessoas que convivem diariamente com o HIV e ampliar a conscientização sobre o tema, é celebrado, nesta quinta-feira, 1º de dezembro, o Dia Mundial de Combate à AIDS. De acordo com Diego Falci, coordenador médico do Serviço de Controle de Infecção do Hospital São Lucas da PUCRS, é fundamental que a população fique atenta ao avanço da doença no Brasil, conforme os dados divulgados no Boletim Epidemiológico sobre HIV/AIDS de 2022, levantamento realizado pelo Ministério da Saúde.

Um dado da pesquisa destacado pelo infectologista e professor da Escola de Medicina aponta que Porto Alegre é a capital brasileira com o maior coeficiente de mortalidade, apresentando cinco vezes mais mortes por complicações da AIDS/HIV que o restante do País (em movimento de declínio).

Além disso, a infecção por HIV, especialmente em gestantes, parturientes e puérperas, expõe uma taxa quase seis vezes maior do que a taxa nacional e duas vezes a do estado do Rio Grande do Sul. Assim, além de lembrar as mais de 40 milhões de vidas perdidas por doenças relacionadas à AIDS, de acordo com a UNAIDS, a data vem acompanhada deste balanço da AIDS, trazendo medidas de prevenção e tratamento a fim de acabar com a epidemia do HIV.

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Prevenção pré e pós-exposição ao HIV

Uma pessoa pode se expor de duas maneiras: ou um acidente ocupacional com material cortante, por exemplo, entrando em contato com o sangue de alguém que vive com o HIV, ou por exposição sexual (sexo sem o uso adequado de preservativo), além do sexo seguro ser incentivado em todas as campanhas como medida de prevenção, desde a instituição do Dia Mundial de Combate à AIDS, em 1988, a ciência evoluiu e traz novas formas de precaução. As mais atuais, segundo o médico, são as Profilaxias de Pré e de Pós-Exposição (PREP e PEP, respectivamente).

“Pessoas com maior risco e maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV podem fazer uso de medicação utilizada preventivamente de forma a diminuir a chance da infecção pelo HIV. O uso correto da PREP e PEP pode diminuir em mais de 80% o risco de infecção por HIV. Essa é uma medida importante que está sendo disponibilizada pelo Ministério da Saúde, após o atendimento de outros serviços de saúde públicos e privados para implementar essa medida de prevenção”, explica o infectologista.

Atualmente, mulheres com HIV têm condições de engravidar e ter bebês com segurança, pois com os tratamentos existentes é possível reduzir a zero a transmissão vertical através do tratamento da mãe e também da profilaxia do bebê. “A gente pode oferecer medicamentos para o bebê por um período curto, a ponto que, mesmo que eventualmente ele apresente um exame positivo, ele possa negativar esse exame de forma prática e não contrair infecção pelo HIV. Isso é possível com a tecnologia que nós temos hoje disponível”, destaca.

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Diferença entre HIV e AIDS

Observando que ainda existe um tabu a respeito do tema, resultando na confusão entre os termos, Diego Falci explica que o HIV é um vírus que se espalha por fluidos corporais e afeta células específicas do sistema imunológico. Quando a pessoa desenvolve infecções oportunistas ou que eventualmente a imunidade dela tenha caído a níveis muito baixos, a gente caracteriza a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ou AIDS. Somente a partir dessa situação é possível dizer que a pessoa apresenta um quadro de AIDS – mas ela não deixa de ser uma pessoa vivendo com HIV, ela simplesmente apresentou aquele quadro compatível com AIDS.

Epidemia silenciosa

Após dedicar sua vida acadêmica a compreender o papel das redes de apoio para pessoas soropositivas, o professor e pesquisador da Escola de Humanidades da PUCRS, Francisco Kern, reflete sobre como a pandemia por Covid-19 colocou a sociedade em estado de alerta sobre “o inimigo invisível” – enxergar o outro como ameaça, já que não se pode enxergar o vírus.

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“Eu fiz uma pesquisa com mulheres soropositivas da forma como elas aderem o tratamento antirretroviral, em 2018, no presídio estadual de Guaíba. Lembro que todas elas eram apenadas por tráfico de drogas e uma delas, com quase 70 anos, dizia assim para mim: ‘Professor, a AIDS me condena mais do que o tráfico de drogas.’ O que isso significa? O preconceito continua. Nós continuamos vivendo o processo de discriminação principalmente quando o outro se torna uma ameaça para mim. Se você tem qualquer outra doença que não seja transmissível, você não é uma ameaça para mim”.

O docente explica que as pessoas que vivem com HIV/AIDS experimentam a invisibilidade da condição humana, onde elas não são enxergadas, não aparecem e não podem aparecer. Francisco reflete que é necessário tirar o foco da doença enquanto discriminação social, no sentido de que é preciso pensar em políticas públicas que garantam o acesso a cuidados, tratamento, vacinação, prevenção, entre outros, mas também assimilar o aprendizado de que o cuidado consigo mesmo e o outro é uma responsabilidade coletiva.

É possível sair do quadro da AIDS?

“Do ponto de vista conceitual, de modificação, a gente diz que essa pessoa tem AIDS e não é algo relacionado à condição atual daquela pessoa, mas uma classificação. Mas sim, ela pode sair da infecção e ela pode melhorar o seu sistema imunológico, ela pode recuperar o seu status imunológico. E isso a gente faz através do tratamento, o tratamento suprime o vírus e o sistema imunológico da pessoa vai se recuperando a ponto de ela se distanciar daqueles níveis compatíveis com AIDS, ela consegue melhorar as contagens dos linfócitos a ponto de elas ficarem normais”, conclui o infectologista

Assista a entrevista com o infectologista do Hospital São Lucas da PUCRS, Dr. Diego Falci:

 


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