Desigualdade nas Metrópoles: renda média volta ao patamar de 2012

Estudo desenvolvido pela PUCRS, Observatório das Metrópoles e RedODSAL mostra que a queda da média de rendimentos levou mais de 23 milhões de pessoas a viverem com um quarto do salário-mínimo

14/10/2021 - 15h56

A quinta edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles destacou que a média de rendimentos das regiões metropolitanas do Brasil alcançou o segundo pior nível de toda a série histórica. 

O estudo, elaborado pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a PUCRS e com o Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), mostrou que no segundo trimestre de 2021 a renda média foi de R$ 1.326,34. Apenas no primeiro trimestre de 2012, ano de início da série, os valores atingiram o mesmo patamar, ficando em R$ 1.323,23.  

A pesquisa aponta que a média da renda domiciliar per capita do trabalho vem apresentando tendência de queda desde o quarto trimestre de 2019, e de modo muito acentuado a partir do segundo trimestre de 2020, em consequência da pandemia da Covid-19.  

Perda de renda para todos 

Desigualdade nas metrópolesSegundo André Salata, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS e um dos coordenadores do estudo, no conjunto das metrópoles a redução consecutiva da renda nos últimos seis trimestres mais do que reverteu os ganhos de renda obtidos nos anos anteriores, desde 2017. O pesquisador ainda ressalta a preocupação com a queda contínua no último ano. 

“Tivemos uma queda colossal entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020, no início da pandemia. O que mais chama atenção, no entanto, é que desde então a média de renda continua caindo, sem apresentar sinal de recuperação”.  

O estudo também mostra que apesar das famílias mais pobres terem sofrido perdas proporcionalmente maiores em sua renda, em todos os estratos a renda média ainda é significativamente menor que aquela do período anterior à pandemia. Entre os mais ricos, a renda média do segundo trimestre de 2021 era 8,3% menor do que a encontrada no primeiro trimestre de 2020. Entre as famílias que compõem a camada de renda intermediária, essa perda foi de 5,1%. Já entre os mais pobres, a perda foi de 22,1% do rendimento médio.    

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Recuperação lenta entre os mais pobres 

De acordo com Salata, após uma queda abrupta da renda entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2020, a renda dos mais pobres tem apresentado tendência contínua de recuperação. “O problema é que esta recuperação tem se dado de modo muito lento, em função de um mercado de trabalho que não consegue se recompor do choque sofrido pela pandemia. O resultado é que há milhares de famílias nos estratos mais baixos de renda que há muitos meses sofrem com uma substantiva redução de seus rendimentos provenientes do trabalho”. 

Para Marcelo Ribeiro, professor da UFRJ e também coordenador do estudo, a exposição ao mercado de trabalho é o principal fator para a recuperação da renda entre os mais pobres. “Como se trata de um segmento populacional que tem grande dependência do mercado de trabalho para composição de sua renda, desde o final do 2020 observamos aumento de sua renda média, mesmo que em patamares ainda muito baixos e significativamente inferiores ao período pré-pandemia”. 

Mais de 23 milhões de pessoas vivem com um quarto do salário mínimo 

De acordo com o estudo, com a Desigualdade nas metrópolesdiminuição dos rendimentos no segundo trimestre de 2021, mais de 23 milhões de pessoas (28,1% da população das metrópoles) passaram a viver em domicílios com renda média per capita de até ¼ do salário-mínimo. Apesar da leve redução em relação ao trimestre anterior, quando essa taxa era de 29,4%, o cenário ainda está distante do alcançado antes da pandemia, de 24,5%. Em termos absolutos, a pandemia adicionou mais 3,2 milhões de pessoas na linha abaixo de ¼ de salário-mínimo nas metrópoles. 

Segundo Salata, essa é uma situação ainda mais preocupante, por se tratar de um processo já de longa duração. Os dados indicam que muito possivelmente há milhares de famílias de baixa renda que há alguns trimestres seguidos vêm tendo que lidar com uma redução substantiva em seus rendimentos.  

“A queda de renda a longo prazo é ainda mais prejudicial, pois as poucas reservas de recursos vão se esgotando, e as soluções paliativas e temporárias também. É urgente adotar medidas para aquecer o mercado de trabalho, a fim de aliviar situação dessas famílias”.  

Confira na íntegra o Boletim Desigualdade nas Metrópoles nº 05 e acesse as tabelas e gráficos do estudo. 


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