Confira na íntegra o artigo do Diretor do Instituto de Cultura da PUCRS, professor Ricardo Barberena, publicado no jornal Zero Hora
Na minha última aula, fiz uma proposta para os meus alunos de primeiro semestre: “Vocês gostariam de assistir a um concerto com músicas de Bach?”. Todos levantaram a mão em sinal de concordância. Saímos caminhando pelo campus até a Igreja Cristo Mestre da PUCRS. Após quase uma hora de acordes barrocos, alguns alunos me mostraram seus braços arrepiados. Tal deslocamento, territorial e simbólico, trouxe, mais uma vez, um questionamento que tem me acompanhado: o que significa trazer a cultura para dentro de uma universidade?
Algumas respostas parecem imperiosas. Na sua própria essência, cultura é educação. Não se trata de áreas vizinhas que se comunicam. Ao lermos um livro, assistirmos a um filme, ouvirmos um instrumento, estamos adentrando em um terreno chamado poesia do pensamento, que constitui a aprendizagem ao longo da vida. Assim sendo, uma intensa agenda cultural universitária representa a possibilidade de uma formação humana para além dos limites protocolares. A cultura, enquanto instrumento de sensibilização e alteridade, também evidencia a oportunidade de sairmos de redomas disciplinares.
Cultura é a arte do encontro com o outro: outros significados, outras identidades,outras realidades
Cultura é cultivo da vida. Nesse sentido, uma universidade que incentiva múltiplas ações culturais colherá frutos de uma educação pautada pela transformação e pela libertação da experiência artística. Hoje, a PUCRS conta com mais de cem ações culturais anuais. De forma precursora, acaba de inaugurar um espaço de ateliê, Cultura é a arte do encontro com o outro: outros significados, outras identidades, outras realidades. A rotina cultural universitária é um exercício da tolerância e do respeito à pluralidade.
Por falar em diversidade, a semana da PUCRS, que começou ao som de Bach, terminou com um pocket show da Fresno, passando por Ney Matogrosso. Em tempos de ataque às manifestações culturais, a universidade também acaba se caracterizando em uma espécie de morada para diversos agentes da cena cultural.
Colocar a cultura no centro da universidade é lançar um facho de luz para a força vital do devir artístico enquanto fórum de criatividade, subjetividade e dignidade.
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