Agosto Dourado: mês marca o incentivo ao aleitamento materno

Campanha reforça a importância do leite materno, considerado pela OMS como “alimento de ouro” para saúde dos bebês

09/08/2022 - 10h00
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Leite materno é considerado alimento de ouro para a saúde dos bebês / Foto: Pexels

Essencial para a sobrevivência, a nutrição e o desenvolvimento nos primeiros meses de vida e no início da infância, o leite materno é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o “alimento de ouro” para os bebês. Para conscientizar a população sobre a importância da amamentação, o Agosto Dourado marca a campanha mundial de incentivo ao aleitamento materno.

Estabelecida em 1992 pela OMS e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM) é promovida em mais de 120 países entre os dias 1º e 7 de agosto, sendo o principal movimento em defesa do aleitamento. Neste ano, a SMAM tem como tema Proteja a amamentação: uma responsabilidade compartilhada. 

Para Caroline Abud, nutricionista materno infantil e professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, é fundamental o envolvimento de toda sociedade na proteção e no apoio à amamentação. “Todos e todas podemos contribuir acolhendo uma mãe e não julgando, tendo um olhar da prática do aleitamento como um ato normal de amor, carinho e cuidado. Podemos exercer essa proteção com nossos pares (parentes, amigas), com nossas pacientes (quando profissionais de saúde), como comunidade e enquanto poder público, no desenvolvimento de políticas públicas efetivas e direcionadas ao incentivo da amamentação”. 

De acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), níveis ideais de amamentação poderiam prevenir mais de 820 mil mortes de crianças menores de cinco anos por ano no mundo e evitar 20 mil mortes de mulheres por câncer de mama devido a diminuição do nível de estrogênio no organismo durante o período de aleitamento. Além disso, a amamentação exclusiva dos bebês durante os primeiros seis meses de vida é recomendada pela OMS para garantir o crescimento e desenvolvimento adequado da saúde das crianças.  

Caroline destaca que os primeiros anos de vida dos bebês, em especial os primeiros mil dias, que correspondem do período da gestação aos dois anos da criança, são considerados uma “janela de oportunidades” com inúmeros benefícios para a prevenção de doenças. “As evidências científicas são incontestáveis com relação aos benefícios do binômio mãe-bebê, como, por exemplo, na prevenção da mortalidade infantil, em especial por doenças infecciosas, e de doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade e diabetes, além de prevenir cânceres de mama e ovários para as mães”, ressalta.    

bebê, criança

Aleitamento materno contribui para a prevenção de doenças / Foto: Pexels

Apesar do crescimento dos indicadores de aleitamento materno no Brasil, dados do relatório preliminar do Enani apontam que menos da metade (45,7%) das crianças menores de seis meses de idade recebe a amamentação exclusiva. Já a prevalência de aleitamento materno continuado aos 12 meses (crianças de 12 a 15 meses) foi de 53,1%. O estudo avaliou 14.505 crianças brasileiras menores de cinco anos entre fevereiro de 2019 e março de 2020. 

Uma pesquisa coordenada pelas professoras Iná Santos e Rita Mattiello, com a participação de alunos de Pós-graduação da Escola de Medicina, evidenciou que, aproximadamente, uma em cada cinco mulheres no pós-parto imediato (primeiras 24 horas após o parto) não tem intenção de amamentar exclusivamente até a criança completar seis meses de vida.  

O estudo escutou 2.964 puérperas em quatro maternidades da cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul. A média da idade das mães foi de 27 anos, sendo que quase a metade delas tinham entre 20 e 29 anos. A maioria das participantes tinha uma renda familiar até três salários-mínimos e vivia na área urbana de Pelotas. Mulheres de famílias com menor renda e fumantes foram mais propensas a não pretender oferecer amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida do bebê.     

“Nesse sentido, fica evidente a importância da aplicação de estratégias de incentivo a amamentação exclusiva precocemente, principalmente entre mulheres fumantes e pertencentes aos estratos sociais mais pobres”, pontua Iná.   

O contato frequente das mulheres com profissionais de saúde durante o pré-natal é uma oportunidade única para a promoção do aleitamento materno. De acordo com Rita, a rede básica de saúde, composta por equipes multiprofissionais, e por suas características de alta cobertura populacional e continuidade do cuidado, “constitui o cenário ideal para a promoção do aleitamento materno entre as mulheres que mais necessitam” 

Manutenção do aleitamento traz benefícios 

Além do valor nutricional, o aleitamento possui benefícios psicológicos, relacionados ao vínculo mãe-bebê, e cognitivos da criança. “Um grande estudo de acompanhamento ao longo de décadas identificou, inclusive, melhor desempenho escolar em crianças que foram amamentadas por mais tempo. Na economia de um país, a amamentação também pode impactar positivamente, com a redução de gastos públicos em saúde”, comenta a nutricionista materno infantil Caroline Abub. 

A professora aponta que não há idade indicada para interrupção do aleitamento e a decisão deve ser realizada pela família. “A recomendação formal das organizações de saúde é a manutenção da amamentação até os dois anos ou mais. Aspectos psicológicos e de logística familiar devem ser considerados com respeito e orientados pelos profissionais de saúde”.  

Caroline também reforça a importância da busca por orientação de profissionais de saúde nos casos em que haja alguma dificuldade para amamentar. Ela salienta que os bancos de leite humanos prestam esse serviço à comunidade de forma gratuita e universal (todos/as tem direito), com acolhimento, orientação e aconselhamento para o manejo de intercorrências e dúvidas. “Caso a equipe de saúde entenda que é importante outra forma de alimentação, se anterior ao sexto mês de vida, a prescrição de fórmulas infantis deve ser realizada por médico ou nutricionista de forma individualizada. Mas sempre que possível mantendo o incentivo ao aleitamento materno com objetivo de retomar de forma exclusiva ou manter o máximo possível”.   

Amamentação durante a pandemia 

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Organizações de saúde recomendam a amamentação meso durante a pandemia / Foto: Pexels

A pandemia provocada pela Covid-19 fez com que muitas mães tivessem receio em amamentar devido ao risco de infecção dos bebês. No entanto, ainda não está esclarecido se o vírus pode ou não ser transmitido pelo leite materno.  A OMS e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a partir da revisão das evidências científicas disponíveis, destacam que os benefícios do aleitamento materno que superam consideravelmente os riscos potenciais de transmissão da Covid-19. 

Segundo a OMS, deve-se permitir que a mãe e o bebê permaneçam juntos e pratiquem o contato pele a pele, inclusive o método canguru (em que o bebê, apenas de fralda, é colocado na posição vertical no peito da mãe), especialmente logo após o nascimento e enquanto estabelecem a amamentação, mesmo que tenham suspeita ou confirmação de Covid-19. 

As organizações de saúde ainda destacam que o aleitamento e o vínculo materno possuem benefícios para a prevenção de infecções, promoção da saúde e do desenvolvimento da criança, fatores especialmente importantes quando os serviços comunitários e de saúde estão fechados ou limitados. 

Homenagem ao Mês Mundial de Incentivo ao Aleitamento Materno 

No dia 18 de agosto, a Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS promove uma live em homenagem ao Agosto Dourado. O evento ocorre pela plataforma Zoom, a partir das 18h30 e contará com a participação de convidados/as, além de espaço para perguntas. Para participar é necessário realizar a inscrição. 

Saiba mais sobre a programação do evento. 


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