04/12/2018 - 17h49

Rodrigo Grassi de Oliveira faz conferência no Senado

Professor abordou violência e impacto no desenvolvimento infantil

Rodrigo Grassi de Oliveira, Senado

Foto: Reprodução

Na Semana de Valorização da Primeira Infância, realizada no Senado, em Brasília, no dia 20 de novembro, o professor dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e em Medicina e Ciências da Saúde e pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul Rodrigo Grassi de Oliveira falou sobre A construção da paz pela primeira infância: trauma precoce, violência e o desenvolvimento da criança. Começou ressaltando a importância do contato dos pesquisadores com responsáveis pela elaboração de políticas públicas. Há dez anos, Grassi de Oliveira investiga, com seu grupo de pesquisa, os efeitos que os maus-tratos provocam no desenvolvimento. “Nosso foco é entender como o cérebro de uma criança exposta a um estressor crônico nos primeiros anos de vida se modifica, se adapta ou se molda para dar conta de uma demanda que, a princípio, não estaria programada.”

Chimpanzé Bruno

Chimpanzé Bruno, palestra Rodrigo Grassi de Oliveira

Foto: Reprodução

O exemplo de Bruno, um chimpanzé de um santuário em Serra Leoa, foi usado pelo professor para ilustrar as consequências da exposição a maus-tratos na infância. Esses macacos presenciaram as mães sendo mortas, foram levados a laboratórios para experiências ou foram usados em circos. A espécie compartilha 99% da informação genética com o ser humano. O tempo de amamentação dos chimpanzés é de pelo menos 2 anos para o adequado desenvolvimento. Já na juventude, em 2006, Bruno reuniu um bando de chimpanzés, que assaltou um depósito de comida e organizou uma fuga. Eles fizeram uma espécie de armadilha para visitantes na entrada do parque, resultando na morte de um taxista e ferimentos em turistas. Foi a primeira vez que um primata menor matou um maior de uma forma organizada, chocando a comunidade.

A ciência começou a se perguntar: qual é a diferença entre um chimpanzé criado por sua mãe durante os dois primeiros anos e o outro privado do cuidado materno?  Grassi de Oliveira responde: o último apresenta na adolescência prejuízo no controle de impulsos e no desenvolvimento cognitivo (como na memória e aprendizagem), aumento de agressividade e maior consumo de tabaco e álcool. Em termos biológicos, se verificou que tinham redução da circulação da ocitocina, conhecida como hormônio do amor, que faz a mediação do vínculo materno.

Brasil campeão em maus-tratos

O professor destacou que, na população em geral, um terço é exposta a alguma forma mais grave de vitimização. Entre adolescentes que participam de pesquisas, em torno de 13% dizem que no último ano sofreram algo desse tipo. O grupo de Grassi de Oliveira coletou dados de 36 países, verificando que o Brasil lidera a lista, com a maior parte de adultos relatando violência ou negligência na infância.

Dados dos EUA mostram que o custo anual da mulher que tenha sofrido abuso físico na infância é de 500 dólares a mais para o sistema. Se acrescentada a perda de produtividade, chega-se a 50 a 88 bilhões de dólares por ano. Somados os homens, o montante atinge 177 bilhões de dólares ao ano. “Haveria uma economia muito grande se fossem reduzidas as taxas.”

Quanto custa para quem sofre? O professor alerta que, ao longo do desenvolvimento, há uma série de etapas para o amadurecimento de estruturas mais frontais do cérebro, responsáveis pelo controle cognitivo, pela regulação emocional e pela inibição de comportamentos agressivos. Precisam de um ambiente favorável pelo menos até os 20 anos.

O evento no Senado discutiu o tema Parentalidade, proteção e promoção da criança. Participou também Vital Didonet, médico especialista em educação infantil e coordenador pelo Plano Nacional pela Primeira Infância. Interessados no tema podem assistir à conferência pelo link.

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