OpiniãoFOTO: BRUNO TODESCHINI

Um futuro já presente

Artigo de Rafael Prikladnicki, diretor do Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc)

Apesar de o título mencionar futuro, gostaria de deixar claro que muito do que falamos sobre futuro já é presente. Porque o mundo está mudando com uma rapidez sem precedentes. A passagem da revolução industrial para a digital tem ocorrido em uma velocidade exponencialmente maior do que a transição da revolução agrícola para a industrial. As próximas duas décadas serão diferentes de tudo o que vivemos nos últimos cem anos.

Estamos falando de uma disrupção em vários níveis. Empresas organizacionais atuando de forma menos linear e hierárquica e mais em rede. E uma verdadeira revolução tecnológica ao nosso redor. Futuristas dizem que essa disrupção vai acelerar e mudar completamente o modo como as pessoas vivem nas cidades, convivem, colaboram, empreendem e aprendem. Também afirmam que o mundo hoje funciona em uma lógica mais aberta, de colaboração e, principalmente, de abundância.

Ouvimos sobre isso na PUCRS, em maio, quando recebemos no Tecnopuc o vice-presidente da HP Inc., Doug Warner. O executivo compartilhou suas visões sobre o futuro da tecnologia e sobre como isso afeta as direções estratégicas que os profissionais da área precisam considerar atualmente.

Muito do que ele falou não é novidade. Mas alguns pontos me chamaram a atenção. Tecnologias disruptivas nem sempre são óbvias. E, muitas vezes, existem previsões bastante equivocadas em relação a elas. Como no caso de Marity Cooper, inventor do telefone móvel. Sua previsão, em 1981, era de que os telefones celulares não substituiriam os telefones cabeados. Sabemos o final da história. O futuro é abundante de potencial e desenvolvimento, de inovação disruptiva, de tecnologia. A economia do século 21 é a do conhecimento, do empreendedorismo, da inovação. E quem não conseguir compreender e acompanhar ficará pelo caminho.

Então, como se preparar para esse mundo? Nossas profissões vão sumir? Sim! Robôs vão ser considerados uma força de trabalho, assim como hoje são os funcionários de empresas. Simples assim. Portanto, podemos prever empregos que serão absorvidos pela tecnologia, mas não podemos prever quais novos empregos irão surgir. Temos sim que entender que a tecnologia está fazendo com que todas as profissões, algumas menos e outras mais, sejam repensadas. Modelo, telefonistas, motoristas, assistentes e secretárias (conhecem a https://claralabs.com/ou a tecnologia Google Duplex?). E por aí vai. Mas tecnologia é meio. E os empregos que somem trazem outros.

Os robôs que nos deixam apreensivos vão na verdade nos tornar mais humanos, nos fazendo trabalhar de forma inteligente, desenvolvendo todo o nosso potencial intelectual. Então a reflexão que devemos fazer não é se um robô vai roubar nossa profissão e, sim, sobre que oportunidades vão existir num mundo conectado, não linear, imprevisível e exponencial.

Sabemos que, para esses novos empregos, precisamos de outro tipo de educação.

Dos makers, do professor tutor, das metodologias ativas, do educar pela pesquisa. De uma abordagem mais conectada com o mundo atual. Os robôs que nos deixam apreensivos vão na verdade nos tornar mais humanos, nos fazendo trabalhar de forma inteligente, desenvolvendo todo o nosso potencial intelectual. Então a reflexão que devemos fazer não é se um robô vai roubar nossa profissão e, sim, sobre que oportunidades vão existir num mundo conectado, não linear, imprevisível e exponencial. Onde a tecnologia estará ao nosso redor. Mas lembrem que daqui a dez anos, ou antes, provavelmente faremos nova discussão sobre os impactos dessa mesma tecnologia na atuação profissional de cada um.

Então, o que fazer hoje? Vou dar uma sugestão: o primeiro e mais importante é ser exponencial, atualizar-se de tudo constantemente. Segundo: erre. Errar é aprender e não fracassar. Em poucos anos todos trabalharão para aprender, ao invés de aprender para trabalhar. Terceiro: criatividade, empatia e coragem estão entre as principais habilidades do futuro. E quarto: comece a enxergar o seu curso, a sua profissão, sob a perspectiva de outra área. Como? Enxergando o Direito sob a perspectiva da Inteligência Artificial; a Psicologia sob a perspectiva da Engenharia. Enxergar a Ciência da Computação sob a perspectiva da Sociologia; a Comunicação sob a perspectiva da Administração; a Medicina sob a perspectiva da Filosofia! Vivi isso em 2016, quando eu, da Escola Politécnica, dividi o palco do projeto Fé e Cultura com o meu colega Chico Kern, da Escola de Humanidades, para falar sobre o futuro do trabalho, sob a perspectiva tecnológica e humana. Inovadora e social. A conclusão a que chegamos é de que o mundo é cada vez mais diverso, conectado e interdisciplinar. É daí que surgirão as principais oportunidades. É daí que surgirão as futuras profissões. Num futuro que já é presente. Boa sorte.