Bastidores

Por trás dos palcos

Instituto promove cultura e conhecimento

Para a atriz Fernanda Montenegro pisar no palco do Salão de Atos da PUCRS, fazer a leitura dramática de Nelson Rodrigues por ele mesmo e receber o Mérito Cultural da Universidade foram meses de negociações, dezenas de e-mails e telefonemas. Pesou na demora a idade – 89 anos, sem contar que ficou afônica pouco tempo antes da sua vinda. A equipe do Instituto de Cultura precisou transportar de caminhão do Rio de Janeiro uma mesa e uma cadeira (cenários do espetáculo). Um técnico de som veio de São Paulo. Para o camarim, não houve nenhum pedido especial da atriz. Todo esse trabalho de bastidores contribuiu para que o evento de outubro de 2018 tivesse tanta repercussão, com 1,3 mil expectadores, e ocorresse ainda na PUCRS o lançamento do Itinerário autobiográfico de Fernanda, publicado pelo Sesc.

No ano passado, foram promovidas mais de 80 atividades, trazendo para a Universidade 243 artistas da música e do teatro, 47 escritores e 184 pesquisadores e alunos, dirigidas a um público acima de 15 mil pessoas. Em 2019, está prevista nova entrega do Mérito Cultural, agora na área da música, e serão mantidos os recitais na Igreja Cristo Mestre e projetos como o PUCRS Piano, que espalha os instrumentos pelo Campus.

“O Instituto é mediador entre o público docente e discente no contato com a cultura”, enfatiza o diretor, Ricardo Barberena. Uma aluna revelou que Caio do céu foi a primeira peça a que assistiu na vida. Um funcionário se encantou com a presença da atriz e escritora Fernanda Torres. Um gestor relatou que se sentiu bem com as notas do piano no Living 360°. “Como professor, me encanto quando vejo quem não estava habituado a determinados eventos se emocionar e ter um fascínio despertado. A cultura é um instrumento de humanização e sensibilização diante do mundo”, festeja Barberena.

Trio de produção cultural: Ricardo Barberena (E), Caroline Kiosseski e Michel Flores

FOTOS: CAMILA CUNHA

DO PLANO À AÇÃO

De tão variada, a programação exige diferentes estratégias para seu planejamento e execução. Os produtores Michel Machado Flores e Caroline Kiosseski precisam de flexibilidade e dedicação para acertar os inúmeros detalhes. “Em cinco minutos, discutimos o tipo de luz e a estrutura de uma programação e em seguida pensamos em nomes da cena cultural brasileira e gaúcha. Há muito de operacional, mas também de criação”, resume Barberena.

As ideias correm à solta na sede do Instituto, o 7º andar da Biblioteca Central. Muitas delas, como o graffiti na parede do prédio 6, vêm do projeto de concepção do Instituto, criado em dezembro de 2017 dentro da estrutura da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários. Outras atividades são sugeridas por alunos, professores e parceiros, como o Theatro São Pedro. O grupo fica atento ao calendário da cidade, tentando otimizar os recursos, muitas vezes dividindo os custos.

A colocação do graffiti, como algo inédito na PUCRS, exigiu uma série de aprovações. Depois da aprovação do projeto do artista Kelvin Koubik, os produtores foram em busca da contratação de uma plataforma articulada para que ele e seu auxiliar fizessem o trabalho a 18 metros de altura. “Conseguimos apoio técnico aqui mesmo na Universidade. Especialistas nos auxiliam nesse tipo de caso”, comenta Michel.

Montagem do palco para evento

CRITÉRIOS

Os critérios para inclusão das atividades são a viabilidade financeira, o equilíbrio das datas (para não haver várias em um mês e poucas em outro, além de não coincidirem com férias acadêmicas) e, em especial, a relação com o mundo do conhecimento. “Aproximamos o entendimento do que é cultura e educação. Vemos os artistas como professores. Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg trazem a história do teatro no Brasil, por exemplo”, destaca Michel. Barberena lembra ainda a preocupação de não se restringir a um tipo de arte.

O Instituto conta com verba institucional e busca patrocínios para viabilizar espetáculos mais onerosos. Um dos exemplos foi o recital com o pianista György Oravecz, com apoio do Consulado Honorário da Hungria no RS. “No final tivemos que colocar mais cadeiras para acomodar todo mundo”, comenta Caroline.

Outro evento de sucesso foi a aula aberta com a Monja Coen, no Salão de Atos. A gestão da Rua da Cultura é do Instituto. As ações não precisam necessariamente ser na área cultural, mas devem envolver alguma apresentação musical ou exposição de arte.

Memória sulina

189Bastidores3O Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural, que abriga 51 acervos de escritores, jornalistas, cineastas e outros grandes nomes da cultura sulina, está dentro do Instituto de Cultura. São quase 40 mil itens catalogados, sob a responsabilidade de uma bibliotecária. Em 2018, atuaram dez bolsistas. Pesquisadores podem acessar documentos, fotos e demais materiais mediante agendamento. Uma técnica em memória literária apoia os interessados em investigar no local.

A equipe está ocupada no momento avaliando novos materiais para o acervo do escritor Moacyr Scliar, que é o primeiro disponibilizado pelo Delfos Digital. Estão disponíveis mais de 800 trabalhos, incluindo a versão manuscrita ou datilografada de sua obra, correspondências e outros documentos. O endereço para conferir é: delfosdigital.pucrs.br. No espaço também há a coleção sobre o escritor Caio Fernando Abreu, com mais de 500 trabalhos, de recortes de materiais de imprensa a manuscritos e datiloscritos originais de contos e livros.

 

 

Aos 62 anos, Coral amplia número de vozes

Maestro Marcio orienta audição vocal

A PUCRS mantém o Coral há 62 anos. Tem em torno de 40 cantores voluntários, dentre eles, alunos, funcionários e pessoas da comunidade. “Neste ano, almejamos 60 vozes, de forma equilibrada entre os naipes”, diz o maestro Marcio Buzatto. Em fevereiro e março, ocorreram audições para a seleção dos novos nomes.

“Em alguns casos, conforme a complexidade, trabalham uma música mais de um mês”, conta Caroline Kiosseski. No segundo semestre, terão um desafio e tanto, uma programação em torno de dois compositores consagrados: J. S. Bach e Ariel Ramirez. “São dois repertórios contrastantes entre si, porém ricos em suas linguagens e com dificuldades técnicas exigentes”, avalia o maestro.

No ano passado, o Coral participou de 24 eventos, destacando-se o Festival Internacional de Coros de Santa Maria, quando conviveu por três dias com grupos de outras universidades e países. Na PUCRS, podem ser lembrados o musical encenado Uma tal Maria e o Festival Vivaldi, com a Sphaera Mundi Orquestra e solistas. Show com Nani Medeiros na Feira do Livro de Porto Alegre e concertos e Festival de Música Sacra na Catedral Metropolitana fizeram parte do roteiro de 2018. “Algumas apresentações tiveram público presente acima das 50 mil pessoas, como o Concerto com Paulinho da Viola em 2011, o Concerto com Milton Nascimento em 2013 e o show com os Rolling Stones em 2016”, recorda Buzatto, destacando o papel do Coral de divulgação da Universidade e da cultura para a grande Porto Alegre e outras cidades e estados.

 

Curiosidades

189Bastidores_extra– Dos oito pianos do Campus, o que mais chama a atenção é um steinway, de 1977, instalado na Igreja Cristo Mestre. Aguardava recursos para restauração quando a cantora e pianista de jazz Diana Krall exigiu um instrumento desse tipo para apresentação no Auditório Araujo Vianna, em abril de 2018. Só havia outro na Ospa e estaria em uso. A Oppus pagou pela recuperação do steinway. Na foto, aparece tocando o pianista húngaro György Oravecz.

189Bastidores3– O Delfos destinou fotografias para a exposição Sobre POA pelas comemorações do 247º aniversário de Porto Alegre. São 20 imagens atribuídas ao italiano Luiz Terragno, o primeiro retratista de Porto Alegre, condecorado por Dom Pedro II como fotógrafo imperial. Foram obtidas a partir de um ponto de vista inusitado: as torres da antiga Catedral – no mesmo local da atual, entre 1865 e a década de 1870 – e agora reinterpretadas pelas lentes dos profissionais da Prefeitura de Porto Alegre. A mostra fica em cartaz até 18 de maio na Pinacoteca Aldo Locatelli (Praça Montevidéu, 10).

– As runas e o baralho de tarô do escritor Caio F. Abreu estiveram em 2018 na Fundação Iberê Camargo, dentro da exposição Caixa-Preta. A família foi consultada sobre o empréstimo.