A engenheira química Marina Gomes faz biscoito sem glúten de casca de batata

Sou PUCRSFoto: Camila Cunha

O lado humano das exatas

Alunos de Engenharia Química e Educação Física usam conhecimentos para levar benefícios à sociedade

O desenvolvimento de um biscoito sem glúten; a aplicação de táticas de ensino voltadas a alunos com deficiência; um estudo sobre as implicações de histórias infantis na prática da Educação Física nas escolas. Apesar das divisões de cursos por áreas, é comum que as atividades realizadas em cada um acabem indo além das definições.

Marina Gomes, de 23 anos, estava no sétimo semestre do curso de Engenharia Química quando resolveu produzir farinha através da casca de batatas inglesas. Por ter estagiado no Laboratório de Processos Ambientais da PUCRS, sempre se interessou pelo estudo de alimentos. Foi o professor Cláudio Frankenberg, seu orientador no estágio, quem sugeriu que ela fizesse um estudo com a casca do tubérculo, que, na maioria das vezes, é vista como resíduo. A pesquisa acabou virando o tema do trabalho de conclusão de curso de Marina.

“Já existiam alguns estudos sobre a produção de farinha com a casca de batata, mas os pesquisadores geralmente misturavam só 25% da casca, utilizando farinha normal no resto da medida”, explica Marina. O objetivo da engenheira química foi aumentar a porcentagem e fazer uma análise sensorial, para se certificar de que a mistura seria bem aceita. Para isso, decidiu preparar amostras misturando farinha normal com 25%, 50%, 75% e 100% da farinha de batata.

Concentrações de farinha da batata variam de zero a 100%

Sustentável

Foi aí que o trabalho começou a alcançar outras áreas. “Para produzir a farinha, eu precisaria de muitas cascas, pois são muito finas. Como a ideia era reutilizar, não fazia sentido descascar batatas que talvez nem fosse consumir”, relembra. A solução foi estabelecer parcerias com churrascarias, que têm o costume de descartar a casca. “Só precisei fazer a separação e lavagem. Tornou-se um processo muito sustentável.”

Depois de lavar, retirar toxinas, secar em estufa e moer, deu início à análise sensorial. “A mistura com até 50% da farinha de casca de batata foi muito bem aceita. Ou seja, dos dados iniciais de 25%, poderíamos aproveitar o dobro de casca”, observa Marina. Uma das maiores surpresas decorrentes da pesquisa foi a quantidade de nutrientes encontrada na farinha produzida. Enquanto a normal possui apenas carbono e oxigênio, na de batata foram encontrados magnésio, cálcio e potássio.

Para celíacos

Os testadores apontaram o potencial do produto como uma alternativa para celíacos. “Muitos dos que degustavam diziam que tinham intolerância à glucose, ao glúten. A eles, dei a amostra que utilizava 100% da farinha de casca de batata. A recepção foi ótima”, conta Marina. Ela acredita que, em receitas mais elaboradas, seria possível substituir completamente a farinha normal pela de batata, algo promissor para quem não pode consumir glúten.

No futuro, a engenheira química pretende continuar produzindo e estudando o tema, encontrando novos benefícios e funções para o produto. “Achei que analisaria mais a produção da farinha. Mas acabei abrangendo um pouco da medicina, da saúde, da sustentabilidade e até mesmo um lado mais humano”, comemora.

Para o professor da Escola Politécnica Cláudio Frankenberg, a possibilidade de criar um produto – ou, futuramente, novos produtos – oriundos da casca de batata é significativa, não apenas em função do valor econômico, mas também do nutricional. “Paralelo a isso, temos a redução de um resíduo orgânico, que tem uma boa degradação, porém ocupa espaço nos aterros. Com isso, podemos usufruir desse resíduo na geração de renda, minimizando danos ambientais”, complementa.

A psicologia por trás do esporte

Marcella Soares: sem barreiras para patinar

FOTO: CAMILA CUNHA

No oitavo semestre do bacharelado em Educação Física, a diplomada Marcella Soares, 26 anos, resolveu escrever um artigo sobre os facilitadores e as barreiras da patinação artística para alunos com deficiência física. A inspiração veio durante um estágio na escola de patinação André Kasper, onde conheceu Vitória. A menina nasceu com pseudartrose congênita na tíbia, doença da estrutura óssea que leva à deformidade da perna logo nos primeiros passos.

Aos dez anos, depois de diversas cirurgias não bem-sucedidas, Vitória resolveu “tirar a perna”. Não aguentava mais sentir dor. Desde a amputação, com o uso de uma prótese, ganhou mais liberdade para fazer tudo o que desejava. Foi ao decidir fazer patinação que conheceu Marcella.

“Ela tem muita força de vontade. Em pouquíssimo tempo aprendeu coisas que, às vezes, outras crianças demoram mais”, conta Marcella. A partir daí, escolheu o tema do artigo – pré-requisito para finalizar a etapa do estágio. “Foi muito bom. Consegui perceber todas as barreiras que a Vitória teve durante o processo, bem como as facilidades”, complementa.

A pesquisa de Marcella auxiliou, também, o dono da escola e os professores, que foram mentores de Vitória durante todo o processo da patinação. “Posso usar esses aprendizados com outros alunos, no sentido de que todos podem aprender; basta ter força de vontade”, reflete. Em março de 2018, Vitória foi convidada para patinar em uma escola federada. Agora com 12 anos, tem como sonho ser campeã estadual.

Experienciando

Bernardo Lima estudou o impacto dos super-heróis no comportamento das crianças

FOTO: CAMILA CUNHA

Marcella apresentou o artigo no Experienciando, evento promovido pelo curso de Educação Física em parceria com os grupos de pesquisa e os cursos de pós-graduação lato sensu da mesma área. É um espaço de apresentação de pesquisas, trabalhos acadêmicos e produtos que une ensino, pesquisa e extensão, promovendo a interdisciplinaridade.

Para Bernardo Lima, 24, estudante do 8º semestre do curso de licenciatura em Educação Física, o Experienciando é extremamente importante. “É uma excelente forma de integrar os alunos e ir acostumando-os às normas técnicas e científicas”, afirma. Em 2017, apresentou um artigo, parte do trabalho de conclusão de curso, sobre o impacto que as figuras de heróis e super-heroínas exercem no comportamento de meninas e meninos durante a prática de atividades esportivas.

“Os garotos eram muito mais ativos. Corriam rápido como os personagens heróis, eram fortes. Apenas uma menina foi fantasiada, como princesa”, relembra. A partir dali, passou a observar como isso afetava as crianças. “Às meninas ainda impera a figura das princesas, o que as deixa com uma atitude muito mais passiva em relação ao mundo. Enquanto isso, os meninos não podem ser sensíveis. É necessário um equilíbrio, mais diversidade de personagens”, concluiu.