O Living 360° tem piso e mapa táteis para as pessoas com deficiência visual

BastidoresFOTOS: CAMILA CUNHA

no caminho da inclusão

Universidade terá política de acessibilidade

POR ANA PAULA ACAUAN

Começou a atuar este ano a Comissão de Acessibilidade da PUCRS, ligada à Assessoria de Planejamento e Avaliação. Uma de suas missões é propor a política de acessibilidade da Universidade, levando em conta a legislação e as diretrizes da Avaliação da Educação Superior, além da missão da PUCRS, que prevê a perspectiva da responsabilidade social de estar aberta à diversidade e inclusão. O grupo trabalha na elaboração de um documento guia, incluindo aspectos físicos/arquitetônicos, pedagógicos, instrumentais, comunicacionais e de atitudes.

O grupo, formado por oito representantes de pró-reitorias e assessorias, é propositivo e consultivo. “Acompanhamos as demandas e refletimos sobre o que deve ser prioridade”, explica a coordenadora, Marion Creutzberg. A professora lembra que muitas vezes situações individuais levam a ajustes, servindo de reflexão para o coletivo. Acredita que o maior desafio para atender bem os públicos com necessidades especiais não é físico nem pedagógico, lembrando que a PUCRS conta com o Núcleo de Apoio à Inclusão/Laboratório de Ensino Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas, entre outros serviços. A questão fundamental é a relativa a atitudes. “Um estudante surdo, por exemplo, pode ter um intérprete de Língua Brasileira de Sinais. Mas isso não basta. Como encontrar soluções que estimulem sua autonomia e o ajudem a se preparar para o futuro profissional?”, reflete Marion.

Salão de Atos tem diversas modalidades acessíveis, como rampas

IMAGEM: GERÊNCIA DE INFRAESTRUTURA

A comissão está mapeando as iniciativas da Instituição, visando articulá-las, e trabalha com o diagnóstico elaborado pela Gerência de Infraestrutura (GeInfra) da PUCRS. Todos os prédios estão discriminados quanto à acessibilidade, à segurança e a equipamentos.

A Universidade conta com outra comissão, nesse caso operacional, para verificar a situação e sugerir mudanças a curto, médio e longo prazos. Edificações em reforma consideram as normas técnicas e aos poucos o Campus passará por alterações para com a finalidade de ampliar a acessibilidade.

O novo Salão de Atos, lançado em novembro, passará a ser adaptado a pessoas com deficiência e outras necessidades especiais. Escadas e rampas de acesso comportam pisos de sinalização de alerta, e os corrimões têm adesivos em braile. Há poltronas maiores para obesos, pessoas com mobilidade reduzida e com deficiência visual acompanhadas por cão-guia, totalizando 26 lugares, assim como espaços para cadeiras de roda, com piso nivelado, somando outros 26.

PISOS E MAPAS TÁTEIS

O Living 360° tem soluções de inclusão contempladas. O espaço tem piso e mapa táteis. A sinalização de alerta foi instalada na frente dos elevadores e escadas. Um painel com letras em relevo e em Sistema Braille visa facilitar a localização de pessoas cegas e/ou com baixa visão, informando sobre os principais serviços. As funcionalidades estão sendo implantadas e padronizadas progressivamente, com base na legislação, em estudos e na experimentação de usuários. Até 2020, será a vez das entradas da Universidade na Av. Ipiranga e na Av. Bento Gonçalves, no prédio 1 (Reitoria), na Biblioteca e no Centro de Eventos. No ano seguinte, a novidade irá para as Escolas. Alarmes sonoros serão instalados nos banheiros para pessoas com deficiência física visando ao acionamento em caso de emergência.

O arquiteto Eduardo Mortari, da Geinfra, diz que todas as rotas de acesso para secretarias, salas de aula e laboratórios da Universidade são acessíveis. Faltava apenas elevador no bloco F do prédio 30, o que foi providenciado. “Temos um Campus de muitas décadas, precisamos nos adaptar conforme as normas vão evoluindo.”

A cada ano, para o Censo da Educação Superior, é informada a situação dos cursos nesse quesito. A PUCRS está bem cotada nas avaliações externas realizadas pelo Ministério da Educação.

 

Apoio do vestibular à formatura

O Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI)/Laboratório de Ensino Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Lepnee), da PUCRS, orienta e acompanha alunos com necessidades especiais, diferentes tipos de deficiência e transtorno do espetro autista. Alguns acionam o serviço na hora de prestar o Vestibular. Outros conhecem as dependências do curso e as possibilidades e barreiras antes de começarem a estudar. Foi o caso de Vítor Fahrion Lerina, 20 anos, que tem atrofia muscular espinhal e se desloca usando uma Scooter. Num fevereiro de forte calor, Vítor e a mãe, a assistente social Marinês, a professora Marlene Rozek, a técnica Tânia Brittes e o professor Anderson Terroso percorreram o prédio 30 e verificaram as demandas do futuro aluno de Engenharia Mecânica. Com um sorriso aberto e olhos brilhando, já se imaginava usufruindo do lugar. Está no 6º semestre.

“Desde sempre ele quis ser engenheiro”, comenta Marinês, que tem a entrada liberada no Campus para deixar o filho. A doença, diagnosticada aos 8 anos, nunca foi empecilho para seus sonhos. Em 2018, começou a tomar um medicamento novo com bom efeito. Faz as provas no NAI/Lepnee porque precisa de mais tempo, pois não pode cansar o braço e a mão. “Fomos muito bem acolhidos na PUCRS”, diz a mãe.

“O percurso acadêmico do Vítor nos dá muito orgulho e alegria”, destaca Marlene, coordenadora do Núcleo, que se envolve com cada estudante atendido. O serviço apoia 65 estudantes no momento. O acolhimento começa no contato com a família e segue ao longo da vida acadêmica do aluno. Conforme a necessidade, o Núcleo produz material adaptado para o processo de aprendizagem e auxilia os professores em relação ao ensino e manejo em sala de aula.

Quando a equipe verifica que, além do suporte psicopedagógico, a família e/ou aluno precisam de um espaço de escuta e aconselhamento psicológico, encaminha para o Centro de Atenção Psicossocial. Em alguns casos, aciona o Laboratório de Aprendizagem.

CAPACITAÇÕES

O Núcleo, com a Gerência de Gestão de Pessoas, promove cursos de Língua Brasileira de Sinais (Libras), ministrados pela professora Janaína Claudio, da Escola de Humanidades, voltados a funcionários. Em 2018, foram 45 participantes, da vigilância, higienização e secretarias das Escolas. No primeiro semestre, parte da equipe da Biblioteca Central participou de uma capacitação focada no atendimento de pessoas com deficiência visual. O local oferece tecnologia assistiva para esse público.

A inclusão é um processo lento e complexo não apenas no Brasil. A professora Marlene destaca que o compromisso deve ir além da força da lei: “Não pensamos apenas na garantia de direitos, mas em um posicionamento ético. Queremos que esses alunos ingressem na Universidade, tenham uma permanência com qualidade de aprendizagem, se construam como cidadãos capazes de atuar no mundo com autonomia, responsabilidade e competência”.

O NAI também tem um braço de pesquisa. Um dos estudos trata da inclusão no ensino superior. A meta é que a PUCRS se torne referência nesse campo.

Disciplina obrigatória para licenciaturas

A partir de 2020, os cursos de licenciatura incluirão uma disciplina obrigatória – Educação Especial e Processos Inclusivos. As diretrizes curriculares dessas graduações exigem um percentual na área de pedagogia. A Pró-Reitoria de Graduação entendeu que o tema deve fazer parte desse rol. Hoje integra o currículo de Pedagogia e é eletivo para outras licenciaturas. Continua a ser oferecido como optativo para as demais graduações. “É fundamental essa formação. Os professores terão condições de trabalhar com esses alunos, no ensino básico, médio ou educação de jovens e adultos. Não conseguimos dar conta de todas as necessidades especiais, mas pelo menos eles terão uma noção”, destaca a coordenadora do curso de Pedagogia, Sônia Bonelli.

Raí com Marlene Rozek: um longo caminho até o curso de Psicologia

“Aqui sou tratado igual aos outros”

Raí Correia Cabeleira, 26 anos, precisou sair de São Borja para concluir o Ensino Fundamental. Em Alvorada, conseguiu vaga numa escola que tinha sala de recursos. Cego desde os 8 – até então enxergava pouco de um olho por conta de um glaucoma –, precisou percorrer um longo caminho até chegar ao curso de Psicologia. Ingressou em outra instituição de Porto Alegre pelo Programa Universidade para Todos, mas não havia uma estrutura de apoio. Veio se informar na PUCRS, se entusiasmou com os serviços e obteve o Financiamento Estudantil. “Aqui sou tratado igual aos outros. Não tenho benefício, me exigem do mesmo jeito.”

Formando, trata da inclusão escolar no Trabalho de Conclusão de Curso. Como é curioso, percorreu vários prédios da Universidade para as disciplinas eletivas. Neste semestre, escolheu Comportamento Organizacional, da Escola de Negócios. Sente-se em casa mesmo no NAI, onde busca materiais impressos em Braille e faz provas. As técnicas produzem até mapas e figuras em alto-relevo e descrevem imagens para que ele compreenda melhor os conteúdos. “Os professores não podem estar o tempo todo ao meu lado.” Foi difícil conseguir estágio. Quase pensou em desistir do curso quando ingressou no PUCRS Carreiras. “Tive uma experiência fantástica.” Agora está em uma clínica particular.

Glossário científico

Até o final do ano, o NAI/Lepnee, com o Museu de Ciências e Tecnologia, elaborará o Glossário Bilíngue Científico para Inclusão da Comunidade Surda Brasileira no Ensino Superior. Já  registraram 60 sinais-termo. A meta é chegar a 300. O grupo fará vídeos em Libras, com legendas das palavras. A professora Janaína Claudio, que coordena o projeto, informa que a maioria dos sinais existentes não é utilizada no Rio Grande do Sul. “Devemos avaliar cada um no campo da ciência e da tecnologia.” O projeto foi aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado no edital Auxílio Recém-Doutor, dentre 150 selecionados.