Marta preside a Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn

PerfilFOTO: CAMILA CUNHA

Encanto por ajudar

Marta Machado tem trajetória de compaixão, afeto e dedicação toda ligada à PUCRS e ao HSL

Marta Brenner Machado não tinha médicos na família, mas desde a infância sabia que esse era o caminho a seguir. Sua brincadeira preferida, como uma intuição, era ser doutora das bonecas. Hoje ela é presidente da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), coordenadora do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital São Lucas (HSL), professora na Escola de Medicina, gastroenterologista e endoscopista.

Toda a sua trajetória está ligada à PUCRS. Graduada, fez residência em Medicina Interna e em Gastro no HSL. Em 1993, ganhou uma bolsa de especialização em endoscopia na Universidade de Eppendorf (Alemanha). Ao retornar, em 1996, foi contratada como professora da Universidade.

A experiência internacional foi fundamental para o pioneirismo da PUCRS e do HSL na área, já que na época as tecnologias alemãs não haviam chegado ao Brasil. “Não se Marta preside a Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn tinha a facilidade de acesso a exames como hoje. Então comecei a fabricar materiais de endoscopia. Comprava as peças e manufaturava acessórios de esclerose, para cirurgia e próteses endoscópicas. Começamos a fazer coisas inéditas”, conta.

EM PROL DOS PACIENTES

Quando voltou ao Brasil, o País vivia a maior epidemia de Aids, doença na qual a endoscopia desempenhava enorme papel, já que as infecções oportunistas eram investigadas pelo gastroenterologista. Marta começou a atuar como voluntária no Serviço de Infectologia do HSL. Com o surgimento de novas drogas antirretrovirais, os agentes oportunistas no aparelho digestivo ficaram menos frequentes. Paralelo a isso, identificou nos pacientes um aumento da doença inflamatória intestinal retocolite e da doença de Crohn. Assim se deu a transição de sua carreira de Aids e aparelho digestivo para essas doenças inflamatórias crônicas.

Por volta de 2000, Marta pediu à direção do HSL para criar um laboratório do SUS, que hoje é referência no País. “O sofrimento de pacientes com doença crônica, incurável e de difícil manejo, com necessidade de auxílio médico, emocional e nutricional, fez com que montássemos um laboratório voluntário envolvendo multiprofissionais com nutricionistas, psicólogos, equipe de cirurgia. Temos representação no Brasil e somos referência em doença inflamatória intestinal no Estado”, destaca.

Em 2004, Marta fundou o Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal do Brasil. Atualmente, desenvolve estudo epidemiológico para estatísticas da doença. A médica se dedica em tempo integral em prol dos pacientes, dividindo-se entre ensino, assistência ao SUS e o consultório no Centro Clínico da PUCRS. Como presidente da ABCD, busca informar, acolher e ajudar pacientes do SUS, garantindo que a associação tenha eventos em todo o País, revistas e folhetos, palestras e cursos sobre uma doença pouco divulgada, mas com grande número de pacientes. “Conseguimos que todos os remédios sejam autorizados pelo SUS, oferecidos pela rede pública”, comemora.

Relação médico-paciente

Com a cachorra Pepa, uma de suas paixões

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Com a evolução da tecnologia digital, Marta vê que a sala de aula mudou completamente e reforça que o papel do professor é mostrar o caminho, ensinando o envolvimento do médico com seus pacientes. “Isso a internet não traz. O Google chegou com uma velocidade de informação que, receio, afaste o médico do doente. Hoje é mais fácil olhar para uma tela do que para o olhar do paciente pedindo sua ajuda. O acesso às informações está na palma da mão, mas ensinar a arte de ser médico é um dos principais papéis do professor”, reflete.

Acompanhar uma doença, segundo Marta, é algo inato do estudante de Medicina. No curso, os alunos têm acesso a todas as áreas, sofrem influência de bons mestres e de serviços bem organizados. “Sempre me encantou o Serviço de Gastroenterologia da PUCRS, a correlação emoção e aparelho digestivo. Lidar com uma doença mais grave requer compaixão, dedicação e afeto. Sem isso, não sei fazer a Medicina. O nome disso é ser médico, independentemente da área, dedicar-se com carinho e atenção”, afirma.

Em toda a sua trajetória, Marta destaca o apoio que teve do curso de Medicina, da Universidade e do HSL. De sua formação acadêmica, destaca persistência, perseverança, honestidade e compaixão como lema da PUCRS e que leva consigo com completa identificação. “É a mesma jornada dos irmãos maristas no Brasil”, diz.

Natural de Porto Alegre, Marta gosta de dedicar seu tempo livre à jardinagem, vendo o resultado da semente à floração. Apaixonada por cachorros, sempre tem Pepa e Chica, da raça Daschund, por perto.