Por dentro da cuca de um fóssil

Carolina Abreu Hoffmann tem uma missão incomum: entrar na cuca de fósseis! A estudante de Doutorado, que desenvolve seu trabalho no Setor de Paleontologia do MCT-PUCRS, fez tomografias de crânios fósseis para pesquisar como era o interior da cavidade cerebral de cinodontes, os nossos primos que habitaram o Brasil durante o Triássico, início da “idade dos dinossauros”. Os cinodontes não eram mamíferos propriamente ditos, mas eram o mais próximo de mamíferos que existiam durante essa época. Em artigo publicado na revista científica internacional Historical Biology, Carolina descreve a base da estrutura cerebral de duas espécies de cinodontes, Probelesodon kitchingi e Massetognathus ochagaviae. –“Os cérebros dessas espécies eram bastante diferentes em forma e capacidade”, conta Carolina. –“O Massetognathus tinha regiões mais especializadas, mas o cérebro do Probelesodon era maior, o que devia dar a este último melhor capacidade olfativa”, completa. Marco Brandalise, responsável pela Coleção de Fósseis do MCT-PUCRS, co-autor do trabalho e orientador de Carolina, explica: -“Essa diferença faz todo o sentido, porque o Probelesodon tem dentes típicos de um predador e precisava de olfato para achar suas presas. Já o Massetognathus era um herbívoro, e não precisava da mesma capacidade para se guiar por olfato”. A pesquisa, que tem participação de pesquisadores da UFRGS, foi feita com fósseis do próprio MCT e usou o equipamento de tomografia do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer). Agora que foi publicado, esse estudo vai ajudar pesquisadores do mundo todo a entender melhor a evolução do cérebro dos mamíferos e de seus parentes próximos, os cinodontes.

 

Referência:

Hoffmann CA, Rodrigues PG, Soares MB & Andrade MB. 2019. Brain endocast of two non-mammaliaform cynodonts from southern Brazil: an ontogenetic and evolutionary approach, Historical Biology, DOI: 10.1080/08912963.2019.1685512