Doutorando em Ciências Sociais contribui com Environmental Justice Atlas

Marcos Todt desenvolveu trabalho sobre produção de carvão mineral no RS

17/07/2019 - 14h57
ejatlas,mina guaiba

Foto: Divulgação EJAtlas

O doutorando em Ciências Sociais Marcos Todt passou a colaborar com o Environmental Justice Atlas (EJAtlas), que registra conflitos socioambientais em todo o mundo. Sua primeira participação foi a descrição do Mina Guaíba, projeto de empresa gaúcha voltada à produção de carvão mineral e que está em fase de licenciamento ambiental. “Se aprovada será a maior mina de carvão a céu aberto do Brasil”, comenta Todt. Sua contribuição foi aprovada em junho e o estudante pretende indicar outros projetos potencialmente nocivos ao meio ambiente.

A Mina Guaíba, explica Todt, ocupará uma área de mais de 4mil hectares de nos municípios de Charqueadas e de Eldorado do Sul. Todt o considera um conflito socioambiental pelo confronto de interesses entre atores sociais sobre o uso dos recursos naturais, ou seja, pela utilização do território. “Caso o projeto seja efetivado, mais de 70 famílias de pequenos agricultores, responsáveis por uma das maiores produções de arroz agroecológico do Brasil, terão que sair do território, comunidades indígenas seriam afetadas e moradores de um loteamento urbano também teriam que deixar suas casas”, avalia.

Quanto aos impactos do projeto registrado por Todt no atlas ambiental, poderia causar poluição da água, reduzindo sua qualidade, perda da biodiversidade local e contribuição com o aquecimento global, entre outros fatores. “Causa preocupação do ponto de vista ecológico porque pretende extrair carvão (reserva estimada em 166 milhões de toneladas) em área muito próxima ao Parque do Delta Jacuí (Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica) e ao Rio Jacuí, com risco de contaminação da água por metais pesados e outros poluentes. Além disso, prevê o rebaixamento do lençol freático, o desvio de arroios e traz risco de piora da qualidade do ar pela poeira gerada pela mineração. Sem contar que o carvão é um dos principais responsáveis pela emissão de CO2, que causa o efeito estufa, responsável pelas mudanças climáticas que colocam em risco a continuidade da vida humana. Esses são alguns dos fatores que preocupam do ponto de vista ambiental”, ressalta.

A saúde, segundo Todt, também pode ser atingida, com doenças relacionadas ao meio ambiente, como respiratórias em trabalhadores de minas de carvão, acidentes de trabalho frequententes, atropelamento por trânsito de máquinas, desabamento/caimento, incêndio/explosão e atingimento por partículas. “Há casos que demonstram a relação entre mineração e fome nos povos tradicionais. E na área em que a mineradora pretende instalar o Mina Guaíba, há diversas comunidades indígenas. Ainda, o empreendimento causa preocupação com a saúde de toda a população da região, incluindo Porto Alegre, pelo risco de contaminação da água com metais pesados e do ar. Com relação à água, há risco de contaminação do lençol freático, e de que um erro ou acidente comprometa rapidamente o abastecimento de Porto Alegre e região metropolitana. Com relação ao ar, a população da região pode ter a saúde afetada por exposição a poluentes atmosféricos, já que a mineração de carvão libera diversas substâncias tóxicas”, reforça Todt.

EJAtlas

O Environmental Justice Atlas é financiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa e codirigido no Instituto de Ciência Ambiental e Tecnologia (ICTA), da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), por Leah Temper e Joan Martínez-Alier, e coordenado por Daniela De Bene. É apoiado pelo ENVJustice Project, voltado à justiça ambiental. “De acordo com Martínez-Alier, o EJAtlas é uma valiosa fonte de pesquisa que permite fácil busca e visualização de conflitos por tipo de recurso natural, por países e por empresas envolvidas. A análise global mostra que os conflitos ecológicos estão aumentando em todo o mundo devido à demanda por materiais e energia da população mundial de classe média e alta e que as comunidades mais impactadas são pobres, frequentemente indígenas e sem poder político”, diz Todt.

Todt conheceu o EJAtlas por leituras pertinentes a sua pesquisa de doutorado, que estuda como os partidos brasileiros tratam a questão ecológica, com orientação do professor Rafael Machado Madeira. “Diversos pesquisadores do ICTA-UAB são referência importante na temática de minha pesquisa. Atualmente estou em contato com o professor Federico Demaria, cientista socioambiental interdisciplinar do ICTA-UAB e coordenador adjunto do Projeto EnvJustice, e com a pesquisadora Grettel Navas, também do ICTA-UAB, que participa do ENVJustice e coordena o Grupo de Trabalho de Ecologia Política da América Latina do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Ambos me incentivaram a enviar casos brasileiros ao EJAtlas”, conta. Ele pretende contribuir com mais casos de conflitos socioambientais ocasionados pela mineração já que, segundo ele, somente no Rio Grande do Sul existem mais de 150 projetos do tipo.

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