Por uma educação transformadora e inclusiva

Dia Nacional da Visibilidade Trans e os projetos realizados na PUCRS e no Tecnopuc

29/01/2020 - 10h05
Por uma educação transformadora e inclusiva - Dia Nacional da Visibilidade Trans e os projetos realizados na PUCRS e Tecnopuc

Foto: Camila Cunha

Incluir mais pessoas da população trans no mercado de tecnologia da informação (TI), criar um ambiente seguro de acolhimento para a comunidade LGBTIQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexuais, queers e outros) e a revisão de estudos controversos sobre a disforia de gênero. Essas são algumas das ações envolvendo a PUCRS e o Tecnopuc na busca por uma educação transformadora e inclusiva. Apesar dos desafios, as reivindicações da comunidade trans têm ganhado cada vez mais espaço após a criação do Dia Nacional da Visibilidade Trans, em 2004.

Pesquisa sobre disforia de gênero: conceitos científicos

Angelo Brandelli Costa foi convidado a fazer parte do processo de revisão de estudo controverso realizado por uma professora da Brown University sobre disforia de gênero. A publicação de Brandelli na revista norte-americana Plos One, da Public Library of Science, também ganhou repercussão internacional e foi destacado em diversos jornais e sites. Professor dos Programas de Pós-Graduação em Psicologia e em Ciências Sociais, ele coordena o Grupo de Pesquisa Preconceito, Vulnerabilidade e Processos Psicossociais da PUCRS.

 

A pesquisa sugeria que alguns jovens poderiam estar sendo influenciados pelos pais e pela mídia a se identificarem como pessoas transgênero. O critério diagnóstico provocou debates sobre a forma que o estudo foi conduzido, uma vez que apenas relatos dos pais foram analisados. O docente apontou a importância de envolver diretamente os jovens nos estudos de forma aprofundada, com acompanhamento de profissionais da área da saúde mental para entender melhor as suas redes e influências a partir dos depoimentos.

 

“É muito importante estudar a diversidade sexual e de gênero no âmbito da juventude, que são geralmente negligenciadas. As formas de apresentação da variação e gênero na infância são pouco conhecidas”, comenta Brandelli.

 

EducaTransforma: a capacitação como meio de mudança

O projeto EducaTRANSforma promove a capacitação profissional para pessoas transgênero (transexuais e travestis) não bináries e intersexo, ajudando na sua inserção no mercado de TI. A iniciativa foi lançada no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc), em dezembro de 2019, com participantes de diversas áreas. A primeira edição do projeto contou com treinamentos gratuitos oferecidos pela UFRGS e iniciativas complementares.

 

A articulação de aliados e voluntários com empresas é muito importante para o projeto, visto que é uma iniciativa que não dispõe de capital próprio. Acesse o site e saiba como participar e apoiar.

 

Laboratório de Sexualidade, Gênero e Psicanálise: escutar é preciso

O Laboratório de Sexualidade, Gênero e Psicanálise, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, oferece espaço de acolhimento e escuta de forma gratuita a pessoas da comunidade LGBTIQ+. O projeto coordenado por duas professoras do curso de Pscicologia é realizado pela equipe do Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia (Sapp), que presta assistência comunitária há 45 anos. “A ideia de que os gêneros se dividem em masculino e feminino não dá mais conta da realidade. Há tantos modos de viver”, conta Luciana Redivo Drehmer, professora e orientadora de estágio da iniciativa.

 

O grupo trabalha com demandas de sofrimento psicológico que podem estar relacionadas à sexualidade e ao gênero. É necessário que os interessados tenham mais de 18 anos.

 

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Compreenda a data

Mesmo com as conquistas da população trans no Brasil durante os últimos anos, como direito ao nome social e representatividade na mídia e no esporte, o País segue os debates sobre políticas públicas e o combate à violência. Isso porque o Brasil tem o maior índice de assassinatos de pessoas trans no mundo, segundo pesquisa realizada pela ONG Transgender Europe, em 2018. Dos 72 países analisados, o Brasil registrou 167 mortes motivadas pela orientação de gênero, seguido pelo México, com 71 vítimas, e pelos Estados Unidos, com 28 vítimas. O mesmo acontece com outros membros da comunidade LGBTIQ+, uma vez que o Brasil está no topo da lista de homicídios por homofobia, conforme o levantamento do Grupo Gay da Bahia, a mais antiga associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil.

29 de janeiro: o Dia Nacional da Visibilidade Trans

Desde 2004, o dia 29 de janeiro ficou marcado na história do Brasil para a comunidade trans (travestis e transexuais). Essa população compareceu pela primeira vez ao Congresso Nacional para falar aos parlamentares sobre a sua realidade e reivindicar direitos. A partir daí a data foi reconhecida oficialmente como o Dia Nacional da Visibilidade Trans.

Gênero, orientação sexual e sexo biológico

A Defensoria Pública do Estado da Bahia elaborou uma cartilha sobre diversidade sexual, explicando diferenças entre as definições de gênero, orientação sexual e sexo biológico. Entenda melhor:

  • Gênero: é como as pessoas se identificam, dentro da lógica binário, como homem ou mulher. Transexuais possuem uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. Também conhecidos como gênero fluído, pessoas queers questionam os rótulos que restringem a amplitude e a vivência da sexualidade.
  • Expressão de gênero: é a maneira que a pessoa se apresenta, com base na aparência e em aspectos comportamentais. Pode ser influenciado pela cultura e a sociedade do momento.
  • Orientação sexual: refere-se a quem as pessoas sentem atração, romântica ou física, e não necessariamente tem relação com o gênero.
  • Sexo biológico: tem relação com a anatomia humana. Pessoas intersexuais apresentam variações anatômicas e/ou genéticas que dificultam sua identificação como tipicamente masculino ou feminino.

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