03 de Agosto de 2020
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Número de famílias com contas atrasadas cresce no RS

O levantamento também mostra piora no nível de persistência da situação de inadimplência. A fatia de famílias no grupo das que não terão condições de regularizar nenhuma parte de suas dívidas em atraso no prazo de 30 dias quase dobrou, crescendo de 8%, em junho do ano passado, para 14,2% em junho de 2020.

Esses dois indicadores apresentam elevação desde abril. O percentual de endividamento – que também leva em conta as dívidas que estão sendo pagas — apresentou queda na comparação dos períodos.

Economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo avalia que esses resultados negativos são reflexos diretos da perda do emprego formal no Estado nos últimos meses, o que condiciona as famílias a priorizarem suas contas atuais em detrimento aos compromissos antigos. Patrícia destaca que eventual reversão do atraso de dívidas depende diretamente do restabelecimento da situação econômica e dos postos de trabalho, o que costuma levar tempo.

Economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank também entende que a piora na situação de inadimplência é puxada pela instabilidade no mercado de trabalho, mas não apenas em relação ao emprego com carteira assinada. Segundo o especialista, a pandemia também afeta as atividades informais, que sofrem com menos demanda.

O economista avalia que esse impacto negativo só não foi maior em razão de programas do governo federal para preservação do emprego. Frank não acredita em uma retomada rápida da economia e do consumo logo após a pandemia. Além de o processo de reabertura das atividades ser gradual, a necessidade do pagamento de dívidas contraídas durante a crise provoca lentidão na recuperação, segundo o especialista:

— Em um segundo momento, mais ali adiante, a gente vai precisar pagar essa dívida. Quitar esses compromissos, que estamos assumindo hoje. Como a gente faz isso? A gente precisa diminuir o nosso consumo, formar uma poupança para gerar os recursos suficientes para poder pagar isso.


Frank estima que a situação de inadimplência também deve refletir negativamente no comércio no Dia dos Pais e nos próximos meses. O economista destaca que a incerteza sobre o futuro da atividade e do emprego acaba freando a compra nos casos onde o consumidor tem o dinheiro para adquirir produtos, pois ele adota cautela em razão da falta de confiança:

— Vejo isso com preocupação. A gente sabe que a data do Dia dos Pais é relevante, movimenta o comércio, e o fato de famílias que têm o balanço financeiro mais deteriorado, porque estão com dívidas em atraso ou porque não têm capacidade de arcar com seus compromissos, tende a provocar queda da demanda por bens e por serviços, e naturalmente provoca menos vendas e menos faturamento.

Patrícia afirma que o Dia dos Pais historicamente tem menos aquecimento se comparado a outras datas festivas. No entanto, com o cenário, esse volume deve piorar:

— O que a gente vê agora? Não tanto na questão do endividamento, mas do próprio comportamento do consumidor, que não tem renda, tem muita incerteza pela frente, tem medo de contaminação e que, em certos lugares, nem sequer encontra as lojas abertas. O endividamento é só algo que contribuiu.

Juro alto é vilão do orçamento

Na inadimplência de junho deste ano, as famílias com renda abaixo dos 10 salários mínimos aparecem como as mais afetadas. Economistas apontam que a falta de orçamento mais robusto para remanejos reflete esse cenário.

Educador financeiro e professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) Leandro Rassier diz que uma das soluções para diminuir o impacto das dívidas em atraso no orçamento e ganhar fôlego é priorizar os pagamentos com juros mais altos:

— O primeiro ponto é verificar quais as contas com juro mais alto. Quitar primeiro essas. Antes disso, se puder espichar, negociar com os credores essa dívidas é melhor.

Sobre devedores que estão com problemas em relação ao pagamento da fatura do cartão de crédito, Rassier diz que vale consultar empréstimos com juros menores para substituir essa dívida por outra com encargos menos pesados.


- Organize as contas, separando as com juros mais baixos das com taxas mais altas. Na impossibilidade de pagar todas, priorize as com juros mais elevados;

- Avaliar a possibilidade de parcelar ou renegociar a dívida com credores. Nesse cenário, a dívida continua, mas com parcelas menos pesadas e o consumidor evita a inadimplência;

- Colocar no papel todas as despesas da família e ver em qual ponto é possível cortar ou reduzir gastos;

- Não pensar no cartão de crédito como uma fonte de “empréstimo”, mas sim de pagamento;

- Tentar evitar o atraso no pagamento da fatura de cartão de crédito e a utilização do cheque especial, que carregam juros elevados. Em caso de dificuldade do pagamento dessas dívidas, avaliar substituí-las por empréstimos com juros menores.

Fonte: elaborado com a ajuda do educador financeiro e professor da Escola de Negócios da PUCRS Leandro Rassier

Fonte: Gaúcha ZH
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