23 de Abril de 2018
  • Jornal do Comércio
  • Economia
  • 9 banner(s)

Mercado de Capitais Selic baixa obriga rentistas a buscar novas aplicações

jcrs.uol.com.br

Os rentistas, como são chamados aqueles que vivem de renda proveniente da aplicação de capitais, viveram dias de ouro no Brasil entre 2015 e 2016, quando a taxa básica de juro beirou os 15% ao ano. O período é apontado como "único" na história recente do País, quando foi possível obter ganhos de 1% ao mês, sem risco, mas também sem gerar nenhum emprego ou produto. Apesar de aparentemente positivo para quem está ganhando, o cenário de dois anos atrás, dizem especialistas como Alexandre Wolwcaz, sócio do Grupo L&S, felizmente acabou.
"Por diferentes motivos, é bom que não se repita o cenário de juro de 2015 e 2016, de mais de 17% ao ano. Juro alto faz o dinheiro permanecer no banco, seja de pessoa física, seja do empresário, que irá preferir fazer aplicações financeiras em vez de abrir um novo empreendimento e gerar empregos", explica Wolwcaz.
O empresário e especialista em investimentos avalia que mundialmente a perspectiva de juros é de, em média, entre 3% a 4% e por isso, apesar da queda da Selic no Brasil, a taxa ainda é alta (próxima de 6%). E não há, no mundo ou aqui, indicadores que mostrem tendência de alta, ressalta Wolwcaz. Ou seja, os rentistas têm pouco espaço para se manterem em uma posição de inércia e precisarão cada vez mais buscar alternativas de renda. É esse o caminho natural, diz o presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec-Sul), José Oliveira.
"À medida em que o juro básico vai caindo resta ao investidor que quer ter ganhos melhores fazer o que diz todo o livro de finanças: aumentar a exposição ao risco. No Brasil, o juro elevado teve com finalidade, ao menos em parte, atrair recursos para financiar gastos públicos, o que é alvo de muitas críticas. Isso porque o recurso que deveria ir para o setor produtivo e gerar empregos financiou os elevados gastos públicos brasileiros. Encerrada a fase de lucros fáceis, Oliveira recomenda, por exemplo, investimentos em ações de empresas que pagam dividendos regularmente como forma de distribuição de lucros.
"Há opções até de ganhos trimestrais, como paga a holding Itaú. No ano passado, outro destaque entre as empresas que pagam dividendos foi a Taesa. No caso do Itaú, nos últimos cinco anos, o grupo pagou uma média anual de 8% de rendimentos anuais", comenta o presidente da Apimec.
Historicamente, quando a renda fixa cai é a renda variável que tende a melhorar. No caso de ações de empresas que repartem lucros entre acionistas, porém, tendem a valorizar menos no longo prazo. Isso porque a companhia deixa de reinvestir os ganhos na própria empresa, como fazem outras, o que aumenta o potencial de expansão de quem não faz a distribuição. A migração de investimentos de renda fixa para ações, por exemplo, começou em 2016, quando teve início a queda da taxa básica de juro e posterior controle da inflação. De janeiro de 2016 até agora, vale ressaltar, o Ibovespa passou de menos de 40 mil pontos para mais de 80 mil pontos alta de mais de 100%, promovida em parte pela migração dos investidores.
Para o professor da faculdade de Economia da Pucrs, Alfredo Meneguetti também há boas opções de ganhos com debêntures, quando o investidor empresta à empresa, que vai pagar o juro. Mas, enquanto nas debêntures incentivadas por bancos e corretoras há o segundo garantidor até R$ 250 mil, no caso das debêntures diretas o investidor corre risco maior para também ter ganhos maiores.
"Por esse risco, algumas destas empresas pagam entre 6% e 7% acima da inflação. Mesmo assim, claro, se ficará longe do ganho que se obtinha há alguns anos", pondera o economista.
Meneguetti também lista entre as opções os Fundos Multimercados, que misturam renda fixa e variável (como câmbio ou ações de empresas) em diferentes proporções. "Em geral, se coloca 70% em renda fixa, em CDBS e títulos públicos, e o restante em variável. Rankings de retorno de fundos multimercados mostram diversas opções de ganhos entre 25% e 30% nos últimos 12 meses", assegura o professor da Pucrs.