13 de Agosto de 2020
  • Zero Hora
  • Em dia
  • P. 21
  • 64.00 cm/col

Fazendo acontecer

Começa com uma ideia brilhante. Depois vem a identificação da grande lacuna no mercado. Um propósito matador e um plano de negócio bem desenvolvido dão sequência ao processo. Investidores conquistados pela inovação e perspectivas de ganho. Finalmente, nasce um negócio candidato a unicórnio. Corta para a realidade: você se identificou com esse filme? Provavelmente não. Nem pensando no seu novo negócio, nem na sua vida de forma geral. E a razão é, simplesmente, porque não é assim que a grande maioria das coisas acontece no mundo real.

E foi pensando em entender a realidade como ela é, que a pesquisadora indiana Saras Sarasvathy, conduziu os estudos que culminaram no conceito de Effectuation. O que pode ser traduzido como efectuação é, de fato, o velho e bom "fazer acontecer". E era essa a intenção de Saras, reconhecida professora da área de empreendedorismo e negócios em todo o mundo, ao selecionar empreendedores de sucesso para sua pesquisa: entender como eles realmente fizeram as coisas acontecer.

Com os resultados, ela definiu, além do conceito de Effectuation, seus cinco princípios. O princípio do "pássaro na mão" diz que se deve iniciar com o que se tem, e não esperar as melhores condições. O princípio da "perda tolerável" orienta a se concentrar no quanto é possível perder - pois isso tem muita chance de acontecer - e não no quanto se quer ganhar - que pode não acontecer, pelo menos no curto prazo. O princípio da "colcha de retalhos" estimula a conectar-se com parceiros em busca da ampliação do acesso a recursos e oportunidades. O princípio da "limonada" aconselha a pensar sempre em como transformar desafios e problemas - que vão surgir - em oportunidades. E, por último, o princípio do "piloto de avião" diz que, já que não é possível prever o futuro, é importante controlar o que está ao nosso alcance para ir criando o amanhã.

Para a autora, esse processo não é necessariamente oposto ao que ela chama de Causation, que é o modelo do filme, em que as pessoas imaginam um futuro e acessam o que é necessário. Isso também pode acontecer, claro, mas em um número bem menor de casos. Tipicamente, quando se está em um momento estável e de poucas mudanças. Se é que esse roteiro existe, parece que não estamos nesse set no momento. Que tal, então, partir para fazer acontecer?

Consultora em inovação e empreendedorismo e professora da PUCRS gabi.cardozoferreira@gmail.com
GABRIELA FERREIRA